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Pressionado pela maior percepção de risco fiscal, Ibovespa cai 0,49% e fecha abaixo dos 110 mil pontos

Mercado teme que a PEC vire um “cheque em branco” na mão do novo governo, o que aumenta a insegurança sobre o controle dos gastos públicos

Foto: Shutterstock/sweet_tomato

Seguindo a tendência observada nos últimos dias, o Ibovespa fechou o pregão desta quinta-feira (17) em forte baixa de 0,49%, pressionado pela maior percepção de risco fiscal, encerrando a sessão aos 109.703 pontos.

Com o recuo de hoje, dia com R$ 19,11 bilhões em volume negociado, a queda acumulada pelo índice em novembro aumentou para 5,46%, enquanto o saldo de 2022 agora é de alta de 4,66%.

PEC da Tansição gera caos

Na noite de quarta-feira (16), o vice-presidente eleito e coordenador da equipe de transição Geraldo Alckmin apresentou mais detalhes sobre a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) de Transição, medida proposta pelo novo governo para acomodar os gastos relacionados a promessas realizadas durante a campanha eleitoral.

Na avaliação de Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, a sugestão traz mais “gordura” do que era esperado, defendendo que os R$ 175 bilhões em despesas do Bolsa Família sejam excluídos do teto de gastos por um prazo indefinido.

As más notícias para o mercado não param por aí. A proposta prevê ainda que 40% das receitas extraordinárias sejam destinadas a investimentos, elevando a conta do espaço no Orçamento para até R$ 197 bilhões.

O mercado teme que a PEC vire um “cheque em branco” na mão do novo governo, o que aumenta a insegurança sobre o controle dos gastos públicos na nova gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Na avaliação de Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, mais do que os fatos em si, a queda da Bolsa reflete as perspectivas para os próximos passos do novo governo. “Hoje foi realmente um dia para esquecer a B3. O que mais incomoda os investidores é que esse pode ser apenas o trailer do que está por vir”, afirma.

“É natural que haja um receio por parte dos investidores diante do contexto. Aumentar em R$ 175 bilhões (R$ 197 bilhões no pior cenário) por quatro anos é pedir para perder o controle sobre a trajetória do endividamento brasileiro”, escreveu Matheus Spiess, da Empiricus.

Selic mais alta?

Além da queda das Bolsas, o temor fiscal fez as taxas de juros e o dólar dispararem. De acordo com dados disponíveis na plataforma do TradeMap, as taxas dos contratos de DI para janeiro de 2024, 2026 e 2028 ficaram em 14,03%, 13,21% e 13,09%.

Com o avanço recente das taxas, o mercado passou a esperar que a Selic, a taxa básica de juros, permaneça em 13,75% ao ano por mais tempo. Inicialmente, as expectativas eram para o início de corte em meados do ano que vem. Agora, já há visões estipulando mudanças apenas em setembro, segundo a Genial Investimentos.

“A curva de juros não só manteve as especulações de que, diante da bomba fiscal armada, a Selic pode ter que subir nas duas próximas reuniões do Copom (dezembro e fevereiro/23), como jogou mais para frente o timing de um corte”, disseram os analistas da Genial.

Nesta quinta, o presidente eleito afirmou que “paciência” se a Bolsa cair e o dólar subir em reação às falas sobre responsabilidade social caminhando ao lado da fiscal. “Porque o dólar não aumenta e a bolsa não cai por conta das pessoas sérias, mas é por conta dos especuladores que vivem especulando todo santo dia”, declarou.

O economista-chefe da gestora Quantitas, Ivo Chermont, considera que a sinalização dada pela PEC é “um desastre, porque você está prejudicando quem pretende proteger”.

“Desde que o Lula ganhou, o dólar, que chegou a cair para perto de R$ 5,10, já está se aproximando de R$ 5,50. Na prática, as coisas estão 7% mais caras, é só olhar a alimentação, que em parte acaba sofrendo influência do dólar”, acrescentou.

