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Até a Europa vai aumentar os juros – mas pode ter que parar logo para evitar recessão

Chance de recessão econômica na zona do euro pode ser obstáculo à sequência de alta nos juros prometida pelo BCE

Foto: Alexandros Michailidis / Shutterstock.com

Depois de passar meses resistindo a fazer uma sinalização mais dura contra a inflação, o BCE (Banco Central Europeu) finalmente cedeu. A instituição, que controla a política monetária da zona do euro, vai aumentar os juros em julho e em setembro, retirando a Europa do grupo cada vez menor de economias que rodam com taxas perto de zero.

A alta prometida para julho será de 0,25 ponto porcentual (pp). Em setembro, virá outra, que pode ser da mesma magnitude ou maior, e a partir daí são esperados mais aumentos. Tudo vai depender de como a inflação vai se comportar, nas palavras da própria instituição.

E foi justamente por esperar uma inflação elevada que o BCE adotou esta postura mais agressiva. Em março, o banco central ainda achava que, até 2024, a alta de preços desaceleraria para menos de 2% ao ano.

Agora, as projeções revisadas apontam para um cenário bem menos otimista – a expectativa é de que a inflação da zona do euro termine 2022 em 6,8%, e continue acima da meta de 2% ao ano até 2024, podendo ficar maior do que isso.

O mercado foi pego de surpresa pelo compromisso do BCE com uma sequência de alta nos juros, e reagiu já olhando para o outro lado da equação: com taxas mais altas e financiamentos ficando mais caros, aumenta também o risco de recessão. O índice Stoxx 600, que reúne ações de grandes empresas europeias, caiu 1,3% por causa deste cenário.

O BCE acha que conseguirá elevar juros sem prejudicar a economia – a previsão dos economistas da instituição é de crescimento de 2,8% no PIB (Produto Interno Bruto) neste ano e de 2,1% no próximo. Mas outros especialistas estão mais céticos com este cenário.

Recessão pode parar alta de juros na Europa

Segundo o Rabobank, a instituição poderia começar o ciclo de aumento nos juros com uma elevação de 0,50 pp em julho, visto que durante entrevista coletiva nesta manhã a presidente do BCE, Christine Lagarde, mencionou que os juros só não subiram hoje para evitar conflitos com a mensagem de gradualismo transmitida ao longo dos últimos meses.

A opção por começar o ciclo de alta de juros com um aumento de 0,25 pp, no entanto, sugere que há dúvidas dentro do BCE sobre o quão prejudicial o ajuste das taxas será para a economia.

“A nova previsão do BCE para o PIB parece bem otimista para nós, apesar da forte redução em relação à projeção feita em março”, disse o banco, acrescentando, porém, que o cenário alternativo do BCE, que se concretizaria em caso de mais aumentos nos preços de commodities e de outros fatores, é tão pessimista que implica uma recessão muito mais profunda do que a estimada pelo próprio Rabobank.

“Portanto, parece que o BCE vai querer observar os acontecimentos econômicos e geopolíticos antes de puxar o gatilho num aumento de juros mais intenso”, acrescentou.

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O banco ING ressalta o dilema do banco central e avalia que o espaço para aumentos de juros na zona do euro tem diminuído a cada dia.

“A decisão de hoje mostra que houve um acordo entre os doves [defensores de juros menores] e os hawks [que preferem a alta dos juros]. O aumento de 0,50 pp em julho foi descartado ao se deixar a porta aberta para um aumento de 0,50 pp em setembro.”

Para simplificar, o BCE anunciou o fim de uma longa era de política monetária não convencional. Se isso também será o início de uma era de aumentos contínuos nos juros, ainda estamos longe de saber.”

O banco Nordea ressalta que o mercado deve continuar hesitante em acreditar num aumento acelerado de juros na zona do euro. Segundo a instituição, a forma como o BCE mudou a mensagem sobre a política monetária deixa o mercado livre para apostar em aumentos de juros mais intensos daqui para frente se os dados mostrarem uma inflação mais resistente.

“No entanto, o mercado já espera cerca de dois aumentos de 0,50 pp para este ano, e isso já parece muito”, visto que nos Estados Unidos a inflação está mais alta que na Europa e, por lá, o mercado reluta em prever mais de três altas de juros consecutivas desta magnitude.

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