Em meio a um cenário macroeconômico conturbado, de inflação nos maiores níveis em quatro décadas e elevação acelerada nos juros americanos, a Tesla (TSLA34) foi a única empresa entre as gigantes de tecnologia do S&P 500 a apresentar crescimento real do lucro.
As demais – Apple (AAPL34), Microsoft (MSFT34), Alphabet (GOOG34), Meta (M1TA34) e Amazon (AMZN34) – foram pesadamente atingidas pelo aumento das despesas financeiras e do custo operacional.
Em junho a inflação em 12 meses nos Estados Unidos chegou a 9,1% – o maior nível em 41 anos -, puxada pelos preços de combustíveis.
No período, o galão da gasolina no mercado americano chegou a custar US$ 5, valor recorde. O do diesel também bateu máxima histórica ao passar de US$ 5,80.
Além de gerar um aumento em despesas com frete – algo que prejudicou particularmente a Amazon -, a inflação elevada reduziu o poder de compra dos consumidores. Como precisaram pagar mais por combustíveis e outros itens essenciais, os americanos gastaram menos com os produtos oferecidos pelas big techs. Apple, Microsoft e Amazon foram prejudicadas por esta tendência.
A receita com a venda de serviços destas companhias foi na direção contrária e cresceu, mas o aumento de 19 a 43% nas despesas com pesquisas e desenvolvimento limitou o efeito positivo desta alta sobre o resultado final.
O impacto negativo na rentabilidade das empresas foi agravado pelo crescimento nas despesas financeiras. Os juros dos Estados Unidos, que estavam perto de zero em janeiro, saltaram para perto de 1,50% ao ano ao longo do segundo trimestre.
A elevação das taxas foi uma decisão do banco central do país para combater a inflação, mas encareceu o custo da dívida das empresas, com efeito negativo sobre os resultados das companhias. A exceção foi a Tesla, que conseguiu diminuir as despesas com juros após reduzir a própria dívida.
A Amazon reverteu o lucro reportado no segundo trimestre de 2021 para um prejuízo de R$ 2 bilhões no segundo trimestre deste ano. As demais empresas reportaram lucro, porém inferior ao de um ano atrás. As exceções foram Tesla e Microsoft, que anunciaram aumentos de 92% e de 1,7% no lucro, respectivamente.
Porém, se descontada a inflação do resultado, a Microsoft teve queda de 6,7% no resultado final – ou seja, não houve crescimento real do lucro da companhia.
Já a Alphabet, dona do Google, e a Meta, dona do Facebook, enfrentaram maiores problemas com a redução da demanda global por publicidade online, o que levou a Meta ser a única empresa a apresentar queda na receita líquida.
Tesla na contramão do mercado
A Tesla, que atua no ramo automotivo, foi a única empresa que, além de reportar avanço no lucro real, conseguiu ampliar a margem operacional (Ebit) em comparação com mesmo período de 2021.
Dirigida por Elon Musk, a Tesla foi impulsionada pelo aumento nas vendas de carros elétricos e elevação dos preços dos produtos, além de ter melhores desempenho em outros negócios, como o de geração de energia.
Apesar da crise econômica mundial, a Tesla conseguiu obter melhores resultados no período por dois motivos: produtos voltados para a alta renda, um público menos sensível a adversidades macroeconômicas, e aumento nos preços dos combustíveis, que aqueceu o mercado de carros elétricos.
Além disso, a empresa reduziu a própria dívida, o que resultou em uma queda também nas despesas financeiras.
Portanto, a empresa apresentou um ganho de 3,5 pontos percentuais (p.p.), para 13,4%, na margem líquida, que é a proporção de lucro que sobra da receita líquida após o pagamento de todas as obrigações da empresa.
Enquanto o lucro da empresa foi 92% superior, para US$ 2,27 bilhões. As ações da empresa subiam mais de 30% desde o início do segundo semestre.
Na Meta, um feito inédito – e amargo
A Meta, holding dona do Facebook, Instagram e Whatsapp, foi destaque negativo entre as maiores empresas de tecnologia porque registrou queda na receita líquida pela primeira vez desde que abriu capital, dez anos atrás.
A queda no desempenho pode ter sido afetada por cinco fatores:
- Normalização da demanda por anúncios online após pico da pandemia;
- Instabilidade econômica europeia;
- Valorização do dólar frente ao euro
- Concorrência apertada
- Alterações de privacidade impostas pela Apple nos iPhones.
Desde que atingiu um pico, durante a pandemia, a demanda por publicidade na internet é decrescente. Cada vez mais as empresas têm voltado a anunciar fora das redes, o que é prejudicial às vendas da Meta.
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia também entra na lista de ameaças ao resultado porque desestabilizou a economia europeia e ajudou o dólar a se valorizar – encarecendo o custo dos serviços prestados pela dona do Facebook em seu segundo maior mercado.
Além disso, o concorrente, Tik Tok, vem disputando o tempo dos usuários com as redes sociais controladas pela Meta e a Apple aplicou mudanças na privacidade do iPhone que dificultam o rastreio do usuário, reduzindo a eficácia das propagandas do Facebook.
Tudo isso fez a receita da Meta cair 1% no segundo trimestre em relação a um ano antes. O que mais preocupa, porém, é a rentabilidade da empresa, que foi de longe a que mais caiu entre as gigantes do S&P.
Para se adaptar à redução da demanda por anúncios online, a Meta cortou o preço médio da publicidade em 14% no período em comparação a um ano atrás. Além disso, a empresa tem investido maior quantidade de recursos em projetos voltados à criação do Metaverso, o que levou a um aumento de 23% das despesas operacionais em um ano.
Como resultado, a rentabilidade da empresa foi ladeira abaixo. A margem de lucro operacional (Ebit) foi de 29%, uma queda de 13,5 pontos percentuais em comparação com igual período de 2021.
Os investidores, portanto, não enxergaram com bons olhos o desempenho do Meta. Apesar de leve valorização de 5% no segundo semestre, os papéis acumulam queda de 50,5% em 2022 até o fechamento do pregão de sexta-feira (19).