Sanepar (SAPR11) privatizada pode ser mais eficiente e dobrar de valor? Veja o que dizem os analistas

Possibilidade de privatização da empresa animou o mercado, mas ainda é cedo para prever o quanto a ação pode subir

Foto: Shutterstock/Brenda Rocha - Blossom

Sempre quando entra um novo governo novo, seja estadual ou federal, a principal pergunta que permeia o investidor é: será que alguma empresa estatal será privatizada?

Pelo sim ou pelo não, num primeiro momento, a ação de uma estatal tende a valorizar mesmo que não tenha nada definido sobre o tema, uma vez que a mudança de governo por si só gera expectativa de que tal evento possa acontecer, mesmo que na maioria das vezes isso não se concretize.

Na mudança de governo mais recente, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já disse que nenhuma empresa estatal será privatizada. Por outro lado, nos estados, dois especificamente chamam a atenção por já ter ventilado a possibilidade de privatização de empresas estaduais.

Um dos estados é São Paulo, com a eleição para governador de Tarcísio de Freitas, conhecido por ter uma agenda liberal, que foi ministro da Infraestrutura no governo de Jair Bolsonaro.

Mas, ao que parece, um estado já saiu na frente quando o assunto é privatização. Após a reeleição, Ratinho Junior afirmou que deseja vender todas as participações que o governo detém nessas empresas.

E a sinalização saiu do papel rapidamente. Quase um mês após a reeleição, o governador do estado do Paraná anunciou, para a surpresa de todos, que o governo pretende deixar de ser acionista controlador da Copel (CPLE6), abrindo espaço para uma possível privatização, o que deixou o mercado atento com outra empresa do estado, a Sanepar (SAPR11).

A notícia de privatização da Copel fez as ações da empresa saltarem 22% no dia 21 de novembro, enquanto as units da Sanepar viram um avanço de quase 15% no mesmo dia, com o mercado apostando em um possível início de desestatização para a empresa de saneamento.

Como a empresa de energia deu o primeiro passo, o mercado começa agora a fazer contas para a Sanepar. Diante da possibilidade de privatização, os analistas passaram a apostar o quanto a ação da Sanepar poderia subir caso essa possibilidade vire realidade.

“O governo do Paraná se mostra favorável às privatizações e é algo que está ocorrendo em outros estados, isso cria a expectativa de que a empresa possa ser privatizada, mas não há outras informações além disso”, alertam Régis Chinchilla e Luis Novaes, da Terra Investimentos. 

O que o mercado acha de tudo isso

Pelas contas da Genial Investimentos, em relatório, a ação da Sanepar pode dobrar de preço, atingindo R$ 38,40, em um cenário mais conservador. Num cenário mais otimista, porém, o preço das ações poderia chegar a R$ 88,30, uma alta de mais de 300% em relação ao patamar atual, de R$ 17,05.

Ontem, as ações da empresa de saneamento terminaram o pregão com valorização de 1,19%. Na visão da corretora, a privatização da Sanepar pode “destravar muito valor”.

Para Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, uma empresa privada é muito mais eficiente que uma estatal, tanto em alocação de capital quanto no tamanho do quadro de funcionários.

Ou seja, uma empresa privatizada consegue operar com menos amarras e burocracias. “Isso traz mais eficiência para a empresa, e os ativos refletem essas mudanças e passam a ser mais remunerados”, comenta Moura.

Segundo os analistas da Terra Investimentos, essa estimativa de que a Sanepar pode “dobrar de preço” é baseada em uma avaliação por múltiplos, além de avaliar casos de estatais que já foram privatizadas e hoje possuem “muito valor”.

“Isso é uma projeção, mas as empresas que são privatizadas costumam apresentar melhorias operacionais que levam à maiores rentabilidades, justificando à valorização”, explicam os analistas da Terra.

E qual é esse múltiplo?

Neste caso especificamente de “valorização” de uma empresa, o múltiplo mais utilizado para saber se uma estatal tem potencial de crescimento é o EV/RAB, que calcula o valor de mercado de uma empresa em relação à sua base de ativos regulatórios.

