O que estava péssimo no mercado de criptoativos conseguiu ficar pior, e ainda é muito precipitado afirmar que o mercado já chegou ao fundo do poço após Bitcoin (BTC) e companhia atingirem os menores preços em mais de dois anos.
Os que estão menos pessimistas acham que a atual sangria do mercado abre oportunidade para novos aportes ou aumento de posição. Todos, no entanto, concordam que o investidor disposto a fazer isso precisará ter estômago forte, porque a chance de novas quedas de preço no curto prazo é alta.
O colapso da FTX há pouco mais de duas semanas jogou a cotação das principais moedas aos níveis mais baixos desde o fim de 2020. Porém, dois anos atrás, o mercado estava em franca expansão e caminhava para atingir patamares inéditos que culminaram em valores recorde para as principais criptos em novembro de 2021.
A situação de agora é justamente a oposta. Desde a máxima histórica, o Bitcoin (BTC) perdeu mais de 76% do valor, e atualmente oscila perto de US$ 16 mil. Somente na última semana, a cripto desvalorizou 3%, segundo dados da CoinGecko.
O Ethereum (ETH) passa por situação semelhante. A expectativa de valorização após a atualização da blockchain, em setembro, não se concretizou, e a segunda maior cripto do mercado amarga queda de quase 77% desde novembro do ano passado, atualmente no patamar de US$ 1,1 mil.
Desconfiança generalizada
Após o colapso da FTX, que deve mais de US$ 3 bilhões apenas para os 50 maiores credores, o mercado de cripto passa por uma crise de confiança generalizada.
A empresa era vista como uma das cinco maiores do mercado. A dúvida é: se uma corretora desse tamanho quebra, como está a situação financeira das outras empresas?
Outra grande empresa cripto, a Genesis, virou alvo da desconfiança recente após impedir investidores de sacar recursos oferecidos para empréstimos. A empresa está em busca de US$ 1 bilhão para sanear as contas, mas até o momento ninguém se dispôs a fazer o resgate.
Temendo perder dinheiro, os investidores tiraram cerca de US$ 236 bilhões do mercado cripto apenas no mês de novembro. Olhando para todo o ano, a saída chega perto de US$ 1 trilhão.
Pedro de Luca, head de cripto da Levante Ideias de Investimento, ressalta que os desdobramentos da FTX devem continuar dando o tom pessimista nas próximas semanas até que os investidores voltem a acreditar na solidez das empresas.
Para o especialista, o cenário ainda está cercado de volatilidade, e novas quedas de até 30% – o que deixaria o BTC próximo dos US$ 10 mil -, não podem ser descartadas para os próximos dias ou semanas.
“A grande questão é qual será o cenário. Muitas informações de fundos de criptos e exchanges não são públicas, então não se sabe exatamente como está a saúde financeira das empresas”, explica.
Seguindo na mesma linha, André Franco, head de research do Mercado Bitcoin, afirma que a imagem do mercado ainda está muito nebulosa e sem pistas claras para qual direção a situação irá inclinar.
“Não está muito claro para o mercado quais seriam as consequências práticas e quais outras empresas seriam contagiadas por esse efeito [de quebra]”, destaca.
Diante das incertezas, quem está dentro do mercado busca uma saída para evitar prejuízos ainda mais expressivos.
“O mercado prefere vender a posição, ainda mais em um cenário desafiador, com as criptos deixando de andar de lado com o mercado tradicional”, complementa o especialista do Mercado Bitcoin.
Oportunidade para entrar
Para quem está de fora, o momento de baixa pode ser uma oportunidade para começar a investir nos ativos digitais. Para os especialistas, a tendência é que o mercado sofra com novas quedas nos próximos dias, mas, no longo prazo, as principais apostas apontam para a valorização das criptos.
Olhando para o fim de 2023, Luca projeta alta do Bitcoin para acima de US$ 20 mil. O quadro, afirma, deve ser beneficiado pelo fim do ciclo de alta dos juros americanos e pela estabilização da economia global.
“Hoje nós estamos no olho do furacão em uma situação de muito caos. Daqui a um ano, a tendência é que as coisas estejam mais claras. A incerteza é o maior vilão do Bitcoin neste momento”, afirma.
Olhando para os dados da rede, Franco pontua que a busca de investidores que miram o longo prazo também mostrou alta nos últimos dias, em contraponto às novas quedas das cotações.
“[Os investidores estão] voltando a acumular e a maturar os Bitcoins, o que dá mais segurança para não ver quedas tão grandes daqui em diante”, cita.
Com uma perspectiva menos otimista, Craig Erlam, analista sênior de mercados da Oanda, destaca que qualquer nova elevação nos próximos dias poderá ser um “voo de galinha” enquanto a situação do mercado não estiver pacificada. “A confiança nos mercados foi abalada e pode levar algum tempo para ser reconstruída”, destaca.