Ação da Ambev (ABEV3) volta a subir após boatos de fraude; entenda o caso

As ações da Ambev (ABEV3), que na quarta-feira (1) tiveram forte queda no preço em meio a um rumor sobre fraudes tributárias na companhia, voltaram a subir nesta quinta-feira (2), após a empresa desmentir a informação.

Ontem, a coluna Radar Econômico, da revista Veja, disse que a CervBrasil (Associação Brasileira da Indústria de Cerveja) acusou a Ambev de cometer uma fraude tributária estimada em R$ 30 bilhões. O número, segundo a coluna, veio à tona num estudo feito pela consultoria AC Lacerda.

A fraude, segundo o estudo, consistiria em inflacionar os preços de componentes usados na produção de refrigerantes e que são passíveis de isenção tributária. Isso aumentaria artificialmente os créditos fiscais obtidos pela empresa na Zona Franca de Manaus.

Vale ressaltar que a CervBrasil é uma associação de empresas concorrentes da Ambev. Entre as integrantes do grupo, estão o Grupo Petrópolis.

Segundo a Veja, o diretor-geral da CervBrasil, Paulo Petroni, afirmou que os movimentos tributários ilícitos da Ambev vinham acontecendo pelo menos desde 2017.

A informação caiu como uma bomba no mercado, em parte porque a Ambev é uma das companhias do portfólio do do Grupo 3G Capital, que também controla a Americanas (AMER3), varejista que está envolvida em escândalos de fraude financeira.

Depois das acusações da CervBrasil virem à tona, o economista André Paiva, da AC Lacerda, concedeu entrevista ao site O Antagonista desmentindo parte da informação publicada pela Veja. Segundo ele, o estudo realizado é referente a todas as indústrias de bebidas frias que atuam na Zona Franca de Manaus – e não só à Ambev.

Ele não soube dizer, segundo O Antagonista, qual parcela da fraude de R$ 30 bilhões estava relacionada especificamente à Ambev.

A Ambev disse que as acusações feitas pela CervBrasil não têm qualquer embasamento e que calcula todos os créditos tributários estritamente com base na lei.

A Genial Investimentos, porém, disse que os R$ 30 bilhões mencionados no estudo da AC Lacerda referem-se a estimativas da Receita Federal de créditos tributários acumulados e que estão sendo contestados pelo governo. Do total, cerca de R$ 5,6 bilhões seriam referentes à Ambev.

“Esses R$ 5,6 bilhões de fato não estão provisionados no balanço, por serem considerados como perda possível, e, de acordo com as normas contábeis, em casos de perdas possíveis não é necessário o provisionamento”, disse a Genial em relatório.

Quais os impactos nas ações?

O rumor sobre fraudes na Ambev deixou os acionistas da empresa nervosos, dado que já havia um receio em torno das empresas do grupo 3G por causa da inconsistência contábil na Americanas.

Portanto, as notícias envolvendo empresas do grupo podem gerar movimentos bruscos no preço das ações destas companhias, às vezes até de forma desproporcional.

Acusações de fraude, principalmente em empresas listadas na Bolsa brasileira, podem manchar a imagem de integridade e transparência dos resultados e levar à perda de credibilidade da companhia não somente para o investidor internacional, mas também para os investidores brasileiros pessoa física, que podem optar por outros investimentos em meio à desconfiança da real situação financeira da companhia.

As polêmicas de mercado podem respingar em todas as ações listadas na Bolsa de valores brasileira, principalmente nas de empresas envolvidas diretamente nas acusações – neste caso, a Ambev.

Na acusação contra a cervejeira, ainda que as informações tenham sido retificadas pela AC Lacerda, a consultoria não descartou o envolvimento da Ambev no caso das manobras tributárias, o que ainda deixa incertezas no ar.

Diante disso, os analistas de investimentos devem bombardear a cervejeira em buscar de respostas sobre possível fraude tributária. A Ambev fará teleconferência com os analistas sobre os resultados do quarto trimestre só daqui a um mês, em 2 de março.

No pregão de ontem, as ações da Ambev fecharam em queda de 3,51% em meio aos boatos de fraude.

No entanto, após a consultoria desmentir parte das acusações, as ações voltaram a subir 0,6% na manhã desta quinta-feira (2).