Ibovespa sobe com IPCA-15 abaixo do esperado e alívio externo

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O Ibovespa encerrou a quarta-feira (25) em alta de 0,99%, aos 137.114 pontos, refletindo o otimismo dos investidores com o cenário externo mais favorável e o IPCA-15 abaixo do esperado. A prévia da inflação oficial subiu 0,26% em junho, resultado inferior à mediana das projeções do mercado, que apontava para uma alta de 0,31%. Esse dado reforçou a percepção de que o quadro inflacionário segue benigno, o que alimenta as apostas em uma possível redução da Selic nos próximos meses. Essa expectativa beneficiou especialmente o setor de varejo, com destaque para os papéis da Azzas (AZZA3), Natura (NTCO3) e Vivara (VIVA3), que figuraram entre as maiores altas do pregão.

No cenário internacional, o mercado reagiu à possibilidade do presidente dos EUA, Donald Trump, indicar um nome alinhado a seu governo para o comando do Federal Reserve. A perspectiva de uma autoridade monetária mais inclinada a políticas expansionistas pesou sobre o dólar, que perdeu força globalmente, com o dólar PTAX desacelerando 0,51% e fechando o dia cotado a R$ 5,5145. Além disso, a revisão dos dados do PIB dos Estados Unidos acentuou a percepção de desaceleração econômica. No primeiro trimestre, a economia americana encolheu a uma taxa anualizada de 0,5%, abaixo da retração de 0,2% informada anteriormente. O recuo foi atribuído à fraqueza nos gastos dos consumidores, que cresceram apenas 0,5% no período, ante estimativa anterior de 1,2%.

No ambiente doméstico, o mercado também repercutiu a derrota do governo no Congresso, que derrubou o decreto que aumentaria as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre câmbio, crédito, fundos e seguros. A decisão teve apoio tanto da base quanto da oposição e frustrou uma expectativa de arrecadação entre R$ 10 bilhões e R$ 20 bilhões para este ano. O episódio trouxe sinais ambíguos para os agentes econômicos: por um lado, representou um alívio do ponto de vista microeconômico, ao reduzir a carga tributária sobre operações financeiras; por outro, acendeu um alerta sobre a fragilidade das contas públicas, ao abrir uma lacuna fiscal considerável.

Diante da decisão do Congresso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo avalia judicializar o caso, por entender que a derrubada do decreto é inconstitucional. Haddad disse ainda que outras duas medidas estão em análise para compensar a perda de arrecadação: a busca por novas fontes de receita, como dividendos de estatais ou recursos ligados à exploração do petróleo, e a ampliação do contingenciamento orçamentário. Segundo ele, além dos R$ 30 bilhões já bloqueados no orçamento, seria necessário cortar mais R$ 12 bilhões, o que afetaria diretamente áreas sensíveis como saúde, educação e habitação popular. O ministro também declarou que acreditava ter fechado um “baita acordo” com o Congresso para calibrar as alíquotas, mas foi surpreendido com o resultado da votação. Ele reafirmou o compromisso do governo com a justiça tributária, com foco em reduzir impostos para os mais pobres e aumentar a carga sobre os mais ricos.

A leitura do mercado é de que, com a frustração das receitas esperadas e diante das incertezas em torno das demais medidas fiscais — como a revisão dos gastos tributários e a MP 1.303 —, a chance de alteração da meta fiscal para 2026 aumentou. Segundo especialistas, mesmo que todas as medidas propostas fossem aprovadas, seria necessário um corte adicional de até R$ 30 bilhões para atingir a meta. Sem as receitas do IOF, esse número tende a crescer ainda mais. Além disso, como o espaço para cortes de despesas discricionárias é limitado, cresce a probabilidade de mudança da meta já em agosto, quando o governo envia o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) ao Congresso.

Entre as ações que mais contribuíram para a alta do Ibovespa, destaque para a Vale (VALE3), que subiu 3,01%, acompanhando a valorização do minério de ferro no mercado internacional. A Petrobras também teve desempenho positivo, com alta de 0,80%, impulsionada pela nova elevação nos preços do petróleo.

No noticiário corporativo, Movida (MOVI3) e Localiza (RENT3) sofreram quedas expressivas, após rumores sobre dois novos programas do governo voltados ao setor automotivo: o IPI Verde e o Carro Sustentável. Segundo apuração de analistas, o IPI Verde criará um novo sistema de tributação que beneficia carros mais eficientes e menos poluentes, enquanto veículos com alto consumo e maior emissão de gases devem ser penalizados com alíquotas mais altas. Já o programa Carro Sustentável prevê a redução do IPI para automóveis mais baratos, desde que produzidos no Brasil e atendam a critérios específicos. A expectativa de desvalorização da frota atual impactou negativamente o mercado de locadoras: as ações da Movida recuaram 13,89% e as da Localiza, 7,28%. Analistas lembram que medidas semelhantes em 2008 e 2012 geraram perdas contábeis para as locadoras, apesar de efeitos neutros sobre o fluxo de caixa.


As listas das maiores altas e baixas da carteira do Ibovespa ficaram assim:


Altas

• Azzas (AZZA3): +5,97%

• Natura (NTCO3): +4,97%

• Vivara (VIVA3): +4,26%

• TIM (TIMS3): +4,03%

• MRV (MRVE3): +3,63%


Baixas

• Localiza (RENT3): -7,28%

• Vamos (VAMO3): -7,14%

• Vibra (VBBR3): -2,26%

• RaiaDrogasil (RADL3): -1,68%

• Eneva (ENEV3): -1,59%


EUA

Os principais índices de Nova York encerraram o dia em alta:

• Dow Jones: +0,94%

• Nasdaq: +0,97%

• S&P 500: +0,80%


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