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Dólar mais perto de R$ 5 ou acima de R$ 6? O que esperar do câmbio em 2022

Riscos domésticos e globais podem pressionar ainda mais o câmbio, mas juros em alta podem equilibrar equação

Há uma brincadeira no mercado financeiro de que há formas melhores de se perder a reputação do que tentar fazer projeções para o câmbio.

Essa piada com a imprevisibilidade da cotação do real em relação ao dólar se torna mais atual do que nunca neste momento. 2022 é um ano de eleições presidenciais, o que traz ainda mais volatilidade à mesa. O cenário internacional também está particularmente incerto, com as dúvidas sobre quando grandes economias, como os Estados Unidos, começarão a elevar os seus juros.

Afinal de contas, o mais provável é que o dólar suba ainda mais, se aproximando ou mesmo ultrapassando os R$ 6,00, ou fique mais perto de R$ 5,00?

Emerson Marçal, coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), lembra que essa pergunta será respondida principalmente pelo comportamento do nosso risco-país. O indicador mede qual a chance de o Brasil dar um calote na sua dívida pública.

Atualmente, o CDS (Credit Default Swap, que é um indicador do risco dos títulos públicos brasileiros) de cinco anos está em 245 pontos — bem acima dos 170 pontos de janeiro, segundo dados da Investing.com.

“Essa é a variável principal. O risco-país vai ter uma trajetória mais benigna ou até subir mais? Lembrando que essa alta recente tem a ver com o que está acontecendo neste ano com os precatórios [dívidas das quais a União não pode mais recorrer]. Isso é renegociação unilateral de dívidas, e é muito ruim”, aponta o economista.

Marçal se refere à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, que prorroga parte do pagamento de R$ 89 bilhões dessas dívidas para anos seguintes e altera o teto de gastos (mecanismo que limita as despesas à inflação) para abrir mais de R$ 100 bilhões de espaço no Orçamento de 2022.

Essa decisão já foi precificada pelo mercado, na forma de alta dos juros futuros e do dólar e de queda da Bolsa. A dúvida é se o quadro pode piorar ainda mais se a proposta não for aprovada, o que levaria o governo a prorrogar o auxílio emergencial, que contempla um número maior de beneficiários e que não está previsto na legislação.

No início do ano, os analistas ouvidos pelo Boletim Focus, pesquisa semanal do Banco Central, esperavam um câmbio de R$ 5 ao fim deste ano. Agora, as projeções apontam para o dólar cotado em R$ 5,50 em dezembro de 2021 e de 2022.

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Na B3, por volta das 12h20 desta segunda-feira, 29, o contrato de dólar futuro com vencimento em dezembro de 2021 era negociado em alta de 0,84%, a R$ 5,63. Assim como acontece no mercado de juros futuros, a moeda americana é negociada com diferentes vencimentos ao longo dos próximos anos, o que pode ajudar o investidor a sentir a temperatura do que pode vir pela frente.

É possível acompanhar a cotação de diversos contratos do dólar futuro na plataforma do TradeMap.

Para pesquisar o vencimento desejado, é só digital o radical DOL, seguido da letra correspondente ao mês de vencimento (F, G, H, J, K, M, N, Q, U, V, X ou Z, ou seja, de janeiro a dezembro, na ordem cronológica) e dos dois números correspondentes ao ano de vencimento do contrato.

Tempestade perfeita

Para a Capital Economics, consultoria especializada em macroeconomia, as notícias não são favoráveis para a moeda brasileira, que desde julho teve o pior desempenho entre as divisas dos grandes países em desenvolvimento, atrás somente da lira turca. A avaliação da equipe de mercados emergentes da consultoria é que o dólar deve terminar 2022 cotado a R$ 6.

“Os riscos fiscais do Brasil pioraram nos últimos meses, o que aparentemente causou uma alta no prêmio de risco”, apontam os analistas em relatório. “Em segundo lugar, os termos de troca do Brasil também se deterioraram desde julho, o que aconteceu principalmente por causa da forte queda no preço do minério de ferro, que é um dos principais produtos exportados pelo país [ou seja, o recuo nas cotações do minério prejudica a vantagem brasileira na relação entre exportações e importações]”.

Por fim, a consultoria frisa que a economia global também piorou. “A recuperação da economia global ficou mais lenta, as preocupações com a China aumentaram, e o Fed [banco central do EUA] se tornou mais hawkish [ou seja, mais propenso a elevar juros].”

Dessa forma, a economia brasileira vive hoje quase uma tempestade perfeita, em que tanto o cenário doméstico como o internacional estão desfavoráveis.

Na avaliação do economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso, é esse cenário que pode levar o dólar para R$ 6,15 no ano que vem. “A tendência é que em algum momento no fim do ano que vem os juros comecem a subir no mundo todo. E ambientes assim conversam com um dólar mais forte”, aponta.

Juros em alta podem equilibrar essa equação

Por outro lado, há outro fator nessa equação, que pode conter uma desvalorização maior do câmbio: o fato de os juros básicos estarem em alta acelerada no Brasil. Na tentativa de conter a inflação e como uma resposta do BC à deterioração do cenário fiscal, a Selic deve terminar 2022 em 11,25%, segundo analistas ouvidos pelo Boletim Focus.

“O dólar tende a perder um pouco de força”, avalia o economista-chefe da Necton, André Prefeito, que acredita que a moeda americana ficará mais próxima de R$ 5 do que de R$ 6. “Que país vai poder oferecer juros de 11,5% com reservas de R$ 300 bilhões como o Brasil? Esse é um retorno que não existe em nenhum lugar do mundo.”

Esse é um ponto que também é citado pelos analistas da Capital Economics.

“Mais aperto monetário provavelmente emprestará algum suporte ao real. De fato, se a política monetária continuar elevando as taxas de juros e a inflação retrair, a taxa real [descontada a variação de preços] alcançaria 7% no final de 2022. Seria significativamente mais alta do que a maior parte das grandes economias, e ajudaria a sustentar o real.”

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