A variação do Bitcoin (BTC) está cada vez mais semelhante à do Nasdaq Composto, índice da Bolsa de Valores americana que concentra as empresas de tecnologia. Segundo levantamento feito pela Agência TradeMap, a correlação entre a cripto e o indicador está no nível mais alto desde o início do ano.
O índice de correlação mede como os valores de dois ativos diferentes se relacionam entre si. Ele varia de -1 a +1. Leituras negativas significa que os preços se movem em direção contrária, enquanto as positivas indicam que eles se movem na mesma direção.
No caso do Bitcoin e do Nasdaq Composto, a correlação entre ambos está em 0,84, segundo dados compilados até terça-feira (18). É a maior leitura observada neste ano.
De janeiro até outubro, a correlação média entre ambos está em 0,60, a maior desde 2015. Para fins de comparação, em 2021 o índice estava em 0,26.
A comparação entre o BTC e o Nasdaq é a mais usada pelos analistas financeiros por causa das semelhanças entre os mercados.
Por serem nativas do meio digital, as criptomoedas tendem a seguir o humor das empresas de tecnologia, sobretudo o das bluechips, a exemplo da Meta (antigo Facebook), Tesla, Microsoft e Alphabet, dona do Google.
“Os investidores de empresas de tecnologia são mais especuladores do que os de empresas mais tradicionais, por isso as criptos estão mais suscetíveis a comparações com essas empresas”, explica Virgílio Lage, especialista de criptoativos da Valor Investimentos.
Avanço na correlação do Bitcoin
Dados das oscilações do Bitcoin e do desempenho do Nasdaq mostram que a escalada na correlação começou em agosto, mês que ficou marcado pela volta do pessimismo com ações e outros ativos de risco, como as criptomoedas, após a breve recuperação em julho. Naquele mês, o nível foi de 0,51, passando para 0,67 em setembro.
Desde o início do ano, o Bitcoin registra desvalorização de 58,5%, enquanto o Nasdaq recuou 31,2%. No fim da manhã desta quarta-feira, a cripto tinha queda de 1%, negociada na faixa de US$ 19 mil, enquanto o índice de tecnologia cedia 0,3%, ao redor dos 10,7 mil pontos.
Os ativos de risco sofrem com a fuga de investidores diante do temor dos mercados globais de recessão econômica em meio à escalada dos juros pelo Fed (o banco central americano). A crise energética da Europa às vésperas do início do inverno e a desaceleração da economia da China com a adoção da política de “Covid Zero” também pesam contra.
Outro fator que explica o aumento da correlação entre o BTC e o Nasdaq Composto é a adesão dos investidores institucionais e grandes empresas aos ativos criptografados. Na segunda semana deste mês, a Google anunciou uma parceria com a Coinbase para permitir que os usuários dos serviços de nuvem paguem a conta com criptos.
Foi a segunda grande parceria que a Coinbase fecha em pouco mais de dois meses. No início de agosto, a exchange já havia firmado acordo com a BlackRock, maior gestora de fundos do mercado, para oferecer os seus serviços aos clientes.
Mercado em queda – até quando?
Nos últimos dias o Bitcoin apresentou uma certa resiliência, travando a cotação na faixa entre US$ 19 mil e US$ 22 mil – algo que também se observou no mercado de ações americano. Segundo Pedro De Luca, head de cripto da Levante Ideias de Investimentos, a resistência é reflexo das fortes quedas vistas no mercado nos últimos meses.
Além da influência negativa do cenário global, o mercado de criptoativos passou por uma série de crises de confiança em 2022 com o colapso de tokens, a queda de grandes empresas e as seguidas ações de criminosos contra plataformas.
“Vimos quedas muito acentuadas que fizeram a desvalorização [das criptos] maior do que no mercado tradicional”, afirma.
Craig Erlan, analista sênior de mercado da Oanda, ressalta que o atual patamar do BTC perdura há meses, sem sinais claros de virada. “Isso mudará eventualmente, mas agora estamos há dois meses nessa situação, então há pouco para sugerir que é iminente” uma guinada nos preços, afirma.
Lage, da Valor, afirma que sinais apontam para uma alta do mercado nos próximos ciclos. Um dos principais pontos é o fim da fase de acumulação de grandes investidores em meio aos preços descontados.
Também deve influenciar positivamente a diminuição do despejo de criptos no mercado por mineradoras.
Essas empresas, que investem em processamento de dados para conseguir criptomoedas, tiveram de se desfazer dos ativos durante a queda nos preços para lidar com o pagamento de dívidas.
“Muitas empresas, para não quebrar, venderam seus Bitcoins para pagar a garantia das suas alavancagens. Com a normalização do setor, há uma tendência da volta da mineração sem essa questão”, diz.