Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Como a pandemia afetou a Cogna (COGN3) e o que esperar da companhia em 2022

Desde março de 2020, quando a pandemia teve início no Brasil, as ações da Cogna já se desvalorizam 75,80%

Cogna (COGN3). Foto: Divulgação

Desde março de 2020, quando a pandemia teve início no Brasil, as ações da Cogna já se desvalorizam 75,80%. A perda de valor, é claro, está diretamente ligada ao distanciamento social, que afastou os alunos das salas de aula, e a imposição do ensino à distância, que trouxe incertezas para a sustentabilidade da receita. A empresa e o mundo foram pegos de surpreso, tendo que se adaptar rapidamente a uma nova realidade.

Figura 1: Cogna (linha verde) x IBOV (linha amarela) – Rentabilidade

Fonte: TradeMap

Para ser mais preciso, todas as atividades presenciais das unidades de ensino superior, polos e escolas da empresa foram suspensas no dia 16 de março. Na mesma semana, a companhia deixou os seus empregados em home office. Para os alunos de Ensino Superior Presencial, a empresa realizou a migração imediata de todas as aulas para o ambiente virtual.

Em relação aos alunos de Ensino Superior EAD, a continuidade das atividades foi garantida com os tutores em regime de home office, atendendo aos alunos normalmente.

Por fim, na Educação Básica, desenvolveram a Escola Digital, através da integração das plataformas Plurall e Plurall Maestro, com o Google Hangouts Meet, permitindo que os alunos tivessem aulas ao vivo, além de todos os conteúdos habitualmente disponíveis no Plurall, como realização de tarefas e exercícios, acesso a tutores e uma biblioteca de conteúdos em diversos formatos.

No caso de Kroton e Platos, duas unidades de negócios da Cogna que atuam com ensino presencial e virtual, é possível observar, pelos gráficos abaixo, como a pandemia afetou o número de alunos em cada modalidade de ensino:

Figura 2: Kroton: presencial vs EAD

Fonte: Cogna

Figura 3: Platos: presencial vs EAD

Fonte: Cogna

A educação no Brasil

No Brasil, o setor de educação é dividido em duas etapas: o ensino básico (infantil, fundamental e médio) e o ensino superior.

Grande parte do ensino básico se concentra nas escolas públicas. Dos 47,3 milhões de alunos da educação básica, 80%, ou 38,7 milhões de estudantes, estão matriculados na rede pública de ensino, segundo os dados do Censo Escolar da Educação Básica de 2020, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

As escolas do ensino público no Brasil têm resultados inferiores aos de escola privadas. Quando verificadas as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2020, as escolas privadas tiveram um desempenho 18% superior à média das públicas.

No ensino superior, o ensino privado também se destaca. No país, existem 2.608 instituições de ensino, que oferecem 40.427 cursos de graduação e 36 cursos sequenciais. Deste total, 80% são de faculdades privadas.

Diferentemente da educação básica, a oferta pública de educação superior é limitada. Desse modo, para fomentar o acesso da população de menor renda, o governo fornece programas sociais para estudantes, como o Programa Universidade para Todos (Prouni), que garante bolsas integrais ou parciais, e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), com financiamento estudantil a estudantes de cursos de graduação de instituições privadas cadastrados no sistema.

Segundo dados do Ministério da Educação (MEC) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2020, o Brasil ocupava a posição de 5º maior mercado de ensino superior do mundo e o maior da América Latina, com aproximadamente 8 milhões de matrículas.

Quais são as empresas do setor de educação listadas na B3?

Atualmente, estão listadas na bolsa de valores brasileira as empresas Ânima (ANIM3), Bahema (BAHI3), Cogna (COGN3), Cruzeiro do Sul Educacional (CSED3), Ser (SEER3) e Yduqs (YDUQ3).

A crise econômica em consequência da pandemia, combinada às mudanças cotidianas forçadas pelo distanciamento social, afastou, de certa forma, as perspectivas positivas de médio e longo prazo para o setor educacional.

Por outro lado, o ensino digital (EAD) ganhou a maior relevância que já teve nos últimos anos, tanto da parte dos alunos, que viram valor no formato flexível das atividades e no preço mais atrativo, quanto por parte das instituições, que aumentaram os investimentos em tecnologia e produção de conteúdo digital.

Para os próximos trimestres, o cenário para as companhias é positivo, em razão do avanço do processo de vacinação.

Segundo executivos da Cogna no Investor Day, eles acreditam em uma retomada de captação de alunos no presencial a partir de 2022. É possível que o início do ano ainda mostre dificuldades, mas com uma recuperação mais sólida ao longo do ano, pois existe uma demanda reprimida de alunos que querem estudar presencialmente e tiveram que adiar os planos por causa da pandemia.