Queda generalizada

Praticamente todas as ações do Ibovespa fecharam o pregão no vermelho, com destaque para o varejo, em resposta à forte subida da curva de juros. No setor, os papéis que mais caíram foram os de Alpargatas (ALPA4) e Pão de Açúcar (PCAR3), com recuos de 6,55% e 5,75%, respectivamente.

Entre as maiores baixas do dia, com queda de 6,19%, estava a ação da 3R Petroleum (RRRP3). A companhia produziu 14,262 barris de óleo equivalente por dia (boed) em outubro, queda de 13% na comparação ao registrado em setembro, segundo dados preliminares divulgados na quarta-feira. O resultado quebra a sequência de altas mensais registradas desde julho.

O IRB (IRBR3), por sua vez, recuou 5,81% depois da renúncia de seu presidente, Raphael de Carvalho, que passou pouco mais de um ano no cargo. Seu substituto, eleito pelo conselho de administração da companhia, será Marcos Falcão, que desde maio de 2020 faz parte do colegiado.

A saída de Carvalho ocorre após a sequência recente de prejuízos do IRB. Desde que assumiu o comando da empresa, em setembro do ano passado, o executivo conseguiu apenas um trimestre lucrativo, entre janeiro e março deste ano. Nos demais, os resultados foram negativos.

As poucas altas

Na parte positiva, poucas ações subiram nesta quita. A maior alta do dia, de 2,17%, foi da ação do Bradesco (BBDC4). Mais cedo, o J.P Morgan elevou sua recomendação para a ação do banco, mesmo enxergando tendências negativas no curto prazo para a instituição.

Em relatório publicado no site Infomoney, o J.P elevou passou a ter uma recomendação overweight para a ação, o equivalente à compra, com um preço-alvo de R$ 21, o que traria uma valorização de 38% em relação ao último preço de fechamento do papel.

O banco americano decidiu trocar a recomendação ao avaliar a queda de 18% desde que o Bradesco divulgou seu balanço do terceiro trimestre, já que pode trazer uma oportunidade para o investidor.

Exterior

Nos Estados Unidos, dados fortes do varejo e discursos duros de dirigentes do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) pressionaram as Bolsas. Neste contexto, o S&P 500 fechou em baixa de 0,31%, o Dow Jones caiu 0,02% e o Nasdaq recuou 0,35%.

Já na Europa, os investidores repercutem a divulgação do CPI (índice de preços ao consumidor) da zona do euro, que mostrou alta de 10,6% em outubro na comparação anual, um avanço na comparação com os 9,9% registrados em setembro. Na comparação mensal, o crescimento da inflação foi de 1,5%. Com isso, o índice Euro Stoxx 50 somou perdas de 0,11%.

Criptomoedas

O mercado de criptoativos voltou a estabilidade nesta quinta-feira, apesar do clima ainda estar bastante tenso com a crise de confiança dos investidores após o colapso da corretora FTX, na semana passada.

Por volta das 18h40, o Bitcoin (BTC) operava com leve alta de 1,33%, negociado a US$ 89,984, segundo dados disponíveis na plataforma TradeMap. Na mesma hora, o Ethereum caía 0,39%, a US$ 6.473.

A crise foi acentuada nesta quarta-feira, após a exchange Genesis Trading anunciar o bloqueio dos saques dos investidores da sua área de empréstimos. A contaminação do mercado levou à especulação dos investidores sobre qual será a próxima empresa a apresentar dificuldades.

A FTX já entrou com pedido de recuperação na Justiça americana. Autoridades federais também abriram investigação contra a empresa e os seus sócios para averiguar as circunstâncias que geraram prejuízos a milhares de investidores ao redor do mundo.

Apesar do clima ainda bastante incerto, Ayron Ferreira, analista chefe da Titanium Asset, afirma que os desdobramentos do processo devem impactar o mercado com menor intensidade nos próximos dias.

A tendência, pontua o especialista, é que as cotações das criptos voltem a se relacionar com outros fatores que mexem com os investimentos, como a curva de juros americana e o comportamento da inflação global.

“Após esses dias turbulentos, o mercado também deve aumentar sua resiliência, com regulação avançando e players sendo forçados a adotar práticas cada vez mais transparentes para operar os negócios ligados ao setor de criptoativos”, diz.

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