O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, está convencido de que precisa aumentar os juros com força para conter a inflação – mas erra ao achar que conseguirá fazer isso e, ao mesmo tempo, evitar uma recessão. A avaliação é do BlackRock Investment Institute (BII), braço de análise de uma das maiores gestoras de investimentos do mundo.
“O Fed ainda vê crescimento positivo neste ano e uma aceleração no ano que vem. Mas também quer evidências de que o núcleo da inflação está numa trajetória decisiva em direção a 2% ao ano antes de 2023 para parar de aumentar os juros. Esta conta do pouso suave não fecha para nós”, disse a instituição em um relatório.
“Pouso suave” é o termo usado pelo mercado financeiro para se referir à possibilidade de os juros subirem sem causar recessão econômica.
Nas contas do BII, sufocar a inflação com a rapidez que o Fed deseja diante do atual contexto de restrições na produção exigiria uma recessão que reduzisse a atividade econômica americana em 2% e aumentasse o número de desempregados do país em 3 milhões.
“Achamos que o Fed não só está subestimando que é preciso uma recessão, mas ignorando que ela é logicamente necessária”, afirmou o instituto.
As soluções para os dois problemas que geram inflação nos EUA atualmente, segundo o BII, estão fora do alcance do Fed. O primeiro é a oferta reduzida de bens, e o segundo é a lentidão com que o consumo migra da compra de produtos tangíveis para serviços.
O instituto aponta que a única forma de resolver estes desequilíbrios é esmagar a demanda com uma recessão profunda, e que a alternativa é conviver com níveis mais altos de inflação. “As previsões do Fed não reconhecem isto. Elas resolvem este dilema presumindo que os limites à produção serão dissolvidos rapidamente e que isso fará a inflação desacelerar.”
O BII ressalta que o mercado financeiro também trabalha com as mesmas premissas erradas do Fed, e que por isso não incorporou aos preços das ações todo o risco de uma recessão. Por isso, recomenda uma exposição reduzida às bolsas dos EUA e de outros países desenvolvidos.