No caso da Sanepar, o BTG Pactual calcula que a empresa tenha um EV/RAB de 0,64 vezes e, por isso, considera a empresa a mais “barata” dentre seus pares, já que ela é mais sucetível a um possível risco regulatório.

Se esse valor do múltiplo é menor do que 1 (uma) vez, significa que a ação de uma empresa está valendo menos do que seus patrimônios.

O caso mais recente de privatização é a Eletrobras (ELET3; ELET6). Moura, da Finacap, diz que a empresa de energia negociava antes da capitalização a 0,6 vezes o valor patrimonial. Atualmente, no entanto, a companhia é negociada a uma vez esse valor. “O próprio preço da ação se ajustou muito nesse processo”.

De fato, do começo do ano para cá, quando os burburinhos sobre a privatização da empresa ficaram mais fortes, a ação da Eletrobras disparou mais de 30%.

Moura acrescenta ainda que outras estatais brasileiras que estão na Bolsa também negociam abaixo do valor de seus ativos. Ele cita a estatal paulista Sabesp (SBSP3), que negocia a 80% do ativo, e a Copasa (CSMG3), vinculado ao governo de Minas Gerais, que negocia a 0,6 vezes.

“Isso mostra o quão depreciado essas empresas negociam. Se ela negocia abaixo do ativo, significa que ela não explora o potencial completo. Normalmente uma privatização é capaz de mitigar boa parte dessas ineficiências, como temos visto na Eletrobras”, afirma o sócio e analista da Finacap Investimentos.

De acordo com a Genial, empresas privadas de distribuição de energia elétrica (os cases com maior similaridade e regulação com saneamento) chegam a negociar de 2 vezes a 2,5 vezes seus ativos regulatórios.

Mas tem riscos?

Na avalição da Genial, o plano de investimentos da Sanepar para 2023 a 2027, anunciado na semana passada, é negativo para a tese da empresa, uma vez que a segunda revisão tarifária periódica da companhia, que deve vigorar a partir do ano que vem, não reconhece a totalidade de investimentos entre um ciclo e outro.

No quinquênio, a empresa de saneamento do Paraná pretende investir R$ 10,7 bilhões, sendo R$ 2 bilhões em 2023, R$ 2,5 bilhões em 2024 e 2025, R$ 2 bilhões em 2026 e R$ 1,6 bilhões em 2027.

De acordo com Vitor Sousa, analista da corretora, em condições normais, o aumento dos investimentos deveria ser comemorado por investidores, já que deveria contemplar maiores conexões (volume faturado), mudança nos medidores e redução de perdas.

Com isso, a corretora alerta que uma eventual mudança de postura do regulador (Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Paraná (Agepar) pode fazer com o que os analistas revejam o posicionamento.

“Por enquanto, estamos céticos quanto a essa possibilidade devido aos fluxos de notícias relacionado a revisão tarifária, principalmente no que diz respeito ao reconhecimento dos investimentos na revisão passada”, diz o analista.

Projeções da refinitiv ainda não projetam preço em dobro

Como a privatização da Sanepar é, por enquanto, apenas rumores, as projeções feitas por casas de análise e bancos compiladas pela Refinitiv e disponíveis na plataforma do TradeMap ainda não projetam essa valorização.

Das 10 projeções de preço-alvo que as units da empresa possuem, o preço máximo é de R$ 28, o que traria um upside de 60% em relação ao preço de fechamento desta terça-feira (20), que foi de R$ 17,50.

Já a mediana dos preços-alvo é de R$ 23, o que traria uma valorização de 31,4% em relação ao fechamento de ontem.

Em relação as casas consultadas, a Terra Investimentos recomenda a compra dos papéis e possui preço-alvo em R$ 26 para as units da Sanepar, uma valorização de 48,57% em relação ao fechamento desta terça (20).

A Genial, por sua vez, possui recomendação de manutenção para a Sanepar, já que a privatização ainda não saiu do campo das ideias e preço-alvo de R$ 24, o que significa uma valorização de 37,14% em relação ao fechamento de ontem.

Por fim, o BTG tem recomendação neutra para a estatal paranaense e preço-alvo de R$ 24, uma valorização de 37,14% em relação ao fechamento desta terça.

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