O clima de incertezas globais com o aumento do temor de recessão nas principais economias do mundo e a disparada dos juros no Brasil fizeram a captação de mercado de capitais recuar 12,1% no primeiro semestre em comparação ao mesmo período do ano passado.
Os dados foram divulgados pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), na tarde desta quinta-feira (7).
Entre janeiro e junho, o setor registrou a captação de R$ 233 bilhões. A maior parte deste valor veio da arrecadação de R$ 202 bilhões nos investimentos em renda fixa, que tiveram alta de 25% no período.
No caminho oposto, a renda variável despencou 75,1%, com saldo de R$ 19 bilhões. Já a captação em mercados híbridos derreteu 56,1% e fecharam o primeiro semestre com R$ 12 bilhões.
José Eduardo Laloni, vice-presidente da Anbima, destacou que a fuga de investidores de ativos com maior risco para a segurança de produtos com mais previsibilidade é um movimento visto no mundo todo e que também foi responsável pela queda dos fundos de renda variável no semestre.
A captação líquida dos fundos de investimento registrou queda de 97% no primeiro semestre em comparação ao mesmo período de 2021, segundo dados também da Anbima divulgados nesta quarta-feira (6).
“Teve um fenômeno global, que é o aumento das taxas de juros, e a aversão ao risco mundial”, afirmou.
Debêntures se destacam
No guarda-chuva da renda fixa, os debêntures foram destaque com a soma de R$ 133,8 bilhões no período, um avanço de 35,3%. O montante é mais da metade do total arrecado pelos mercados em todo o semestre.
Foram 225 emissões de debêntures no período, sendo 49 delas com valor acima de R$ 1 bilhão. “Isso mostra que o mercado de capitais vem consolidando uma capacidade relevante de financiamento para as empresas”, disse o vice-presidente.
O setor de energia elétrica foi responsável pela maior parte das emissões, com R$ 33 bilhões. Já o prazo médio das ofertas foi de seis anos e 36,7% dos recursos foram destinados para o aumento da capital de giro.
Também na renda fixa, a Anbima destacou o crecimento de 53,9% dos Certificados de Recebimento do Agronegócio (CRAs), usados para financiar projetos no campo. Ao todo foram R$ 16,1 bilhões. Os CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) tiveram alta de 13,4%, totalizando R$ 14,8 bilhões.
“É um produto muito promissor. Todo mundo sabe o quanto somos competitivos no agronegócio, então naturalmente vão ter opções muito interessantes do ponto de vista de risco e retorno”, afirmou.
IPOs em compasso de espera
Os IPOs, que estão escassos no Brasil em 2022, somaram cerca de R$ 400 milhões no primeiro semestre, contra R$ 35,7 bilhões no mesmo período de 2021, o melhor ano para aberturas de capital desde 2007.
Segundo Laloni, a queda é natural diante dos desafios encontrados no mercado de ações em meio às quedas generalizadas das Bolsas ao redor do mundo.
“Há empresas concorrentes que estão na Bolsa com um desconto tão grande que inviabiliza fazer um trabalho de expor a companhia e ter um preço justo pelas suas ações”, afirmou.
A expectativa é que novos movimentos de abertura ocorram com a dissipação do clima incerto. Um dos sinais, afirmou o vice-presidente, é a percepção de parte dos analistas de que a Bolsa brasileira está “muito barata”.
“O mercado vai voltando e em algum momento do futuro a gente também pode ter uma nova janela para fazer a abertura de capital de novas empresas”, disse.
Quanto aos riscos da eleição, que cada vez mais são explicitados por analistas como um dos principais pontos de pressão nos próximos meses, Cristiano Cury, vice-coordenador da Comissão de Renda Fixa da Anbima, diz que não há razões para grandes solavancos.
“Não acho que o mercado vá parar por ser ano eleitoral. As cartas estão na mesa, sabemos mais ou menos as opções que temos”, afirmou.
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