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Denis Morante Colunista

Denis Morante

Sócio-diretor da Fortezza Partners, empresa especializada em fusões e aquisições. Formado em Administração de Empresas pela FEA/USP, possui MBA com ênfase em finanças pela Wharton School da Universidade da Pensilvânia, nos EUA. Foi head do time de M&A Middle-Market do Credit Suisse e gerente da Arthur Andersen em São Paulo.

Seria inimaginável? Consolidação chega também às gestoras de recursos

Duas peças de quebra-cabeça azuis gigantes acima de uma selva de prédios cinzas de uma grande cidade.

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Nos últimos anos, temos assistido a um consistente movimento de aquisição de participações minoritárias em gestoras independentes de recursos no Brasil.

Isso é recente, mas explicado pela performance da indústria, que começou a ganhar os contornos atuais no início dos anos 2000. Nesse período, o Brasil já convivia há alguns anos com baixos patamares inflacionários e taxas de juros que, apesar de elevadas, tinham uma tendência de queda no longo prazo.

A maioria dessas gestoras independentes começou a se constituir a partir do final da década de 1990. Uma das grandes representantes desse movimento é a Verde, que surgiu inicialmente como o principal fundo multimercado da corretora Hedging-Griffo.

Aliás, uma curiosidade: o fundo se chama Verde não pelo fato de Luis Stuhlberger, gestor ícone do mercado e líder do fundo desde seu início, ser palmeirense ou por conta da nota de dólar ser chamada de “verdinha”. Na verdade, este era um fundo de café. O nome vem daí, dado que o café é verde.

Bem, a partir dele e, talvez, de outros fundos, muitos gestores de recursos que deixavam tesourarias de grandes bancos preferiram aplicar seus talentos por conta própria e montar empresas independentes.

No início dos anos 2000, a própria Hedging-Griffo fomentou uma indústria que hoje é completamente cristalizada no Brasil, que são os fundos de terceiros distribuídos pelos private bankings e gestores de patrimônio.

Na época, a Hedging-Griffo começou a distribuir o Tarpon e o Skopos. Essa tendência se consolidou, e até hoje vemos talentosos profissionais empreendendo nesse caminho.

Afinal de contas, não é nada mau ter uma gestora com R$ 30 bilhões sob gestão, considerando-se que as taxas de administração e desempenho praticadas geram, seguramente, por performance, R$ 300 milhões como receitas anuais. E essas estruturas têm, em geral, de 30 a 50 pessoas. É um excelente negócio. Porém, para poucos. Não basta sorte, tem que haver muito talento e resiliência.

Por serem estruturas independentes, não se imaginava que elas passariam por movimentos de consolidação e M&A (fusões e aquisições). Com essas estimativas de receitas anuais e a liberdade total, quem deixaria esse privilégio?

Vemos, contudo, que essa tendência de consolidação começou há uns poucos anos e tomou bastante relevância ultimamente, conforme se observa na tabela abaixo.

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Como não poderia deixar de ser, a Verde, umas das primeiras gestoras independentes a surgir, foi também uma das precursoras nesse movimento. Em 2015, a empresa foi constituída a partir da cisão do negócio Verde, por sua vez surgida da Credit Suisse Hedging-Griffo. Criou-se então a Verde, na qual o Credit Suisse detinha 25% e Luis Stuhlberger e seus sócios, o controle, com 75%.

Ali estava estabelecido o que vem acontecendo até o momento, ou seja, a aquisição de participações minoritárias.

Nos últimos três anos, desde um pouco antes da pandemia, finalmente XP e BTG entraram para valer nessa disputa pelos gestores independentes. A evolução do número de transações foi evidente.

Em 2019, foram poucas. Um ano depois, o número mais que duplicou e, apenas em 2021, contabilizou-se 20 transações, de acordo com a tabela acima. Estas instituições têm privilegiado aquisição de gestores focados em ações, multimercado, crédito, imobiliário e private equity.

Estrelas

Com isso, ficam perguntas que não querem calar: uma vez que os gestores independentes mais bem-sucedidos têm acesso a recursos, clientes etc., por que fazem esse movimento? E no caso dos grandes instituições como XP e BTG, uma vez que possuem áreas enormes dedicadas à gestão de recursos, qual o objetivo de fazer essas aquisições?

No caso dos gestores, nem todos conseguem atingir o Olimpo, ou seja, se tornar empresas que gerem um volume de recursos que levem a um negócio extremamente lucrativo. Atualmente esse patamar está em um mínimo de R$ 5 bilhões sob gestão, a depender da expertise da gestora.

Alguns vão além porque conseguiram, a partir de um bom acesso aos bolsos dos grandes clientes brasileiros, o privilégio de ter os clientes solicitando acesso aos seus fundos. Mas, por serem excelentes gestores de recursos, ou seja, serem os artilheiros, nem sempre estão preparados ou têm a dedicação para serem excelentes CEOs.

Daí vem a motivação para se institucionalizarem por meio de uma transação com instituições renomadas. Essas empresas trazem governança, institucionalização, valorizam as suas cotas para eventuais transações e podem construir algum caminho futuro de liquidez para si e seus sócios.

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No caso das grandes instituições, a justificativa é simples: voltar a ter acesso aos talentos estelares do mercado que saem dos bancões por não enxergarem oportunidades de crescimento. Quando um desses talentos decide que é hora de montar sua gestora independente, essas instituições perdem uma estrela.

Nem todos florescem, mas aqueles que desabrocham passam a ser cobiçados no mercado e daí os bancos começam a desejar ter acesso às excelentes rentabilidades de negócios por meio dessas operações de aquisições.

Para sempre?

Então chegamos à pergunta de R$ 1 milhão (ou R$ 1 bilhão): haverá um desenlace ou serão sócios para todo o sempre? Ainda não se vê sombra desse movimento, mas minhas apostas seriam as seguintes:

1 – Bolsa

Alguns desses grandes bancos e corretoras estão colocando essas participações minoritárias sob veículos que poderiam ser listados no futuro em bolsa de valores. Ou seja, talvez a saída seja formar um portfólio (de várias gestoras) líquido e listado no mercado de capitais. Isso seria interessante, pois traria uma boa alternativa de investimentos em bolsa.

2 – Permanência

Não haverá desfazimento, ou seja, as sociedades perdurarão por muito tempo. Isso ocorrerá se os gestores independentes forem capazes de manter as suas sociedades em constante sucessão de talentos.

3 – Write-off

Caso não exista uma sucessão capaz de substituir à altura o fundador ou fundadores, poderia haver recompra pelas gestoras ou simples write-off (termo contábil que, basicamente, significa dedução de despesas para cálculo de resultados ou baixa de valor num ativo) pelos investidores. Se ficarem no mínimo uns dez anos no investimento, terão certamente obtido excelentes retornos pelo capital investido.

Bem, vale prestarmos atenção ao futuro da indústria de gestores independentes. É natural continuar surgindo novos talentos, que empreenderão de forma independente, e grandes bancos à espreita para levarem essas peças aos seus tabuleiros.

E nós, aqui do mercado financeiro, seguimos acompanhando as cenas dos próximos capítulos para saber como será a evolução desse setor.

 

*As opiniões, informações e eventuais recomendações que constem dos artigos publicados pela Agência TradeMap são de inteira responsabilidade de cada um dos articulistas. Os textos não refletem necessariamente as posições do TradeMap ou de seus controladores.

*As opiniões, informações e eventuais recomendações que constem dos artigos publicados pela Agência TradeMap são de inteira responsabilidade de cada um dos articulistas. Os textos não refletem necessariamente as posições do TradeMap ou de seus controladores.

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