A tentativa de acordo da Samarco com os credores da companhia fracassou novamente, o que mantém a nuvem de incerteza em relação à capacidade da empresa para retomar as atividades de forma sustentável.
A Samarco é a mineradora responsável pela barragem do Fundão, que rompeu em 2015 e deixou 19 mortos. Os rejeitos de mineração liberados pelo colapso da estrutura também desabrigaram centenas de pessoas e contaminaram o Rio Doce. Por causa do desastre, a empresa precisou pagar reparações e teve de interromper as operações de mineração por quase cinco anos, o que deixou a companhia em dificuldades financeiras.
Em abril de 2021, a Samarco entrou com um pedido de recuperação judicial para evitar a execução de dívidas bilionárias por credores. Na época, a empresa devia R$ 26,4 bilhões a credores financeiros – em sua maioria fundos que compraram os títulos de dívida da mineradora com desconto no mercado.
A Samarco tenta há quase um ano chegar a um acordo com este grupo para ter mais segurança financeira na retomada de suas operações.
A mineradora propôs, em linhas gerais, que os credores trocassem a dívida que possuem por ações preferenciais – plano que foi descartado – ou perdoassem parte da dívida e aceitassem receber o valor remanescente em dinheiro ou em novos títulos que seriam pagos daqui a alguns anos, a fim de criar espaço financeiro para a retomada das operações.
Os termos previstos para estes títulos de dívida, porém, ainda são fonte de discordância entre a Samarco e os credores. A Samarco, por exemplo, quer que os papéis vençam daqui a 15 anos, enquanto os credores querem um prazo menor, de 12 anos. Além disso, os credores exigem taxas de remuneração mais altas do que a Samarco está disposta a oferecer.
Outro ponto de atrito diz respeito a quanto dinheiro a Samarco deve passar para a Renova, fundação responsável por gerir as indenizações ligadas ao desastre de Fundão. Os credores querem que a Vale e a BHP – empresas que possuem fatias de 50% na Samarco – se responsabilizem por parte dos repasses.
A Samarco, porém, reluta em ceder a esta exigência na íntegra porque também deve um total de R$ 24,1 bilhões às duas companhias. Esse dinheiro foi usado pela mineradora para construir uma usina de filtragem de rejeitos de mineração, retomar as operações e pagar as indenizações e reparações posteriores ao desastre de Fundão.
Em nota, a Samarco disse que na rodada mais recente de negociações “os credores propuseram soluções que não condizem com a realidade financeira da empresa” e que “colocam em risco a manutenção das operações e a retomada integral da Samarco”.
Apesar disso, a empresa diz no documento que segue em contato com os credores e ainda está disposta a negociar.
Apesar da notícia sobre mais um fracasso das negociações da Samarco com credores, as ações da Vale (VALE3) operavam em alta de 1,32% por volta das 11h10 desta quarta-feira (30), a R$ 95,77.