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Ibovespa afunda mais de 3% e volta aos 102 mil pontos por receio com nova variante do coronavírus

Índice devolveu alta recente por medo de nova onda de restrições a funcionamento da economia

Beatriz Cutait

Beatriz Cutait

Depois de uma sequência de três altas consecutivas, que levaram o Ibovespa a encostar nos 106 mil pontos, a Bolsa brasileira sucumbiu nesta sexta-feira, 26, ao clima global de maior aversão ao risco, em meio aos receios de investidores com a nova variante do coronavírus.

O Ibovespa fechou em queda de 3,39%, aos 102.224 pontos, e acumulou baixa de 0,79% na semana. No acumulado do mês, o índice passou para o campo negativo, com perda de 1,23% e, no ano, acumula queda de 14,1%.

Em Wall Street, os mercados também tiveram prejuízo, em pregão mais curto pelo feriado de Ação de Graças. O índice Dow Jones caiu 2,53%, aos 34.899 pontos; o S&P 500 teve queda de 2,27%, a 4.595 pontos; enquanto o índice de tecnologia Nasdaq cedeu 2,23%, aos 15.492 pontos.

A análise inicial é de que esta cepa, encontrada na África do Sul, poderia ser mais transmissível e capaz de contornar a proteção das vacinas.

Até então, as preocupações com a Covid-19 giravam em torno do recente aumento de casos na Europa. A perspectiva era de que a grande proporção de população vacinada evitaria um novo fechamento das economias. Uma variante resistente aos imunizantes atuais mudaria este cenário.

“Os mercados entraram em modo de busca por segurança total após notícias de que esta variante carrega um número alto de mutações na proteína ‘spike‘, que é o alvo das vacinas”, disse o banco norueguês Nordea, em um relatório. “Estão naturalmente especulando que lockdowns vão se tornar um fato”, acrescentou.

A onda de aversão ao risco começou no pregão asiático e continuou nas bolsas europeias, por aqui, com o Ibovespa, e nos Estados Unidos.

O surgimento da nova variante do coronavírus pode afetar a recuperação da economia global e levar a um aumento de aversão a risco, o que colocaria o Brasil, que já vem mostrando um crescimento mais fraco e uma inflação elevada, em um cenário ainda mais desafiador, afirmou Alberto Ramos, diretor de macroeconomia do Goldman Sachs.

Com o crescimento menor, o Banco Central brasileiro pode preferir seguir com um ciclo de alta de juros menos agressivo, mas o quadro fiscal pode se agravar ainda mais com a queda de receita e a necessidade do governo de oferecer eventual suporte à população, disse Ramos.

O que se sabe sobre a nova variante

As informações disponíveis até agora, divulgadas pelo Ceri (Centro de Resposta Epidêmica e Inovação) da África do Sul, apontam que a nova cepa do coronavírus:

  • tem elevado grau de mutação;
  • tem chance de ser mais transmissível;
  • pode contornar a proteção trazida pelas vacinas atuais;
  • é detectável por testes PCR existentes.

Na província de Gauteng, que abriga Pretória, a capital administrativa da África do Sul, o Ceri calcula que 90% dos cerca de mil casos diários de Covid resultem da variante nova.

“Ela parece se espalhar muito rápido. Em menos de duas semanas, ela já domina todas as infecções após uma onda devastadora da [variante] delta na África do Sul”, disse o diretor do Ceri, Tulio de Oliveira, ao apresentar as descobertas.

Destaques da sessão

As ações do segmento de viagens foram as mais atingidas no pregão brasileiro. Gol (GOLL4 -11,81%), Azul (AZUL4 -14,18%), CVC (CVCB3 -11.07%) e Embraer (EMBR3 -8,41%) registraram algumas das perdas mais intensas do Ibovespa.

O presidente Jair Bolsonaro rejeitou hoje cedo a hipótese de fechar aeroportos, mas a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recomendou restrições temporárias a voos e viajantes vindos da África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue. Itália e França adotaram restrições semelhantes.

As empresas ligadas à produção de commodities também tiveram queda brusca, diante da perspectiva de que eventuais medidas de restrição à mobilidade e ao funcionamento da economia diminuirão a procura por estes produtos.

Neste grupo, os destaques foram Petrobras (PETR3 -4,36%; PETR4 -3,88%) e Vale (VALE3 -2,64%), que juntas correspondem a cerca de 24% do Ibovespa.

No caso das petroleiras, trata-se do reflexo da queda da cotação do petróleo. O barril de Brent cai mais de 5% no mercado futuro, na maior baixa diária desde julho, com a percepção de menor demanda à frente.

Apenas duas ações do Ibovespa fecharam o dia no campo positivo, com altas moderadas: SUZB3, com valorização de 0,15%, e TAEE11, com avanço de 0,11%.

Próxima semana no exterior

Os investidores monitoram na próxima semana dados de inflação da Alemanha, na segunda-feira, e da zona do euro, na terça-feira. O indicador é importante porque Banco Central Europeu (BCE) está mais preocupado com a possibilidade de a alta de preços ganhar força. A inflação mais forte pode levar a uma remoção antecipada das medidas de estímulo adotadas pela instituição, o que tende a ser negativo para as ações.

Na quarta-feira, saem dados sobre a atividade industrial da China, da zona do euro e dos Estados Unidos, e, na sexta-feira, números sobre o setor de serviços europeu e americano.

Também na sexta serão divulgados dados sobre o mercado de trabalho dos Estados Unidos, o indicador mais relevante da semana no exterior. Os investidores querem saber se a economia continua numa situação próxima à do pleno emprego. Se for o caso, isto pode aumentar o custo da mão de obra e segurar a inflação em níveis elevados.

No Brasil, foco em Brasília

Além dos dados sobre o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, que serão divulgados na quinta-feira, o foco no Brasil continuará sobre Brasília. O evento mais relevante será a possível votação da PEC dos Precatórios pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado na terça-feira, 30.

A PEC dos Precatórios é um assunto central para o mercado financeiro porque o formato final do texto definirá em quanto o governo federal conseguirá aumentar os gastos no ano que vem. Também mostrará se isso vai ocorrer dentro do teto que limita o crescimento da despesa pública à inflação.

O Ibovespa reage negativamente a notícias de adiamento da votação da PEC ou de alteração no texto porque elas elevam as chances de o governo adotar um plano menos responsável para botar de pé o Auxílio Brasil.

O Auxílio Brasil é o programa social que entra no lugar do Bolsa Família. O Planalto quer que ele garanta um pagamento mensal de R$ 400 aos beneficiários. O plano atual é obter os recursos para isso parcelando o pagamento de precatórios e ajustando a forma como é corrigido o teto de gastos públicos, e fazer isso via a PEC dos Precatórios.

Sem isso, a alternativa seria financiar o programa com créditos extraordinários. Embora eles exijam aprovação do Congresso, estão isentos de limites de despesa. Essa saída seria vista pelos investidores como falta de compromisso com o controle dos gastos públicos. A consequência seria o potencial fortalecimento da inflação, mais altas nos juros e efeitos negativos para os preços das ações.

Vale destacar na agenda os dados sobre o mercado de trabalho brasileiro – taxa de desemprego e criação de vagas serão publicados na terça-feira – e de produção industrial, na sexta-feira.

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