O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou ontem a taxa básica de juros (Selic) de 7,75% para 9,25%, e sinalizou que em fevereiro ela deve subir de novo, para 10,75%. O anúncio ficou dentro do que a maioria dos especialistas esperava. A parcela de surpresa veio de dois trechos específicos do comunicado com a decisão.
No primeiro, o Banco Central diz ser apropriado que o ciclo de alta dos juros avance “significativamente” em território contracionista. Na prática, isto significa que a instituição acha justificável manter os juros bem acima da inflação por um certo tempo.
No segundo trecho, as autoridades do Copom dizem que vão “perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”. Ou seja: os juros ficarão altos até a inflação desacelerar e o mercado esperar altas de preço mais alinhadas com aquelas buscadas pelo Banco Central – de 3,50% no ano que vem e de 3,25% em 2023.
O mercado terá a primeira chance de reagir à decisão nesta quinta-feira. As taxas de juros de curto prazo podem subir um pouco e o dólar pode perder força por causa do tom mais rigoroso do Copom em relação à inflação. Mas os efeitos devem ficar limitados a estes dois movimentos pelo fato de a decisão ter correspondido às expectativas.
Entre as ações, a decisão pode ajudar a impulsionar o preço de papéis de bancos, que se beneficiam de juros mais altos, e pesar sobre os do setor de varejo ou cujo preço atual reflita expectativa de forte crescimento no futuro.
Nubank
O Nubank, maior fintech do Brasil, com 48 milhões de usuários, realizou a oferta pública de suas ações (IPO, na sigla em inglês) ontem à noite nos Estados Unidos. Cada papel foi vendido a US$ 9, o que coloca o valor de mercado da companhia em US$ 41,5 bilhões. Isso significa que, com oito anos de história no mercado, ela vale mais que bancos tradicionais brasileiros como o Itaú Unibanco, avaliado em US$ 37,7 bilhões, e o Bradesco, em US$ 36,2 bilhões.
O Nubank também passará a ser negociado no Brasil a partir de hoje via BDRs (papéis emitidos localmente por empresas listadas no exterior) com o ticker NUBR33. Os investidores, porém, terão de esperar até um pouco depois das 11h30 para negociar o papel, porque a B3 primeiro vai esperar a formação de preço no mercado americano para depois liberar operações com o BDR por aqui.
Inflação na China
O governo chinês divulgou na noite de quarta-feira que a alta nos preços ao produtor do país diminuiu em novembro tanto na comparação mensal – de 2,5% para zero – quanto no acumulado em 12 meses – de 13,5% para 12,9%. A redução foi consequência principalmente de medidas para estabilizar o preço do carvão, que havia disparado em meses anteriores.
A alta nos preços ao produtor da China está sendo monitorada de perto porque o país é um grande exportador de bens industriais e o aumento de custos estava começando a ser repassado para os consumidores. Este repasse perdeu força em novembro – a alta mensal nos preços ao consumidor chinês foi de 0,4% no mês passado, ante 0,7% em outubro.
No entanto, os dados sugerem “poucos sinais de que o aumento na pressão inflacionária global está diminuindo”, disse Michael Hewson, analista-chefe de mercados da CMC Markets, acrescentando que a inflação ao produtor da China em 12 meses, embora tenha diminuído, ficou acima dos 12,4% previstos por especialistas.
“Isto não é um bom sinal para os próximos meses, pois os preços ao produtor tendem a se mexer antes dos preços ao consumidor não só na China, mas em todo o mundo.”
Outros destaques de hoje
Além da reação à decisão do Copom, a quinta-feira será marcada pela votação no Senado a respeito da desoneração da folha de pagamentos. O texto na prática autoriza 17 setores da economia a pagar uma contribuição previdenciária de 1% a 4,5% sobre a receita bruta no lugar de 20% sobre a folha de salários.
Estão na lista de beneficiadas empresas que dependem de grandes contingentes de mão de obra, como fabricantes de calçados, veículos e roupas, produtores de proteína animal, companhias de construção civil, de tecnologia de informação e de comunicação, entre outros.
A expectativa é de que o texto seja aprovado e os incentivos prorrogados até o fim de 2023. Sem a aprovação, os setores perderão os benefícios a partir de janeiro.
Entre os indicadores, o destaque no Brasil é a divulgação da primeira prévia do IGP-M (Índice Geral de Preços ao Mercado), pela manhã.
No exterior, estão previstos dados a respeito dos pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos, às 10h30.