A resistência do Bitcoin (BTC) em se firmar acima de US$ 20 mil há mais de duas semanas indica que o inverno cripto ainda não acabou.
Assim como no primeiro semestre, o novo ciclo de baixa é puxado pelos sinais de aceleração dos juros americanos, e o temor de que o aperto monetário jogue a maior economia do mundo em recessão.
Não há sinais no horizonte para a mudança deste clima, ao menos não para uma reversão positiva. O Federal Reserve (banco central americano) foi bastante claro no fim de agosto que a alta dos juros vai se manter até o ponto em que a inflação – a maior em quatro décadas – esteja dominada.
Do outro lado do Atlântico a situação é mais grave. Também tendo que lidar com o maior aumento do custo de vida em décadas, a Europa está ainda mais atrás na subida dos juros. O cenário tende a ficar pior nos próximos meses com a proximidade do inverno, em meio à crise energética gerada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia.
Mais do que nunca, o mundo cripto gira em convergência com o cenário macroeconômico e em correlação com as Bolsas globais, sobretudo a Nasdaq, que concentra as ações de tecnologia.
Até que o cenário externo não dê sinais de melhora – leia-se sinalização de queda dos juros americanos – os ativos de risco em geral, em especial os criptoativos, deve continuar sofrendo.
“O fim do inverno cripto vai ser quando o Fed voltar a pensar em cortar juros. Nesse contexto, já vai ter passado a inflação e a recessão”, afirma Ayron Ferreira, analista-chefe da Titanium Asset Management. “Mas ainda temos um longo caminho pela frente”.
Na mesma linha, André Franco, head de research do Mercado Bitcoin, afirma que a tendência é que o mercado piore antes de apresentar sinais de reversão para um ambiente mais calmo.
“Olhando todo o contexto, ainda estamos em um bear market [mercado em queda]. Nesse ponto, a única situação que serviria de gatilho para a melhora seria o Fed sinalizar um corte nos juros”, afirma.
Até onde vai?
Após cair quase 60% no primeiro semestre, o Bitcoin mostrou reação em julho, mas o fôlego não durou muito e em agosto a cripto devolveu quase toda a recuperação.
O clima negativo se estendeu para setembro, com a criptomoeda lutando para se manter acima de US$ 19 mil. Para Franco, caso esse patamar seja perdido, a próxima parada deve ser na casa de US$ 15 mil, a mais baixa desde novembro de 2020.
O quadro negativo acompanha a percepção do mercado de que os juros vão subir de forma mais agressiva do que o esperado há até pouco tempo.
Pesquisa do CME Group mostra que a maioria dos investidores aposta em mais duas altas de 0,75 e uma de 0,25 ponto percentual até o fim do ano, elevando a banda da taxa de juros americana para algo entre 3,75% e 4%.
“Uma surpresa negativa, como uma alta de 1 ponto percentual ou um discurso mais duro do Fed, poderia trazer a cotação do Bitcoin ainda mais para baixo”, afirma.
A mudança na percepção na política monetária depende da percepção do Fed de que a inflação está sob controle. Os números, porém, não vão nessa direção. O mercado de trabalho ainda se mostra forte, enquanto a crise energética na Europa tende a respingar no aumento de preços em todo o globo.
Para os analistas, apenas no segundo semestre de 2023 é possível imaginar uma mudança na estratégia monetária. Até lá, o mercado deve andar de lado, com sobressaltos para cima e para baixo, mas com o Bitcoin limitado na faixa de aproximadamente US$ 23 mil.
“A tendência é que siga o inverso dos juros. Quanto mais precificada estiver a alta de juros, mais baixo o Bitcoin vai ser testado”, diz Franco.