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Enjoei (ENJU3), Méliuz (CASH3) e Dotz (DOTZ3) custam menos de R$ 1, mas ações estão baratas?

Enjoei, Dotz e Meliuz (CASH3) são as techs que compõe a lista das 10 empresas que negociam abaixo de R$ 1 na bolsa brasileira

Foto: Shutterstock/Brian A Jackson

As ações de algumas companhias que já foram protagonistas nas carteiras dos investidores, hoje, estão sendo negociadas abaixo de R$ 1.

A Marisa (AMAR3), por exemplo, uma veterana da Bolsa, derreteu 32% no acumulado de 2023 e se tornou uma penny stock, ação com preço abaixo de R$ 1, ao ser negociada por 85 centavos no fechamento do pregão de quarta-feira (15).

Mas não é somente a varejista que está nesse “barco”.

O cenário macroeconômico adverso, com juros e inflação elevados, resulta em maiores custos e despesas para as companhias, e aquelas em fase de crescimento são as que sentem os maiores impactos.

Neste caso, podemos mencionar o setor de tecnologia, que conta com penny stocks como Enjoei (ENJU3), Dotz (DOTZ3) e Méliuz (CASH3).

Apesar de serem comumente enquadradas como “tech”, estas companhias têm uma alta ligação com o varejo, uma vez que atuam como marketplace para vendas online.

Diante disso, uma queda no consumo por produtos online e maiores custos de dívida podem comprometer a capacidade de geração de caixa dessas companhias.

Setor de tecnologia e cenário para 2023

Este setor é o queridinho de muitos investidores, pois a maior parte das companhias apresenta alto potencial de crescimento no curto prazo. Por outro lado, os riscos inerentes aos investimentos são proporcionais.

Diante de um cenário global no qual a tecnologia evolui rapidamente, estas empresas precisam investir pesado em aperfeiçoamento e desenvolvimento das ferramentas para não ficar para trás no mercado.

Essa necessidade de grandes aportes para expandir operações e manter a competitividade significa que o lucro às vezes é deixado para o longo prazo.

Além disso, as despesas operacionais e com o pagamento de juros podem corroer os ganhos e levar a prejuízos no curto prazo.

Portanto, é natural que a maioria das companhias do setor de tecnologia demande maior quantidade de recursos, pois a necessidade de capital de giro para manter as operações é alta – os investimentos em expansão e P&D (pesquisa e desenvolvimento), por exemplo, são contínuos.

À espera de um cenário macroeconômico adverso para 2023, com manutenção dos juros em patamares elevados, estas empresas devem continuar com as margens de lucro pressionadas, e o retorno para o acionista deve ficar mais distante.

Dada a sensibilidade dos resultados à saúde da economia e o alto potencial de crescimento, os papéis companhias tendem a ser mais voláteis em relação àquelas mais consolidadas nos mercados.

IPO para ações surfarem onda “tech”

Tanto a Enjoei quanto a Dotz e o Méliuz abriram capital após a pandemia de Covid-19 em 2020. Como na época os juros no Brasil estavam nos menores níveis da história – a taxa básica chegou a 2% naquele ano -, elas viram oportunidade para captar grande quantidade de recursos.

Uma taxa de juros baixa torna mais vantajoso colocar dinheiro em ações do que na renda fixa, além de deixar os investidores menos exigentes em relação ao retorno obtido com os investimentos.

Para melhor entendimento, os analistas utilizam a taxa básica de juros como uma das bases para mensurar o valor justo de um papel. Quanto menor a taxa, menor é o retorno necessário para superar o rendimento dos juros, e maior é o preço das ações, uma vez que a relação entre risco e retorno da renda variável pode estar mais atraente.

Para quem abre capital, isso significa que podem vender as ações por um preço relativamente mais alto do que num ambiente de juros maiores. Consequentemente, conseguem arrecadar mais recursos no mercado.

Os resultados das três companhias têm forte ligação com o varejo, uma vez que atuam com vendas online. A Enjoei oferece uma plataforma de compra e vendas, principalmente vestuário. Já a Dotz é um programa de fidelidade, enquanto a Méliuz atua com serviços de cashback.

