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Movida (MOVI3) caça terrenos de concessionárias falidas para expandir rede de seminovos

No primeiro trimestre, a Movida vendeu 15,2 mil carros, quase três vezes o volume vendido no primeiro trimestre do ano passado

Foto: divulgação

A Movida, uma das principais locadoras de veículos do Brasil, tem seguido à risca aquela máxima entre empresários de que cada crise abre espaço para oportunidades de negócios.

Desde o início da pandemia, quando a venda de veículos voltou a cair e levou concessionárias a fecharem as portas, a companhia tem aproveitado para comprar os terrenos que ficaram desocupados e instalar nesses lugares as lojas que revendem os seminovos da locadora.

“Hoje temos lojas de seminovos da Movida nas principais capitais e em avenidas que antigamente eram dominadas por concessionárias”, conta o CFO da empresa, Edmar Prado Lopes Neto, à Agência TradeMap.

Trata-se, na verdade, da retomada de uma antiga estratégia.

A Movida já havia se valido disso em 2015 e 2016, quando o Brasil passou por uma grave crise econômica que levou a uma retração de 7% do PIB e a um tombo de cerca de 50% nas vendas de veículos novos.

Em 2017, a Fenabrave, federação que representa as concessionárias, divulgou um balanço no qual dizia que, entre 2014 e 2017, o mercado passou a ter 1,2 mil revendedoras a menos, no saldo entre aberturas e fechamentos no período.

“Foi um período onde nós nos aproveitamos de uma economia mais fraca para comprar os lugares onde ficavam as concessionárias, que têm estacionamentos abertos, com uma infraestrutura simples, mas que fizemos virar lojas com show room de dois andares”, conta o CFO da Movida.

Segundo Lopes Neto, com a retomada da venda de veículos em 2017, a estratégia ficou adormecida e só voltou a ser colocada em prática com a pandemia, mas de maneira mais tímida, uma vez que o estrago nas concessionárias também foi menor, apesar de as vendas terem caído mais uma vez.

No início da pandemia, a Fenabrave chegou a alertar que 30% das cerca de 7 mil concessionárias que existiam no Brasil poderiam ser fechadas, em razão do isolamento social imposto.

No entanto, embora parte delas tenha fechado as portas em 2020, novas unidades abriram em 2021 e, segundo a Fenabrave, o mercado voltou ao patamar de cerca de 7 mil unidades.

Em meio a esse abre e fecha, a Movida também se mexeu e conseguiu ampliar a sua estrutura física.

Hoje, a Movida tem 81 pontos de venda de seminovos, quase quatro vezes a quantidade que tinha em 2015, quando a rede somava 23 unidades.

A empresa não informou exatamente quantas estão instaladas em terrenos de antigas concessionárias, mas o CFO afirmou que há várias espalhadas por cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

A expansão da rede ocorre também porque a venda de seminovos tem se tornado uma fonte de receita cada vez mais importante para as locadoras, que precisam vender os carros de locação que vão ficando “velhos” para dar lugar a modelos novos.

Além disso, as locadoras são competitivas no preço em relação às concessionárias. Como compram os carros novos com desconto das montadoras, conseguem revender a valores mais baixos ao consumidor final e, ainda assim, obter lucro.

Em balanço publicado no sábado (30), a Movida mostrou que a venda de ativos representou pouco menos da metade da receita líquida da empresa no primeiro trimestre, com R$ 973,8 milhões, uma expansão de 20,4% em relação a igual período do ano passado.

A receita líquida com aluguel de carros somou um valor maior, a R$ 992 milhões, mas com uma alta mais tímida em relação ao primeiro trimestre do ano passado, a 6,4%.

Os dois negócios, juntos, levaram a companhia a um lucro líquido de R$ 258,1 milhões nos primeiros três meses de 2022, crescimento de 135,7% em comparação a igual intervalo de 2020, mas queda de 6,7% ante o quarto trimestre do ano passado.

Agressiva

No mercado de seminovos, a Movida tem se notabilizado por uma postura mais ousada em relação às concorrentes.

Enquanto o segmento tem procurado pisar no freio em relação à renovação da frota e uma eventual expansão física, em razão dos problemas de produção enfrentados pelas montadoras e causados pela escassez de semicondutores, a Movida tem investido em novos carros e novas lojas, de olho na esperada recuperação da economia.

Ao final do primeiro trimestre, a empresa somava 11 pontos de venda a mais do que tinha um ano antes. A frota total, por sua vez, ficou em 191,9 mil unidades, 56,5% de expansão em relação ao primeiro trimestre de 2020.

“Com o cenário de incerteza em relação à oferta de veículos por parte das montadoras, a Localiza, por exemplo, tem sido mais conservadora na renovação da frota”, afirma Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos. “Já a Movida tem aproveitado um cenário de demanda bastante aquecido, mesmo com a restrição na oferta, para elevar o preço e ter bons resultados”, diz.

Segundo o CFO da empresa, como o mercado como um todo está mais conservador na renovação, a Movida tem conseguido oferecer ao consumidor um carro usado mais novo do que a média.

“Nossos seminovos têm, em média, 15 mil quilômetros rodados a menos que os veículos de outras locadoras. Com isso, conseguimos ter um preço diferente e atingir um público diferente”, ele diz.

Lopes Neto reconhece que, em um cenário de juros e inflação mais altos, a expansão da demanda pode ser uma interrogação, mas ressalta que o segmento de seminovos pode se beneficiar desse momento. “O consumidor que antes compraria um carro novo vai migrar para o seminovo.”

No primeiro trimestre, a Movida vendeu 15,2 mil carros, quase três vezes o volume vendido no primeiro trimestre do ano passado e com um preço médio por veículo de R$ 64,4 mil, 24,1% a mais que nos primeiros três meses de 2021.

Além disso, o negócio de seminovos teve uma expansão de 4,7 pontos percentuais na margem bruta, para 26,6% no primeiro trimestre de 2022.

Entre os analistas que acompanham a Movida, a visão é majoritariamente positiva. Das 13 instituições consultadas pela Refinitiv e apresentadas em um levantamento disponível no TradeMap, nove recomendam a compra da ação da empresa, e uma indica fortemente o investimento. As outras três têm uma visão neutra em relação à empresa.

A mediana das estimativas do mercado aponta para um preço-alvo de R$ 25,50, uma valorização potencial de 50,89%. Por volta das 12h30, as ações da companhia caíam 7%, para R$ 16,88.

 

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