Um levantamento feito pelo TradeMap para identificar as ações que mais subiram durante a campanha do primeiro turno revelou uma informação curiosa: o papel que teve a maior alta foi justamente a da empresa que é responsável pela produção das urnas eletrônicas, que chegaram a ter sua confiabilidade questionada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), defensor do voto impresso.
A Positivo – companhia de tecnologia com capital aberto desde 2006 e mais conhecida por fabricar notebooks – venceu em 2020 uma licitação promovida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para renovar o parque de urnas. Aliás, quem saiu de casa para votar no primeiro turno talvez tenha notado que a urna está com um design diferente.
Para a eleição de 2022, a Positivo entregou 225 mil urnas e, até o segundo trimestre, no balanço mais recente, havia faturado R$ 908,9 milhões com essa entrega.
A companhia também vai fornecer urnas para a eleição de 2024, com uma previsão de 176 mil equipamentos e um faturamento estimado de R$ 1,2 bilhão.
A entrada da Positivo no negócio de urnas é vista de forma favorável pelo mercado, que vê uma diversificação nas fontes de receita da companhia, principalmente em um momento em que o consumo de notebooks no Brasil não vive sua melhor fase.
“Apesar das vendas no varejo terem diminuído acentuadamente ao longo do ano, a Positivo conseguiu impulsionar o crescimento de sua receita com mix melhor de receitas e vendas de urnas eletrônicas”, escreveram os analistas Bernardo Guttmann e Marco Nardini, da XP, em relatório publicado na semana passada.
Com a ajuda das urnas, a Positivo tem conseguido elevar a participação, em sua receita, dos clientes que são instituições públicas. Além das vendas de urnas para as eleições, a companhia também fornece notebooks e tablets para escolas das redes públicas dos estados e municípios.
A projeção da XP é que a companhia termine 2022 com 46% de participação de instituições públicas em receita, contra 33% no ano passado. A companhia também tem crescido entre clientes corporativos, com novos produtos e serviços. A previsão da XP é que a fatia dos corporativos salte de 21% para 47% entre 2021 e 2022.
Do dia 16 de agosto, quando a campanha começou oficialmente, até a sexta-feira passada, dia 30, o último dia de pregão aberto antes da votação no domingo, a ação da Positivo teve valorização acumulada de 20,5%.
Mas não é só por causa da diversificação de receitas que o mercado está animado.
Com a interrupção do ciclo de alta de juros por parte do Banco Central (BC), há a expectativa de recuperação para o consumo de equipamentos eletrônicos, em especial para as classes mais baixas, que são o principal público da Positivo e que são mais sensíveis à restrição de crédito causada pelo aperto monetário.
Há duas semanas, o BC indicou que a Selic, após saltar de 2% ao ano para 13,75%, ficaria estacionada nesse patamar por um bom tempo antes de começar a cair. Embora isso seja pouco para impulsionar o consumo, o primeiro passo foi dado: a situação parou de piorar para o varejo, que depende do crédito para ver as vendas crescerem.
Não por acaso, no dia seguinte à decisão do BC, a ação da Positivo fechou em alta de 1,85%.
Nesta segunda-feira, sem que nenhum candidato questionasse o resultado das urnas no primeiro turno, a ação da empresa apresentava, por volta das 12h30, uma valorização de 3,05%.
E a expectativa para o que virá também é boa. A XP e o BTG, por exemplo, que revisaram recentemente seus números para a Positivo, estimam preço-alvo de R$ 16 e R$ 17, respectivamente, valorização potencial de 25% e 33%, respectivamente.
Construção civil
Quem também tem comemorado o provável fim do ciclo de alta dos juros são os investidores de empresas de construção civil, que crescem mais se as condições de financiamento imobiliário estão mais favoráveis para o cliente final.
Fechando o pódio das três maiores altas de ações durante o período eleitoral do primeiro turno, estão Cyrela e MRV, que acumulam valorizações de 18,46% e 12,09%.
Casos como os de Positivo, Cyrela e MRV são bons exemplos de que como o debate eleitoral entre os candidatos pouco pautou o movimento das ações. Como se vê, não foram propostas de campanha que levaram aos avanços, mas, sim, estratégias de negócio, no caso da Positivo, e conjuntura econômica mais favorável, no caso de Cyrela e MRV.
Sensíveis aos candidatos
No entanto, há exemplos específicos que estão mais ligados às campanhas, como é o caso da Cogna, a décima maior alta do período, com avanço de 7,3%, impulsionada principalmente pela promessa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato que liderava as pesquisas e terminou em primeiro lugar no primeiro turno, de voltar a apostar no no Fies, o programa de financiamento estudantil criado nas gestões petistas.
Também há o caso da Sabesp, a empresa de saneamento do estado de São Paulo. Os investidores estão de olho na eleição estadual e acreditam que uma eventual privatização da companhia é mais provável com a vitória de um candidato mais à direita que tenha condições de derrota o petista Fernando Haddad no segundo turno.
Ao longo da campanha, os investidores da Sabesp viram o crescimento nas pesquisas de Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro da Infraestrutura no governo de Bolsonaro e entusiasta de privatizações e concessões. Freitas surpreendeu ao terminar o primeiro turno em primeiro lugar, à frente de Haddad, que será seu adversário no segundo turno, no dia 30 de outubro.
Nesta segunda-feira, a ação da Sabesp tinha, por volta das 14h, a maior alta do dia, de 16,43%.