Provisões trabalhistas da Via (VIIA3) devem continuar pesando nos resultados; o que esperar daqui em diante

Impactos negativos de provisões trabalhistas ainda aparecerão no próximo trimestre

A Via (VIIA3), controladora das Casas Bahia e Ponto, teve seu resultado do terceiro trimestre impactado negativamente por provisões trabalhistas e pelo fechamento de 100 lojas físicas.

A companhia anunciou na quarta-feira, 10, que teve lucro líquido ajustado de R$ 101 milhões entre os meses de julho a setembro, com elevação de apenas 1% se comparado ao mesmo período de 2020.

Ao se observar o lucro líquido contábil, porém, o prejuízo foi de R$ 638 milhões, ante o lucro líquido de R$ 590 milhões do terceiro trimestre de 2020, muito impactado por provisões de R$ 810 milhões para processos trabalhistas.

E o prejuízo só não foi maior porque a Via acabou reconhecendo em seu resultado créditos tributários.

A companhia ainda destacou que espera mais impactos negativos de provisões trabalhistas para o próximo trimestre. As previsões são de impactos entre R$ 900 milhões e R$ 1 bilhão, em 2022, de R$ 500 milhões a R$ 600 milhões, em 2023, e de R$ 300 milhões a R$ 400 milhões, em 2024. No entanto, a varejista ainda tem créditos tributários no valor de R$ 9,5 bilhões a serem creditados ao longo dos anos até 2027.

A divulgação de seu desempenho mais negativo do que o esperado, e o anúncio das provisões, se refletiram negativamente sobre suas ações, que fecharam em queda de 12,48%, a R$ 6,17.

 

Cotação VIIA3
Fonte: TradeMap

Mesmo antes da divulgação do resultado, as ações da Via já vinham com desempenho pior que a concorrente Magalu (MGLU3), diante da entrada tardia em sua jornada de transformação digital.
VIIA3 x MGLU3
Fonte: TradeMap

No comparativo anual, as ações das companhias de varejo vêm apresentando fortes quedas, refletindo as expectativas de piores resultados, dada a escalada da inflação e as sucessivas elevações na taxa de juros, com impacto sobre o poder de compra dos consumidores.

Avanço no online tenta segurar desempenho, mas lojas físicas prejudicam

No terceiro trimestre, a receita líquida da Via caiu 5,9% em comparação a igual período de 2020, para R$ 7,3 bilhões. O faturamento do período foi afetado pelo menor resultado das vendas de suas lojas físicas (-16,6%), após o descasamento entre a retomada do plano de expansão de abertura de lojas e o fechamento de cem lojas nos últimos nove meses. No critério “mesmas lojas”, a queda no trimestre foi de 13,8%.

O cenário continuará bastante desafiador para a Via pelo aspecto macro brasileiro e um ambiente concorrencial bastante desafiador.

No entanto, a companhia vem aumentando o volume de vendas no online, principalmente no segmento marketplace (3P). As vendas digitais representaram 59,8% do GMV – vendas brutas de mercadoria total, nesse terceiro trimestre. O GMV total cresceu 5,7% na base anual, com destaque para a expansão do e-commerce. O estoque próprio (1P) subiu 9,6% e o marketplace (3P), 138%.

Foto: Via / Divulgação
Fonte: Via

A expectativa da Via é continuar crescendo o GMV online, com expectativa de alcançar no mínimo 20% de participação de mercado em 2025, ante os atuais15,9%.

Soluções financeiras como via de crescimento

Além da continuação da transformação digital, a Via pretende crescer o portfólio em soluções financeiras, incluindo o banQi.

No terceiro trimestre, o número de clientes totais avançou 47% frente a igual intervalo de 2020, chegando a 10,3 milhões, e o volume total de pagamentos (TPV) teve alta de 23% no ano, para R$ 10 bilhões.

A companhia segue avançando em suas iniciativas para o lançamento do crediário para o marketplace, previsto para entrar em operação no quarto trimestre.

Quanto às lojas físicas, o cenário é um pouco mais complicado, embora a companhia pretenda inaugurar cerca de 70 lojas de outubro a dezembro, totalizando 110 inaugurações no ano de 2021.

O que esperar dos próximos resultados da Via?

Segundo dados compilados pela Refinitiv, grande parte dos analistas que acompanham a empresa recomendam a manutenção dos papéis, mesmo que a mediana do preço-alvo de R$ 15,75 esteja com up-side acima dos 100%, sobre o patamar atual dos papéis, de R$ 6,98 no fechamento de 10 de novembro, conforme mostra a plataforma do TradeMap.

 

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Fonte: Refinitiv

No entanto, vale salientar que grande parte dos analistas não esperavam a elevada provisão dos processos trabalhistas, o que pode ocasionar revisões futuras em suas projeções.

Outro fator de impacto nos números da Via, foi a redução em sua posição de caixa líquido nos últimos 12 meses. A companhia apresentou redução na posição de caixa líquido ajustado em R$ 2,7 bilhões em função da sua decisão em aumentar a posição de estoque a fim de evitar falta de produtos, para atender a maior demanda de final de ano e também por conta dos maiores investimentos realizados no período.

Vale destacar que entramos no período de maior volume de vendas para as empresas varejistas, com a Black Friday e as vendas de Natal. Esperamos que a Via venha a apresentar melhor faturamento, tanto pelo crescimento do seu canal online quanto pela abertura de lojas, já anunciada. No entanto, os efeitos das provisões ainda continuarão a afetar seu desempenho para os próximos períodos.

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