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Ibovespa pode subir até 15% em 2022, mas Ucrânia ditará rumo, diz Laport, da Vinland

Para ex-sócio do Goldman Sachs, fluxo estrangeiro para ativos brasileiros deve se manter

Foto: Divulgação

Se a tensão recente dos mercados com o conflito na Ucrânia arrefecer, mantendo o cenário de ausência de confronto armado ou sanções mais sérias do Ocidente à Rússia, o Ibovespa pode avançar de 10% a 15% neste ano. O fluxo de estrangeiros para a Bolsa deve se manter, na esteira da alta na cotação de commodities e ações de alguns setores, como os bancos, ainda atraentes.

A avaliação é de André Laport, fundador da gestora Vinland Capital e ex-sócio da Goldman Sachs, que aponta que o principal risco a essa possibilidade é uma reação militar dos ucranianos.

“Se o governo da Ucrânia não se render, achar que a Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] vai ajudar militarmente e começar a ter uma invasão mais forte, com muitos civis morrendo, isso aguça outros governos a fazerem algo. E isso pode se tornar uma guerra mesmo. Se isso acontecer, os mercados vão sofrer mais”, afirmou em entrevista à Agência TradeMap.

Para o gestor, a única certeza atual é de volatilidade, e os desdobramentos do conflito até agora não indicam a necessidade de mudança em alocação. “Hoje ainda estamos muito no início dessa confusão toda. A única coisa que parece ser mais relevante é uma volatilidade muito forte em todas as classes de ativo, pela incerteza do que vai vir”, pondera.

Ele lembra que guerras sempre são prejudiciais à economia global, e consequentemente para o mercado. “Se realmente tiver uma guerra, ninguém escapa. A Bolsa vai sofrer, e pode haver desaceleração econômica”.

Veja abaixo a entrevista completa, concedida no final da tarde desta quinta-feira (24).

A gente está vendo juros futuros caindo nos EUA, juros no Brasil com tendência de alta e preços de commodities disparando. Isso tudo pode se tornar um cenário favorável ao Brasil?

Em primeiro lugar, guerra nunca é bom, em nenhum cenário. Se realmente tiver uma guerra, ninguém escapa. A Bolsa vai sofrer, e pode haver desaceleração econômica.

Mas hoje ainda estamos muito no início dessa confusão toda. A única coisa que parece ser mais relevante é uma volatilidade muito forte em todas as classes de ativo, pela incerteza do que vai vir.

Quando montamos cenários, sem entrar muito no lado da geopolítica, a incerteza é grande, mas ainda não estamos vendo uma guerra. A Rússia claramente quer ter o controle da Ucrânia, mas há várias formas de isso acontecer.

Tem a maneira mais tranquila, que é entrando lá e o governo da Ucrânia se rendendo. A grande pergunta é: a definição do governo da Ucrânia após esse início de confronto.

As sanções que vêm acontecendo do lado dos Estados Unidos, em comparação com o resto da Otan, estão sendo leves. Essas sanções não vão parar o Putin de jeito nenhum.

Quando teve a invasão, os ativos começaram a perder valor, e quando se viu que não teve muitos civis morrendo, as sanções anunciadas não parecem afetar tanto a Rússia, o mercado se acalmou.

Acho que ainda é muito cedo para ter posicionamento. Tem o fim de semana pela frente, tudo pode acontecer.

Como a situação pode se agravar?

Se o governo da Ucrânia não se render, achar que a Otan vai ajudar militarmente e começar a ter uma invasão mais forte, com muitos civis morrendo, isso aguça outros governos a fazerem algo. E isso pode se tornar uma guerra mesmo. Se isso acontecer, os mercados vão sofrer mais.

Do ponto de vista de gestão, nossas visões em termos econômicos permanecem iguais, acompanhando no detalhe o conflito. Os preços das commodities, como o petróleo, já estavam lá em cima. Não mudou tanto.

O mercado não parece preocupado com a Rússia tomando a Ucrânia. O impacto maior talvez será na inflação, mas os preços já estão altos.

O Federal Reserve [banco central dos Estados Unidos] vai começar a alta de juros em março. Acreditamos que vai ser um aumento de 25 pontos-base, e assim por diante. Temos pela frente no mínimo mais sete altas consecutivas. A economia americana vai crescer em torno de 3,5% a 4% neste ano, o Brasil em torno de 1%.

Então a grosso modo talvez o maior impacto seja na inflação. A grande incerteza é se o governo da Ucrânia disser: não vou me render, vou lutar, vou mandar gente.

E como fica o real nessa equação? Hoje está perdendo mais que outras moedas emergentes.

A tendência é o real ficar mais perto de R$ 5. Sem guerra nenhuma, nossa visão é que tende a cair abaixo de R$ 5, mas se ficar entre R$ 5 e R$ 5,10, não é o fim do mundo.

Independentemente do conflito, você vê esse fluxo forte de estrangeiros vindo para a bolsa brasileira se mantendo daqui para a frente?

Acho que continua. Tem um movimento de realocação de ativos. O S&P 500 performou bem durante o último ano, e os estrangeiros começaram a realocar recursos para emergentes, e o Brasil é a escolha, porque temos ativos não tão caros.

Os bancos ainda negociam a níveis de múltiplos bem decentes, as commodities estão subindo, então a tendência é que a Bolsa pelo menos se estabilize em patamares altos.

Esse fluxo vai continuar. Se houver uma normalidade maior, o Ibovespa ainda pode andar uns 10% a 15%.

 

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