O mercado de vizinhança Oxxo já conta com 128 lojas no Brasil e tem um plano de expansão para chegar a 309 até março de 2023. A expansão é comandada por Raízen (RAIZ4) e Femsa (FMXB34), sócias na joint venture que administra o Oxxo no Brasil e também as 1,2 mil lojas Shell Select.
A parceria é uma união de interesses. A empresa de energia Raízen quer a experiência da Femsa para oferecer um melhor sortimento nas lojas de conveniência – postos de gasolina com esse serviço possuem frequência maior. Já a mexicana Femsa tem ao seu dispor os dados já coletados pelas lojas do Shell Select, que ajudam a determinar os produtos e os melhores locais para as novas lojas Oxxo.
A parceria entre Raízen e Femsa teve início em agosto de 2020, quando foi criado o Grupo Nós, que assumiu as lojas de conveniência e que cuida do plano de expansão do Oxxo. A primeira loja foi inaugurada em novembro de 2020 e, até o final de março de 2022, o número já chegava a 128, segundo reportagem do UOL.
O negócio ainda representa muito pouco em relação ao tamanho da Raízen. No ano fiscal de 2021/22 (março de 2021 a março de 2022), a empresa de energia registrou R$ 196,3 bilhões em receitas, crescimento de 57,1%, e lucro de R$ 3 bilhões (mais de três vezes).
Já o faturamento do Grupo Nós foi de R$ 261,9 milhões no mesmo período, um crescimento de 129% segundo o DFP (demonstrativo financeiro padronizado). A operação resultou em um prejuízo de R$ 21,6 milhões, ante lucro de R$ 15,4 milhões no ano anterior – metade desse resultado é contabilizado na conta da Raízen por equivalência patrimonial.
Apesar do resultado pequeno em relação ao que é a Raízen, a expectativa é que o Grupo Nós ganhe mais escala, o que também pode contribuir indiretamente para um dos negócios da Raízen, que é a distribuição de combustíveis, segundo o analista Leonardo Alencar, head da área de agro, alimentos e bebidas da XP.
“No curto prazo, o peso do varejo é muito pequeno para a Raízen, mas isso vai crescer. E ainda há o efeito na distribuição de combustível, em que é possível ganhar participação de mercado sem sacrificar a margem”, diz.
A Raízen possui três divisões principais. A primeira é a de combustíveis renováveis, em que a maior parte da receita vem do etanol, mas na qual a empresa tem investido em outros biocombustíveis. Há ainda o negócio de açúcar e o de marketing e serviços, em que se encaixam a distribuição com os postos da Shell e a área de conveniência – que foi absorvida pelo Grupo Nós.
“A área de distribuição tem uma convergência muito forte. É uma rede muito capilarizada, com mais de 7 mil postos, e agora está incorporando essa dinâmica de varejo”, conta.
Experiência em expansão
Para Ana Paula Tozzi, presidente da consultoria de varejo AGR, a parceria com a Femsa é o sinal de que a Raízen quer tirar mais desse segmento de varejo no Brasil e por isso se associou com a mexicana, que é a detentora da marca Oxxo. São mais de 20 mil lojas da marca no México.
“A Femsa está trazendo esse conhecimento em mercado de vizinhança e em sortimento de produtos por tipo de loja para o Brasil. Já a Raízen tem todo o potencial de crescimento das lojas de conveniência e dados de consumo da Shell Select”, diz.
Tanto os mercados de vizinhança como as lojas de conveniência têm em comum serem negócios voltados para atender necessidades de última hora do cliente, o que vai variar de acordo com a localidade.
Nesse modelo, as margens costumam ser maiores. Em um momento de inflação mais elevada, como o atual, as lojas de proximidade possuem mais “gordura”, conseguindo amenizar o repasse de preços.
“Mesmo neste momento de forte inflação, de forma geral o canal não foi o que mais repassou preços. Na verdade, o acumulado do último ano mostra que enquanto os supermercados de vizinhança tiveram um repasse de 17%, os supermercados e o “cash and carry” (atacarejo) repassaram 18,6%”, explica Jonathas Rosa, executivo de varejo da NielsenIq, consultoria especializada em consumo.
Os supermercados de vizinhança ou proximidade são marcados pelas lojas de bairro, não ligadas a nenhuma rede. É o famoso mercadinho, que não tem o poder de negociação de uma rede mais estruturada. Por outro lado, Tozzi acredita que, com o avanço do Oxxo, outras redes aumentem os investimentos nas lojas de proximidade. No caso do Pão de Açúcar (PCAR3), seriam as lojas Minuto Pão e no Carrefour (CRFB3), o Carrefour Express.
Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese Retail, explica que o modelo do Grupo Nós, tanto para a marca Oxxo quanto para a Shell Select, exigem uma escala elevada, o que justifica o plano de expansão acelerado.
“É um modelo voltado para áreas com densidades de pessoas. O ticket médio (valor da compra) será pequeno, então é preciso ter uma frequência maior. A logística de entrega também precisa ser dedicada”, diz.
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