Apesar de a inflação ter dado sinais de desaceleração nos últimos meses, a alta nos preços de alguns itens de consumo, como o vestuário, segue a todo vapor. Com isso, na avaliação do Santander, as varejistas de vestuário brasileiras seguem enfrentando uma série de desafios.
“A pressão sobre a rentabilidade vinda da inflação de matérias-primas e de custos e despesas permanece um vento contrário para a recuperação do setor”, afirmam Ruben Couto e Eric Huang, analistas do Santander, citando como exemplo os preços do algodão, que permanecem perto das máximas de dois anos.
Diante desse contexto, a capacidade de empresas como Arezzo (ARZZ3), C&A (CEAB3), Grupo Soma (SOMA3), Guararapes (GUAR3), Lojas Renner (LREN3), Marisa (AMAR3) e Track & Field (TFCO4) de repassar a alta nos custos para os preços finais sem prejudicar os volumes de vendas segue sendo um ponto importante de diferenciação, segundo o banco – e, neste quesito, o grande destaque é a Renner.
De maneira geral, o Santander aponta que as varejistas de vestuário têm surpreendido positivamente por sua capacidade de repassar a alta de custos sem afetar significativamente a demanda.
Porém, os analistas fazem a ressalva de que a demanda reprimida e as baixas temperaturas do segundo trimestre ajudaram a impulsionar as vendas, que devem desacelerar nos próximos trimestres, especialmente diante de períodos promocionais como Black Friday e a temporada de Natal.
“A consistência da Renner a diferencia de seus players listados, provando sua capacidade de aumentar preços acima da inflação do vestuário ao longo do tempo, sem comprometer o crescimento de volumes”, escrevem os analistas, em relatório distribuído nesta quinta-feira (22).
Por isso, considerando que essa tendência deve continuar no segundo semestre e em 2023, os analistas elegeram a Renner como uma de suas preferidas do setor, junto com a Arezzo, que deve se beneficiar de sua exposição às classes mais altas, que sofrem menos com altas de preço.
Empresa | Classificação | Preço-alvo | Potencial de alta* |
Arezzo (ARZZ3) | Outperform | R$ 129 | 30% |
C&A (CEAB3) | Neutra | R$ 4 | 22,3% |
Grupo Soma (SOMA3) | Outperform | R$ 18 | 34% |
Guararapes (GUAR3) | Neutra | R$ 11,20 | 17,4% |
Lojas Renner (LREN3) | Outperform | R$ 37 | 39,5% |
Marisa (AMAR3) | Neutra | R$ 3 | 21% |
Track & Field (TFCO4) | Outperform | R$ 16 | 36,5% |
Fonte: Santander *Em relação ao preço das ações no fechamento de 21/09/2022 |
Para a Renner, a expectativa do Santander é de crescimento de rentabilidade nos próximos anos, impulsionando os lucros. Isso, segundo o banco, se deve principalmente ao preço médio mais altos dos produtos da Renner e à produtividade de suas lojas.
“No segundo trimestre, a Renner foi a única marca que conseguiu registrar crescimento de vendas em termos reais, reforçando nossa visão positiva de que no segundo semestre em 2023, a Renner deve navegar melhor o cenário volátil em detrimento aos concorrentes, ao mesmo tempo em que deve continuar a registrar ganhos de participação de mercado apesar de preocupações com recessão e inflação”, diz o banco.
Em relação à Arezzo, que vem entregando vendas acima do esperado há alguns trimestres, deve começar a enfrentar os desafios vindos de bases de comparação mais difíceis. Ainda assim, sua exposição a classes mais altas, seu portfólio variado de marcas e sua diversidade de canais de vendas devem continuar sustentando bons resultados.
“Esperamos que a ação continue a performar acima da média do mercado por um tempo, sem considerar nenhum M&A (fusão ou aquisição) ou novo acordo de licenciamento (que deixamos como um risco de upside)”, afirmam os analistas.
O Santander espera ainda uma recuperação nos volumes de vendas para todas as companhias – mas isso não deve se traduzir em crescimento de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) e lucro para a maior parte das empresas.
Esse descompasso entre as vendas no varejo e os lucros, na avaliação do Santander, deve ser causada principalmente pelas divisões de serviços financeiros das varejistas, que vêm sendo impactadas pela deterioração do cenário macroeconômico, com famílias mais endividadas, e pelo aumento da concorrência, especialmente de fintechs.
Essa tendência também deve continuar, de acordo com o Santander, com as divisões de serviços financeiros registrando altos níveis de inadimplência, levando a provisões elevadas e queda nos lucros.
A mais prejudicada pelas dificuldades das unidades de serviços financeiros deve ser a Marisa, uma vez que essa divisão corresponde a uma fatia maior de seus resultados.