Após dias de fortes turbulências, a Ambipar (AMBP3) viveu uma das quedas mais bruscas da história recente da B3. Na quinta-feira (25), as ações da companhia despencaram 24,24%, a segunda maior queda diária desde sua abertura de capital. O movimento ocorreu após a empresa confirmar que obteve na Justiça uma tutela cautelar que a protege de credores por 30 dias, prorrogáveis por mais 30. Embora ofereça um fôlego temporário, a decisão escancarou a fragilidade financeira da companhia e abalou a confiança do mercado.
A medida foi motivada por disputas envolvendo títulos verdes (green bonds) que geraram um passivo de US$ 550 milhões. O principal conflito é com o Deutsche Bank, que passou a exigir garantias adicionais em contratos de derivativos. Caso as cláusulas de “cross-default” fossem disparadas, o rombo poderia chegar a R$ 11 bilhões. Como efeito imediato, uma dívida de US$ 119 milhões com o Santander, que venceria no mesmo dia, foi suspensa.
O impacto foi devastador. Desde 22 de setembro, quando anunciou a emissão de R$ 3 bilhões em debêntures para recomprar dívidas, a Ambipar já perdeu R$ 8,7 bilhões em valor de mercado. Naquela data, a companhia valia R$ 23,5 bilhões; poucos dias depois, após a saída do CFO e rumores sobre recuperação judicial, o valor encolheu para R$ 14,7 bilhões. Apenas no pregão de 25 de setembro, a queda representou uma perda de R$ 4 bilhões em um único dia.
O gráfico de valor de mercado mostra essa derrocada de forma clara: do pico em 13 de dezembro de 2024, quando a Ambipar valia quase R$ 45 bilhões, até setembro de 2025, com pouco mais de R$ 14 bilhões, uma perda acumulada de R$ 30,1 bilhões.
No acumulado de 2025, as ações da Ambipar já recuam 31,92%, com a maior parte das perdas concentrada após o anúncio da emissão de debêntures e a saída do CFO.
O mercado de aluguel de ações também refletiu a crise. No dia 25, a taxa média de aluguel disparou para 272,89%, o maior patamar em 12 meses e o nível mais alto desde agosto de 2024. A taxa máxima negociada chegou a 400%, evidenciando a pressão sobre os papéis. No dia anterior, aproximadamente 83,54% das ações em circulação da Ambipar estavam alugadas, representando um aumento de 189,35 p.p. em relação ao dia anterior. Esse movimento reforça a relação inversa entre preço e custo de aluguel, destacando a sensibilidade do mercado às incertezas envolvendo a companhia.
A crise foi intensificada pela saída do CFO João Arruda, substituído interinamente pelo diretor de Relações com Investidores, Ricardo Rosanova. Para analistas, a mudança, somada à emissão de debêntures, elevou as preocupações com governança e liquidez.
Especialistas alertam que a tutela cautelar pode ser apenas o primeiro passo para uma recuperação judicial, o que traria riscos adicionais, como exclusão da ação de índices da B3 e possível diluição dos acionistas. Os papéis chegaram a cair 60% na mínima do dia, entrando em leilão especial, e os bonds no exterior passaram a ser negociados em patamares de distress, abaixo de 50% do valor de face.
Vale lembrar que em 2024 a Ambipar foi destaque absoluto da bolsa, com alta de mais de 700%, movimento que já gerava desconfiança e até investigação da CVM por suposta manipulação acionária envolvendo fundos ligados a Nelson Tanure e ao Banco Master.
Agora, com alavancagem acima de R$ 11 bilhões, presença em 40 países e um histórico de aquisições agressivas, a companhia corre contra o tempo para renegociar dívidas e preservar operações. Analistas recomendam cautela máxima: reduzir exposição pode ser prudente para quem já está posicionado, enquanto novos investidores devem considerar o risco elevado de “pegar a faca caindo”.
O desfecho das negociações com credores nas próximas semanas será decisivo para determinar se a Ambipar conseguirá se reerguer ou se caminhará para um processo formal de reestruturação.