No Enem, a Cogna faz um controle de interesse por modalidade e, segundo os executivos, houve um aumento na modalidade presencial. Mas, ainda assim, o foco da Cogna será apostar em cursos presenciais que fazem o aluno desembolsar recursos maiores ao longo do período em que está matriculado.

Cogna Educação

A Cogna Educação (anteriormente Kroton Educacional) foi fundada em 1966 em Belo Horizonte a partir da criação de uma empresa de cursos pré-vestibular chamada Pitágoras. É negociada na B3 sob o código COGN3.

Atua em todos os níveis escolares, tais como: pré-escolar, ensino primário e secundário, ensino secundário para adultos, vestibular, cursos livres, educação superior e pós-graduação, entre outros.

A empresa também está envolvida na distribuição, atacado, varejo, importação e exportação de livros didáticos e revistas, entre outras publicações. Além disso, a companhia também possui um setor de licenciamento de marcas e produtos pedagógicos. As marcas utilizadas em suas operações são: Pitágoras, Unic, Unopar, Unime, Ceama, Unirodon, Fais, Fama e União.

A companhia é dividida em quatro frentes de negócios:

– Kroton

– Vasta Educação

– Plataforma B2C

– PNLD & B2G

Figura 4: Pilares Cogna

Fonte: Cogna

Dentro da Kroton, os segmentos são: Kroton (Campus e digital), Platos (Pós-graduação e OPM – Online Program Management), Ampli (Ensino digital) e KrotonMed (Ensino Médico e adjacências).

A Vasta Educação, que cuida da parte de educação básica, é uma plataforma completa para as escolas. Conta com quatro pilares: sistema de ensino tradicionais, soluções complementares (aulas em outras linguagens, educação financeira, entre outros), B2B2C (aulas particulares) e serviços digitais (e-commerce, conteúdo digital). Atualmente, contam com 4508 escolas clientes, que utilizam a plataforma, pretendendo em 2022 chegar a mais de 5000.

Figura 5: Número de escolas parceiras vasta

Fonte: Cogna

A plataforma B2C também é dividida em alguns segmentos, sendo eles: Marketplace (venda de cursos das empresas da Cogna e de terceiros), Emprego e Renda (soluções de empregabilidade e renda para atender alunos e empresas), infoprodutores (Infoprodutores produzem, vendem e distribuem conteúdos), afiliados (permite afiliados a venderem conteúdos de terceiros) e fintech (conta digital e serviços financeiros para participantes do ecossistema da plataforma e Cogna).

Figura 6: Plataforma B2C

Fonte: Cogna

E, por fim, PNLD E B2G, que contam com o Red Balloon (Escola de inglês) e SETS, responsável pela comercialização de livros com a marca Saraiva para ensino superior.

Kroton e Vasta Educação, as principais apostas da companhia

Em relação à Kroton, a empresa conseguiu concluir os objetivos propostos para 2021, como: otimização de portifólio de cursos (42 novos cursos digitais lançados em 2021), revisão do footprint (redução de aluguel em 21% ao ano) e otimização imobiliária (16 campus unificados e 29 transferidos para parceiros), otimização de custos e despesas (redução média de 17% em custos de folha, aluguel e despesas utilities e facilities) e aumento da conversão de receita em caixa.

Em 2021, foi possível observar uma retomada do ciclo de crescimento na base de alunos (Kroton), chegando a 858 mil alunos no terceiro trimestre de 2021, ante 786 mil no terceiro trimestre de 2020. A empresa, porém, ainda tem longo percurso para retomar os números de 2015, quando teve início uma recessão econômica.

Figura 7: Número de alunos Kroton 3 trimestres de cada ano

Fonte: Cogna

Para os próximos anos é esperado um aumento contínuo da base de alunos, com alguns fatores que podem vir a acelerar o crescimento a partir de 2022, sendo eles: sucessivas safras de captação com crescimento relevante e crescimento contratado, ou seja, aumento do número de polos parceiros e aumento de portfólio de cursos EAD.

Analisando os resultados, nos nove primeiros meses de 2021, a captação cresceu 38%, sendo 22% no presencial e 40% no EAD, e a base de alunos cresceu 8%. A adimplência melhorou 8 pontos percentuais desde o primeiro de trimestre de 2020 e a margem Ebitda ficou em 31% no acumulado de janeiro a setembro de 2021.

Segundo a empresa, a Kroton superou a meta proposta para 2022 já em 2021. A meta era alcançar 2300 unidades na rede de polos. No terceiro trimestre de 2021, este número já estava em 2259. Os novos polos já contribuem para a boa performance dos últimos ciclos de captação.