Durante a pandemia, os resultados dessas companhias foram impulsionados pelo “boom” na demanda por serviços online, uma vez que havia restrições no acesso do consumidor às lojas físicas. No entanto, após fim destas barreiras, o varejo físico voltou a ser um concorrente das três companhias.

Além disso, a taxa básica de juros subiu de 2% para 13,75% ao ano num período curto, de menos de dois anos.

O volume bruto de vendas (GMV) das três empresas cresceu, mas continuou sendo insuficiente para cobrir os custos operacionais. Com isso, os resultados negativos e as margens de lucro limitadas tiraram o brilho dos olhos dos investidores.

Vale lembrar, porém, que como a lógica destas empresas é de crescimento acelerado das operações, elas estão preparadas para aguentar maiores custos operacionais no curto prazo – como gastos com contratação de pessoal, logística, investimentos em marketing e vendas, entre outros.

As ações estão baratas?

O crescimento no volume vendas é um sinal positivo para as companhias de tecnologia. Um GMV crescente pode desaguar em maiores receitas e maior participação de mercado.

Só a alta no volume de vendas, no entanto, não significa sucesso para companhia, ainda mais quando as margens de lucro ficam comprimidas e a receita não se converte em dinheiro no bolso da companhia.

Contudo, a Dotz e a Enjoei apresentam caixas robustos, fortes o suficiente para pagar todas as dívidas e adquirir as próprias companhias (fechando o capital, por exemplo).

Isso fica evidente quando se olha o chamado Valor de Firma (EV). O EV é representado pelo Valor de Mercado (número total de ações multiplicado pelo preço atual), somado às dívidas e subtraído o caixa.

Em resumo, este indicador mede o valor de uma empresa na totalidade. Em geral ele é positivo, mas em empresas com grande quantidade de dinheiro em caixa, baixo valor de mercado e pouca dívida, pode ficar negativo.

Investir numa empresa com EV negativo, em tese, é a similar a comprar dinheiro com desconto.

Enjoei e Dotz têm um EV negativo porque, mesmo se pagassem todas as dívidas, teriam em caixa um valor maior que o de mercado.

A Méliuz apresenta um EV positivo, mas o valor das dívidas é baixo, o que traz maior segurança para o investidor.

Por outro lado, uma grande quantidade de caixa pode ser reflexo da incapacidade em gerar caixa a partir das atividades operacionais. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de todas as três estava negativo no acumulado de 12 meses.

Os recursos disponíveis podem ser utilizados para manutenção das operações em atividade, como pagamentos de salários, aluguel e fornecedores, o que por sua vez compromete os investimentos e reduz o retorno ao acionista.

Tudo que é bom dura pouco?

O Ebitda negativo significa que as receitas provenientes das atividades principais da companhia são insuficientes para cobrir os custos.

Se precisar queimar caixa constantemente, a empresa eventualmente ficará sem dinheiro e precisará buscar financiamento.

Neste contexto, as techs podem enfrentar dificuldade na captação de crédito, que pode vir por duas vias: capital dos sócios ou de terceiros.

Em relação ao capital dos sócios, a companhia poderia realizar nova emissão de ações, mas a um baixo valor de mercado. Ou seja: vender novas ações renderia pouco e poderia não refletir o preço justo das ações.

Já para utilizar capital de terceiros, pode haver maior dificuldade, principalmente após o caso Americanas (AMER3). Os bancos podem restringir o acesso ao crédito, em especial para companhias com maior risco de calote, o que limitaria as fontes de financiamento para estas companhias.

Para melhor assertividade, é importante considerar os fatores relevantes, como ambiente em que a companhia está inserida, atividade principal, perspectivas para longo prazo, entre outros. Isto porque a avaliação de companhias “techs” envolve alto grau de incerteza e subjetividade.

Recomendação dos analistas

De acordo com compilado feito pela Refinitiv e apresentados na plataforma do TradeMap, a opinião dos analistas é dividida, mas a maioria das recomendações é para manutenção dos papéis em carteira - ou seja, nem compra, nem venda.

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