O Ibovespa fechou o mês de maio com valorização de 1,45%, movimento que pode ser atribuído, em parte, à entrada de capital estrangeiro em meio a um cenário global de maior apetite por risco. A reprecificação de ativos em mercados emergentes e a relativa estabilidade recente do câmbio e dos juros no Brasil favoreceram o fluxo para a Bolsa, mesmo diante de incertezas fiscais e políticas internas. Esse contexto contribuiu para a valorização de ações de empresas com perspectivas de recuperação ou com notícias corporativas relevantes.
Entre as maiores altas do mês, a Azzas (AZZA3), empresa formada pela fusão entre Arezzo&Co e Grupo Soma, liderou o Ibovespa com uma alta de 38,66%. A companhia apresentou um lucro líquido de R$ 117,7 milhões no primeiro trimestre de 2025, com avanço de 15,6% em relação ao ano anterior e variação de 61,2% em relação ao mesmo trimestre de 2024. Além disso, o Ebitda recorrente subiu 23,3%, totalizando R$ 427,7 milhões. O mercado reagiu com entusiasmo não apenas aos números, mas também à percepção de que a integração das operações está sendo executada com eficiência. A fusão feita em agosto de 2024 criou uma das maiores plataformas de moda do país, com ganhos operacionais relevantes e uma estratégia de capital disciplinada, o que contribuiu para a confiança dos investidores.
As ações da Lojas Renner (LREN3) também se destacaram, com avanço de 24,30% no período, impulsionadas pelo anúncio de uma reestruturação administrativa estratégica. A empresa dividiu sua presidência em duas frentes: uma voltada exclusivamente para a marca Renner e outra para as marcas auxiliares como Camicado, Youcom e Repassa. A medida foi interpretada como um movimento para ganhar foco, especialização e agilidade, sendo bem recebida por analistas da XP e BTG Pactual. De acordo com o consenso TradeMap, o papel também conta com 10 recomendações, oito de compra e duas de manutenção, com preço-alvo médio de R$ 18,00 — valor que já foi atingido no fechamento de maio, quando LREN3 encerrou cotada a R$ 18,01, indicando que o ativo chegou ao seu potencial estimado no curto prazo.
Outro destaque positivo foi a Hapvida (HAPV3), que subiu 23,28% no mês. A empresa reportou lucro ajustado de R$ 186,1 milhões no 1T25, revertendo o prejuízo do trimestre anterior. A melhora operacional foi interpretada como um sinal de retomada da eficiência da companhia, que também foi beneficiada por uma revisão positiva de analistas. Segundo consenso de mercado compilado pelo TradeMap, o papel conta com 10 recomendações, sendo oito de compra e duas de manutenção, com preço-alvo médio de R$ 4,47, o que representa um potencial de valorização (upside) de 56,29% frente ao fechamento de maio.
Na ponta negativa, a Azul (AZUL4) teve o pior desempenho do índice, com queda de 38,78%. A companhia aérea entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos sob o Capítulo 11, buscando reestruturar mais de US$ 2 bilhões em dívidas. A medida, ainda que planejada, foi mal-recebida pelo mercado e culminou na exclusão das ações da Azul de todos os índices da B3, incluindo o Ibovespa. A elevada alavancagem, combinada à baixa visibilidade do plano de reestruturação, aumentou o nível de aversão ao risco entre investidores.
Já a o Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) recuou 28,84%. Apesar de ter reportado prejuízo menor que no ano anterior — R$ 169 milhões no 1T25 — a companhia enfrentou forte instabilidade em sua governança. A proposta do acionista Nelson Tanure, com cerca de 7% do capital, de alterar a composição do conselho de administração elevou as incertezas internas e afastou o suporte institucional da base de acionistas, num momento em que o grupo já enfrentava desconfiança em relação à sua estratégia de longo prazo.
A Raia Drogasil (RADL3) também figurou entre as maiores quedas, com desvalorização de 25,15%. Embora tenha reportado lucro líquido de R$ 193,7 milhões no trimestre, a empresa queimou cerca de R$ 191 milhões em caixa, levantando preocupações sobre eficiência operacional e pressão sobre margens. O Citi rebaixou a recomendação do papel para “venda”, apontando desafios de curto prazo na gestão de capital de giro e rentabilidade.
O desempenho do Ibovespa em maio reflete um cenário de maior otimismo por parte dos investidores estrangeiros, que buscaram oportunidades na Bolsa brasileira diante de um ambiente global mais propício ao risco. Empresas que apresentaram sinais de recuperação operacional ou adotaram medidas estratégicas claras foram recompensadas. Por outro lado, companhias expostas a desafios estruturais, como governança instável, endividamento elevado ou deterioração de fundamentos seguem sendo penalizadas.
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