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Em sessão volátil, Ibovespa volta a fechar em alta após decisão do Fed

Reação positiva seguiu um comunicado em linha com o esperado pelo mercado

Foto: Joshua Roberts/Reuters

Apesar de ter passado a maior parte do pregão no território negativo, o Ibovespa inverteu o sinal após a divulgação da decisão do Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos) e, depois de intensa volatilidade, fechou em alta de 0,63%, aos 107.431 pontos.

A reação positiva, em um primeiro momento, deveu-se ao fato de o comunicado ter vindo em linha com o que era antecipado, em tom hawkish, ou seja, pendendo para a elevação da taxa de juros.

Comunicado do Fed

O banco central manteve inalterada a taxa de juros, alegando ser necessária uma maior recuperação do emprego antes de qualquer movimentação. A retirada de estímulos, no entanto, será acelerada, e as compras de títulos públicos serão reduzidas em US$ 30 bilhões por mês, o dobro do ritmo atual. O movimento tem como objetivo combater a escalada da inflação.

Os destaques, na visão de Étore Sanchez, analista-chefe da Ativa Investimentos, foram a supressão de comentários sobre a transitoriedade da inflação e a menção de avanços importantes no mercado de trabalho. As novas variantes da Covid-19 foram citadas como riscos para a economia do país.

O chamado “dot plot”, relatório que compila as expectativas dos membros do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto, do Fed),  sinaliza três elevações de taxa de juros em 2022, acréscimo em relação às duas altas previstas no relatório anterior. Nesse cenário, a primeira elevação da taxa ocorreria na reunião do fim do terceiro trimestre de 2022.

Na análise de João Beck, economista e sócio da BRA, “ficou claro que aumentou a preocupação do comitê em relação à inflação, retirando a classificação de ‘transitória’ do comunicado oficial”.

Em relação à repercussão no mercado brasileiro, Beck lembrou que “a taxa de juros muito baixa por muito tempo faz com que obviamente” haja um estímulo à busca dos investidores por empresas de tecnologia e criptoativos, para ter mais rentabilidade. “Poderemos ver durante um tempo a reversão dessa tendência”.

Ainda assim, as ações de tecnologia subiram após o comunicado, com destaque para os papéis do Banco Pan (BPAN4), que fecharam em alta de 6,01%, a R$ 11,47, após despencarem no pregão anterior. Locaweb (LWSA3), Banco Inter (BIDI11) e Totvs (TOTS3) também apresentaram avanços, de 4,85%, 4,39% e 2,91%, respectivamente.

Outros setores também reagiram de maneira especialmente forte ao comunicado, com destaque para varejistas e construtoras. Entre os principais nomes do setor, Magazine Luiza (MGLU3) e Americanas (AMER3) tiveram avanços de 7,49% e 7,46%, nesta ordem, enquanto Cyrela (CYRE3) e EzTec (EZTC3) subiram 1,3% e 3,28%.

Cenário doméstico

Outro ponto de destaque foi a aprovação em segundo turno, pela Câmara dos Deputados, do texto-base da PEC dos Precatórios. A notícia é vista com bons olhos pelo mercado pois, além de a PEC ser considerada uma das alternativas “menos piores” para lidar com o rombo nas contas públicas neste momento, sua aprovação abre caminho para a deliberação de novas pautas.

Destaques corporativos

A principal notícia corporativa do dia foi a aprovação, pelo Cade, da fusão entre Unidas e Localiza. A decisão veio com ressalvas, impostas com o objetivo de limitar a concentração no setor e não atrapalhar a concorrência.

Depois do comunicado do Cade, as locadoras informaram, em fato relevante, que irão avaliar as novas condições para definir se irão seguir com a combinação de negócios. A expectativa da Ativa Investimentos é que a operação seja mantida.

O Goldman Sachs, em relatório distribuído nesta tarde, avaliou de maneira positiva a decisão do órgão: “Nós vemos a decisão favorável como estrategicamente positiva para a Localiza, pois acreditamos que a fusão proposta irá criar sinergias potenciais principalmente devido a uma escala maior.”

Os papéis da Localiza (RENT3) fecharam o dia em alta de 3,13%, a R$ 59,29, enquanto os da Unidas (LCAM3), que passaram o dia todo entre as maiores altas do Ibovespa, terminaram o pregão em alta de 4,43%, a R$ 26,62.

Em termos setoriais, o grande destaque foram os frigoríficos, que subiram em bloco após a retirada do embargo da China sobre a carne bovina brasileira. O embargo foi implementado em setembro na sequência de casos identificados de vaca louca.

Os papéis das empresas já haviam disparado no pregão anterior, na contramão do Ibovespa, sem razão clara além da alta do dólar, que favorece exportadoras. A expectativa para o setor é de um final de ano positivo e um 2022 promissor, ou de recuperação.

No fechamento de hoje, Minerva (BEEF3), que liderou o Ibovespa durante todo o dia, era cotada a R$ 9,84, alta de 11,19%, seguida de JBS (JBSS3), que subiu 2,44%, e BRF (BRFS3), com avanço de 1,09%. O único ponto fora da curva foi Marfrig (MRFG3), que caiu 1,32%, em um possível movimento de realização de lucros.

As maiores altas do Ibovespa no fechamento eram de Minerva, Magalu e Americanas. Liderando as baixas, por outro lado, vinham Iguatemi (IGTI11), com queda de 2,78%, Dexco (DXCO3), que perdeu 2,28%, e Ecorodovias (ECOR3), em baixa de 2,1%.

O destaque na ponta negativa, no entanto, foi a Eletrobras (ELET3), que fechou em baixa de 0,41%, a R$ 34,38, em reação à demora do Tribunal de Contas da União (TCU) em deliberar sobre o projeto de privatização da empresa.

No meio da tarde, o Banco do Brasil se tornou uma das maiores baixas do Ibovespa, em movimento de correção. O papel fechou em baixa de 1,72%, a R$ 31,51.

Exterior

Após passarem o dia inteiro no vermelho, também os índices de Nova York começaram a subir depois do comunicado do Fed. Dos principais índices de Wall Street, Nasdaq teve a maior alta no fechamento, de 2,15%, seguido de S&P 500, que avançou 1,63%, e Dow Jones, que subiu 1,08%.

No final das contas, o impacto do comunicado nos mercados foi neutro. Rafael Ribeiro, analista de investimentos da Clear Corretora, explica: “Essa percepção (combater a inflação agora, ao invés de aguardar uma piora maior do cenário) ajuda a explicar o comportamento neutro dos mercados, pois, como disse, foi um comunicado hakwish pelo Fed que deveria pesar mais nas bolsas pelo mundo”.

Apesar de o Fed ter amenizado um pouco as preocupações inflacionárias dos investidores, o resto do mundo segue à espera de decisões de política monetária de diversos bancos centrais. A expectativa é que a maior parte destas instituições siga os passos do Fed, retirando estímulos econômicos.

Na Europa, o EuroStoxx 50 fechou em alta de 0,36%, o FTSE 100, de Londres, caiu 0,65%, enquanto o DAX, da Alemanha, subiu 0,18%.

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