Os dados preliminares sobre a inflação de junho mostraram que a alta dos preços vai perder fôlego devagar, e reforçaram as chances de o Banco Central optar por um aumento mais rigoroso dos juros em agosto.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a prévia da inflação de junho medida pelo IPCA-15 atingiu 0,69% em base mensal – acima dos 0,59% observados em maio e das previsões do mercado.
Em 12 meses, a alta do IPCA-15 desacelerou para 12,04% em junho, de 12,20% em maio, mas o movimento, segundo especialistas, ainda está longe de ser um sinal claro de que a inflação está perdendo força.
“A inflação está em patamar elevado e deve desacelerar em passos lentos”, diz Claudia Moreno, economista do C6 Bank.
Segundo ela, a inflação de bens industriais nos 12 meses até junho chega a 14%, impulsionada por problemas que afetam a oferta de produtos – como a desorganização das cadeias produtivas e os lockdowns na China.
Nos serviços, a taxa está em 8,8%, e deve continuar em níveis altos por causa da chamada inércia inflacionária – a perpetuação dos preços altos por fatores como ajustes de salários, por exemplo.
Na mesma linha, Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag, aponta que o IPCA deva permanecer na casa de dois dígitos até setembro. “Mesmo arrefecido o IPCA continua bastante forte”, diz.
Em uma visão um pouco mais pessimista, João Savignon, economista da Kínitro Capital, acha que a inflação pode ficar em dois dígitos até o último trimestre deste ano.
“A alta dos preços livres mostrou alimentos mais bem comportados (0,08% contra 1,71% em maio), assim como serviços (0,65% ante 1,00%) e bens industriais (0,86% ante 1,62%). Apesar da desaceleração de serviços e bens industriais, os números são bem altos, mesmo quando olhamos as métricas subjacentes deles”, afirma.
Aumentos de preço atingiram 70% dos produtos
A abertura dos dados divulgados pelo IBGE mostra a inflação ainda bastante disseminada por toda a cadeia econômica brasileira.
O índice de difusão, que mostra a parcela de produtos e serviços monitorados pelo IBGE que sofreram aumento de preço, ficou perto de 70% – caindo em relação a maio, mas permanecendo em nível elevado.
“O qualitativo da inflação segue bem ruim”, diz o o economista Luis Menon, da Garde Asset Management. Segundo ele, a média dos núcleos de inflação – que medem o comportamento de preços menos voláteis – segue perto de 0,9% na comparação mensal, superando a alta apresentada pelo índice cheio.
“Isso indica que o alívio na inflação corrente segue concentrado em itens voláteis”, afirma.
BC pressionado por mais altas
O índice de difusão elevado e a a falta de perspectiva de arrefecimento da inflação nos próximos meses reforçam a apostas de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) faça novo acréscimo de 0,50 pp (ponto percentual) na Selic em agosto, elevando a taxa a 13,75% ao ano.
Na semana passada, o colegiado fez um ajuste desta magnitude, quando passou os juros de 12,75% para os atuais 13,25% ao ano, e disse que em agosto poderia aumentar a taxa em 0,25 pp ou em 0,50 pp..
“Se antes havia dúvida, agora parece que está mais para uma alta de meio por cento. Até a próxima reunião do Copom, o qualitativo não deve dar sinais de muita melhora”, diz Menon.
Também prevendo um acréscimo de 0,50 pp em setembro, Pasianotto acredita que a alta da taxa básica de juros, a Selic, deve parar em 13,75% ao ano porque a influência da política monetária sobre os preços está se esgotando e há outras ferramentas à disposição para conter a inflação.
“A política fiscal é fundamental nesta hora. Também há outras formas de política monetária além do aumento dos juros, como o aumento do compulsório bancário”, afirma.