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É bolha ou ressaca? Apesar de Bitcoin derreter em 2022, ainda há quem espere recuperação

Maior cripto é negociada abaixo de US$ 20 mil, o pior patamar desde o fim de 2020, mas cenário era completamente diferente; entenda

Foto: Shutterstock

O Bitcoin terminou o primeiro semestre de 2022 valendo quase um terço do que valia em 2021. Em seis meses, a criptomoeda despencou 60%, saindo de US$ 47 mil para a atual cotação de US$ 19 mil, conforme dados do Mercado Bitcoin disponíveis na plataforma TradeMap.

A última vez em que a cotação ficou tão baixa foi em dezembro de 2020, mas naquele momento a situação era totalmente distinta, porque o BTC se encaminhava para um ciclo de alta nunca visto até então.

Em novembro de 2021, a cotação bateu o topo histórico de US$ 69 mil – valorização de 245% em menos de dois anos. O volume de investimentos também nunca havia sido tão alto, com mais de US$ 3 trilhões em circulação. Hoje, há menos de US$ 1 trilhão aplicados.

Gráfico com a queda do Bitcoin no primeiro semestre de 2022

Este movimento nos preços do Bitcoin, com alta nos preços acompanhada de euforia do mercado, e forte queda no período seguinte conforme os investidores perdem a empolgação, se assemelha bastante ao que especialistas chamam de bolhas financeiras.

Em suma, bolhas são formadas quando um determinado ativo passa a ser negociado por um valor muito acima do racional por causa da entrada massiva de investidores. Em um movimento cíclico, quanto mais os preços sobem, mais investidores entram.

“Há uma irracionalidade na formação do preço, fundamentada nas pessoas procurando incansavelmente aquele ativo mesmo que não tenha uma justificativa plausível”, define Eduardo Dotta, advogado e professor de Direito do Mercado Financeiro do Insper.

O processo, que pode se estender por anos, termina no estouro da bolha. Este é o momento em que todo o cenário de supervalorização fica insustentável e o mercado desaba, deixando um rastro de prejuízo que leva empresas e empregos para o ralo.

Como as bolhas se formam

A história do mercado financeiro é marcada por bolhas há décadas, e elas já atingiram diversos mercados – desde tulipas a imóveis.

Uma das mais famosas ocorreu no início dos anos 2000 e ficou conhecida como a bolha da internet. A década anterior foi marcada pela revolução digital, e milhares de empresas surgiram para surfar na nova onda das comunicações.

O mercado em ascensão chamou a atenção dos investidores, que começaram a apostar cada vez mais em novas ideias e projetos, mesmo que muitos não tivessem um plano de negócios muito plausível.

boom das techs fez com que o índice Nasdaq Composto subisse mais de 460% entre 1995 (817 pontos) e 2000 (4,5 mil pontos). Mas a euforia não poderia durar para sempre, e o entusiasmo logo se mostrou muito maior do que a capacidade de as empresas darem retorno.

Foi o estouro da bolha. Após atingir o pico em janeiro de 2000, o índice apontou para baixo e bateu 1,8 mil pontos no início de 2001. Salvo raros momentos de alta, a queda se manteve até o ano seguinte, alcançando o fundo do poço em julho de 2002 (1,1 mil pontos). Do pico até o chão, a Nasdaq desvalorizou 74%.

Tem bolha no Bitcoin?

O atual cenário das criptos se assemelha bastante ao movimento de bolha visto no início dos anos 2000. Mesmo assim, analistas e economistas não se sentem confortáveis em rotular a queda brusca como uma bolha.

Um dos principais motivos é por considerarem que os criptoativos são incomparáveis aos outros tipos de investimento disponíveis no mercado.

Diferentemente do preço de uma ação, por exemplo, que em geral está ligado à capacidade de geração de caixa da empresa a qual está vinculada, a cotação de uma criptomoeda não se apoia em fatores facilmente mensuráveis.

“É mais fácil identificar [uma bolha] em um ativo que possa se precificar de maneira mais simples, como uma ação”, diz Wagner Varejão, analista e sócio da Valor Investimentos. “Em uma cripto é mais difícil. Qual o valor intrínseco? Qual o valuation [avaliação de preço]? Essa é a grande questão.”

A valorização recorde do Bitcoin e de outros ativos digitais em 2021 ocorreu em meio a uma onda de distribuição de dinheiro por bancos centrais e governos ao redor do mundo, resultante de medidas para mitigar os efeitos econômicos negativos causados pela pandemia da Covid-19.

Isso, somado a taxas de juros em mínimas históricas – que deixaram os investimentos em renda fixa pouquíssimo atraentes -, fez os investidores buscarem opções mais rentáveis e arriscadas para multiplicar o patrimônio. As criptomoedas foram um dos alvos.

Francisco Levy, estrategista-chefe da Vitreo, afirma que o mercado cripto cresceu com base nos investidores que acreditam nos conceitos disruptivos destes ativos e em quem entrou no mercado para tentar se aproveitar da crescente valorização.

Segundo o especialista, a dinâmica de alta volatilidade do Bitcoin ajuda quem entra visando a especulação financeira. Essa é uma característica observada em outros ativos que passaram por situações de bolha nos preços, mas por si só é insuficiente para dizer que os preços estavam inflados demais. “Houve um viés especulativo que alavancou o negócio, mas falar que é bolha e que agora o mercado virou pó, é exagero”, afirma. 

Bitcoin já morreu e ressuscitou algumas vezes

Outros “anúncios de morte” do Bitcoin no passado, após fortes quedas de preço, e a “ressuscitação” da moeda com o alcance de novas máximas também evitam que o movimento do mercado nos últimos dois anos possa ser classificado como uma bolha formada por especulação financeira.

No primeiro grande ciclo de alta, no fim de 2017, o BTC bateu o teto de US$ 19 mil. Pouco mais de dois anos depois, no início de 2019, a cotação já havia despencado para US$ 3 mil. Movimentos semelhantes, mas com cifras maiores, se repetiram nos anos seguintes.

Para Isac Honorato, fundador da plataforma de análises e informações Cointimes, o quadro atual repete o visto no passado recente e serve como uma forma de “limpar” o mercado de projetos que não se mostram sustentáveis, ao mesmo tempo que fortalece as ideias mais sólidas.

O mesmo, ele afirma, ocorreu na bolha da internet, quando empresas como Apple, Amazon e Microsoft, sofreram, mas se tornaram ainda mais significantes com o passar do tempo.

“Os fundamentos das principais criptos não mudaram”, afirma. “Neste momento, projetos ruins somem e novas tecnologias acabam surgindo.”

Para onde vai o mercado?

Olhando pelo lado otimista, a cotação do Bitcoin ainda está elevada com base na média histórica do mercado, que tem um pouco mais de 10 anos.

Para os próximos meses, os analistas preveem a manutenção desse quadro de “andar de lado” até que as pressões que derrubaram as criptos e os ativos de forma geral se dissipem. Até lá, porém, novas quedas não estão descartadas.

“Vemos uma simetria possível de mais correções no curto prazo, porém a lei da oferta e da demanda é como a lei da gravidade: não se briga com ela”, diz Diogo Scariot, assessor de investimentos da Alta Vista Investimentos.

Na mesma linha, Honorato diz que o momento é de oportunidade para a compra de novos ativos de vista no próximo ciclo de valorização, previsto para 2024 com o fim do atual ciclo de halving, quando a capacidade de mineração de novos Bitcoins cai pela metade.

“A alta de 2017 foi com a entrada de pessoas físicas, em 2020 foi com institucionais. Ainda não se sabe o que vai impulsionar a próxima”, afirma.

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