Figura 8: Rede de Polos

Fonte: Cogna

A Kroton está espalhada por todo o Brasil, atuando em mais de 1500 municípios brasileiros, trazendo 715 novos polos em 2021 e 11,4 mil ofertas de cursos.

Figura 9: Kroton pelo Brasil

Fonte: Cogna

Na Kroton, há a KrotonMed, uma das principais apostas da empresa. A mensalidade média paga pelos alunos do curso de medicina está em R$ 9,7 mil, um valor muito elevado comparado a outros cursos da companhia. Um exemplo é o bacharelado em psicologia que tem um valor aproximado de R$ 810,00 por mês. Existem sete IES (Instituições de Ensino Superior) que oferecem o curso presencial de medicina e saúde. Dessas, quatro já estavam funcionando em 2021, três têm início em 2022 e uma está prevista para o final de 2022 ou começo de 2023.

Para este ano, estarão disponíveis 636 vagas, contra 570 em 2021, e estima-se 3000 alunos de medicina. Além disso, mais de 7000 alunos em cursos de saúde presencial e mais de 18000 alunos de outros cursos presenciais de alto valor agregado. Ainda há 819 polos EAD e um aumento potencial de mais de 250 polos EAD/ano.

A receita liquida esperada para 2022 é de R$ 482 milhões, com um Ebitda de R$ 224 milhões, com margem de 46%, da qual três quartos vêm da graduação em Medicina.

Figura 10: Base de alunos estimada de medicina

Fonte: Cogna

Olhando para a Vasta Educação, uma plataforma completa para as escolas, é possível observar o quanto a Cogna vem apostando no negócio. São cinco aquisições anunciadas desde novembro de 2020, sendo a mais recente a Eleva, 6º maior sistema de ensino no Brasil. Ela acrescenta um portfólio complementar de escolas. Conta com 471 escolas e 177 mil alunos.

A pandemia da Covid-19 atingiu severamente as escolas no início de 2021, com a segunda onda da doença, causando uma quebra atípica de ACV – valor de contrato anual (métrica que configura o ganho anual por aluno), além de um menor consumo de materiais didáticos.

Figura 11: ACV (R$ Milhões)

Fonte: Cogna

Além disso, para 2022 é esperado um total de 5383 escolas parceiras, número que, se comparado a 2019, representa uma expansão anual média de 7%.

Figura 12: Número de escolas parceiras

Fonte: Cogna

Contudo, é preciso olhar para Cogna no consolidado, tendo como principais destaques os resultados financeiros e operacionais do terceiro trimestre de 2021. A receita líquida consolidada atingiu R$ 1,2 bilhões, queda de 7% na comparação anual. A principal razão foi o recuo da Kroton, por conta da redução da base de alunos do presencial e da mudança do mix de alunos, com maior participação de ensino digital na base total, que possuem menor ticket médio. A receita de Vasta também diminuiu 9,9% na comparação trimestral. O crescimento da receita de outros negócios foi liderado pela receita de vendas do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).

O Ebitda recorrente cresceu 2,7% no quarto trimestre em relação a igual trimestre do ano anterior, com margem de 20,1%, refletindo resultados da reestruturação da Kroton e uma melhora da adimplência, que subiu 8,0 pontos porcentuais no acumulado de janeiro a setembro de 2021, em comparação a igual período de 2020.

O prejuízo líquido ajustado foi de R$ 121,9 milhões, queda de 25,2% na comparação anual, por causa de menores efeitos de itens não recorrentes, redução de despesas corporativas, recuo na depreciação e maior deferimento de impostos. Porém, o aumento de despesas financeiras no trimestre neutralizou parcialmente estes efeitos.

A geração de caixa operacional após investimentos totalizou R$ 192,9 milhões no terceiro trimestre de 2021, alta de 5,2% na base anual, e aproximadamente R$ 390 milhões no acumulado de janeiro a setembro, avanço de 114,4%.

Perspectivas

Segundo a companhia, no Cogna Day, realizado no dia 14 de dezembro, o guidance apresentado em 2020 foi mantido, mesmo com o desinvestimento na operação de escolas.

Figura 13: Guidance de EBITDA

Fonte: Cogna

Segundo o portal TradeMap, para 2022 é esperado um lucro líquido de R$ 164,37 milhões, aumento de 36,8% em relação à estimativa para 2021, de R$ 120,15 milhões.

Quando observamos as recomendações de mercado, as casas de análise estão divididas entre neutro e venda. Segundo 12 recomendações de instituições financeiro, nove têm posição neutra e três recomendam venda. A mediana do preço-alvo é de R$ 3,00 por ação, sendo um potencial upside de 15,83%.

Figura 14: Recomendações dos especialistas

Fonte: TradeMap

Compartilhe:

Mais sobre:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.