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Paul Krugman descarta haver recessão nos EUA hoje, mas vê oposto na Europa

Apesar da queda do PIB do país, o prêmio Nobel de Economia destaca que o mercado de trabalho americano ainda está crescendo de forma consistente

Foto: Shutterstock

Apesar de a economia americana ter entrado em recessão técnica, registrando dois trimestres de PIB negativo, os Estados Unidos ainda não estão em recessão de fato na opinião de Paul Krugman, economista americano e vencedor do Nobel de Economia de 2008.

Apesar da queda do PIB, Krugman destaca que o mercado de trabalho ainda está crescendo de forma consistente. “Recessão é quando tudo está caindo e não é o que estamos vendo”, afirma o economista que também é colunista do jornal New York Times.

Para Krugman, que participou de evento da Febraban nesta quarta, em São Paulo, é possível que a economia americana entre em recessão no próximo semestre, mas não deve ser uma recessão tão severa e com disrupções financeiras como a da crise de 2008.

“A economia americana está desacelerando porque o Fed [Federal Reserve, banco central americano] está subindo os juros, porque acredita que a economia está superaquecida. Isso não significa operar em níveis considerados de recessão”, diz.

O economista ressalta que a inflação nos EUA está desacelerando e que a inflação implícita, esperada pelo mercado, já mostra sinais de queda, como resultado do recuo dos preços da gasolina e de commodities.

O CPI (índice de preços ao consumidor) nos EUA ficou estável em julho, cenário melhor que o esperado pelo mercado. Nos últimos 12 meses, o avanço de preços atingiu 8,5%.

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Apesar do patamar ainda elevado, Krugman espera uma melhora da inflação nos próximos meses. “Essas estatísticas medem a inflação subjacente e as taxas ainda estão altas, porque foram afetadas por preços mais voláteis como de energia.”

Olhando os gastos com consumo, excluindo os preços de energia, a inflação estaria próxima de 5%, segundo Krugman, ainda bem acima da meta de 2% do banco central americano.

Por isso, o economista espera que o continue subindo a taxa de juros até que haja evidência de que a inflação está decrescendo.

“A possibilidade de a recessão acontecer é alta apenas por causa do Fed”, diz Krugman que reconhece que, assim como o banco central americano, errou na avaliação de que a inflação alta nos EUA.

“O Fed errou em relação à inflação, achava que era transitória, um erro de julgamento que não consigo perdoar porque também achei que era transitória”, afirma.

A alta de juros, destaca Krugman, levou a um fortalecimento do dólar, uma vez que os investidores migraram para os títulos do Tesouro americano, considerados como “porto seguro”, e isso pode pressionar os países com dívida em dólar elevada.

Para o economista, ainda não há uma moeda substituta para o dólar e avalia que não existe um uso significativo de criptoativos, que ainda são muito restritos a operações especulativas.

“Já ganhei dinheiro com criptoativos, mas dando palestras.”

Europa em recessão

Na avaliação de Krugman, é possível que a Europa já esteja em recessão após a forte alta dos preços de energia, especialmente do gás natural, que elevou fortemente a inflação no bloco após a guerra na Ucrânia.

“A situação na Europa é diferente, a inflação subjacente não é tão alta, mas o grande erro dos países da União Europeia foi o de se tornarem muito dependentes do gás da Rússia”, diz.

Desde o estabelecimento das sanções econômicas à Rússia pelo Ocidente, o governo russo vem reduzindo o fornecimento de gás para a Europa, levando a um forte aumento de preços.

Isso coincidiu com a fase dois da invasão russa na Ucrânia, que tem mostrado maior resistência que o esperado, analisa Krugman. “Parte da minha família vem da Ucrânia, e tenho acompanhado a situação de perto.”

Para Krugman, as sanções às exportações de empresas para Rússia tiveram mais efeito e colocaram a indústria russa em uma situação difícil, mas o fim da guerra vai depender de o apoio do Ocidente à Ucrânia continuar ou não.

Importadores de commodities e com dívida em dólar vão sofrer mais

Em um cenário de aumento de preços das commodities, que embora tenham recuado ainda estão em patamar elevado, os países importadores de commodities e que têm elevada dívida em dólar devem sofrer mais, afirma Krugman.

Ele cita o exemplo de Sri Lanka, que entrou em default após um forte aumento de preços de energia e alimentos no país. “O ambiente para países em desenvolvimento tem piorado”, destaca.

No caso do Brasil, o economista ressalta que o país está em uma situação melhor porque é autossuficiente em energia e exportador de commodities agrícolas, o que pode ser uma oportunidade com a restrição de exportação desse segmento pela Ucrânia.

“O Brasil ainda tem uma dívida em dólar grande, apesar de ter feito progresso em reduzir, mas está muito melhor do que já esteve”, diz.

China x EUA

Logo após a pandemia, Krugman afirma que muitos pensaram que a China estava se saindo bem na resposta ao combate à Covid-19. Com as vacinas, porém, os países do Ocidente se deram melhor, uma vez que a economia chinesa tem sofrido com constantes lockdowns por causa da política de “Covid zero”.

“Isso é insustentável. A China está enfraquecida”, diz. “Contanto que os EUA não percam a cabeça, acho que vão se sair melhor.”

Sobre o cenário de maior protecionismo global após a guerra na Ucrânia e a pandemia, que gerou uma disrupção na cadeia de produção, Krugman espera que o movimento seja ampliado, mas não chegue ao ponto extremo. E, nesse sentido, é importante observar qual será o impacto para a inflação, ressalta.

“Eu não enxergo um risco imediato de guerras comerciais como que a que Trump (Donald Trump, ex-presidente dos Estado Unidos) iniciou, a menos que haja conflitos políticos, como, por exemplo, se a China atacar Taiwan.”

Krugman acredita que pode haver algumas mudanças no comércio internacional como os EUA indo buscar assegurar produtos críticos como semicondutores de países que avaliam que não vão usar sanções.

Mas, no caso do fornecimento de gás para a Europa, é difícil substituir o fornecimento em função da dificuldade na cadeia logística.

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