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De carro elétrico a produtos feitos à base de energia limpa: o que está por trás do modelo de negócio da Tesla e por que os BDRs disparam 180% em um ano?

Analistas elencam riscos a serem analisados por investidor e oportunidades para o longo prazo

Foto: Tesla/Divulgação

A fabricante de veículos elétricos Tesla sai à frente de concorrentes quando o assunto é ESG (sigla em inglês para as melhores práticas ambientais, sociais e de governança), tema que tem chamado atenção de investidores nos últimos tempos.

Afinal de contas, a empresa do famoso – e polêmico – Elon Musk não é só uma fabricante de carros totalmente elétricos, mas também de outros produtos feitos a partir de energia limpa, como painéis solares e até mesmo pranchas de surf.

Mas a sigla do momento seria relevante o suficiente para justificar o salto dos BDRs (Brazilian Depositary Receipts) em um ano na B3? Até o dia 3 de novembro, os recibos da companhia (TSLA34) apresentavam alta da ordem de 180%, cotados a R$ 209. Além de acompanhar o desempenho das ações negociadas no mercado americano, vale lembrar que o preço do BDR incorpora a variação do dólar.

Em 12 meses até setembro, os BDRs da montadora lideravam a lista dos maiores volumes médios negociados na Bolsa, com 16,8% do total, de acordo com dados da B3. Em seguida, estavam os recibos do Mercado Livre (MELI34), com fatia de 12,6%, e os BDRs da Apple (AAPL34), com 4,6%.

Quanto às ações negociadas em Nova York (TSLA), os ativos da Tesla subiram 190% em um ano e chegaram à máxima histórica de US$ 1,2 mil.

Diante da forte valorização, os papéis da empresa não têm um consenso de indicações no mercado.

Segundo informações da Refinitiv, há 40 recomendações para os papéis negociados nos Estados Unidos, sendo 18 de compra, 12 de manutenção e 10 de venda. Já em relação ao preço-alvo, a mediana de 36 analistas aponta para um preço de US$ 860 para a ação em Nova York, abaixo, portanto, do valor atual da empresa.

Infografico Tesla 1

E, afinal, há fundamento por trás da alta dos papéis?

Para Rafael Tovar, diretor de distribuição de fundos da gestora francesa AXA, o tema ESG somado à tecnologia disruptiva tem feito a empresa se destacar no mercado perante outras fabricantes de automóveis.

Não à toa, a gestora, que possui mais de US$ 1 trilhão de ativos sob gestão, lançou em outubro, em parceria com a XP, um fundo voltado à economia sustentável, o AXA Clean Economy Limpa, que investe em ativos como o da Tesla.

Em entrevista ao TradeMap, Tovar defendeu três pontos para ter escolhido a empresa na carteira: digitalização da economia, automatização robótica e clean tech – ou tecnologia limpa, em tradução livre –, que são áreas que devem se destacar mais nos próximos anos em meio ao avanço tecnológico.

Vinicius Araujo, analista internacional da XP, avalia que a alta de 180% dos BDRs é parcialmente justificada. Para ele, existem alguns fatores que entram em jogo na hora de analisar a companhia de Musk. Um deles é o atual cenário de juros baixos nos Estados Unidos, que estimula a migração de investidores para ações de empresas de crescimento.

Para se ter uma ideia do ritmo de expansão da companhia, no terceiro trimestre, a receita da Tesla cresceu cerca de 60% em um ano, a US$ 13 bilhões. E a projeção é de elevação anual de 50% nos próximos anos.

“Empresas de crescimento, que têm grandes expectativas de expansão, costumam ser recompensadas no mercado, principalmente em um cenário de juros baixos como nos Estados Unidos”, ressalta Araujo.

Apesar do avanço na receita, o analista da XP comenta que a Tesla ainda apresenta lucros baixos – e inclusive deixou de reportar prejuízo há apenas três anos. No terceiro trimestre de 2021, a fabricante lucrou US$ 1,6 bilhão, expansão de 389% frente ao mesmo intervalo de 2020.

“Por outro lado, o investidor não está olhando para o lucro de curto prazo, mas, sim, para a expansão da capacidade produtiva”, complementa.

Na mesma linha, Fernando Martin, analista da casa de research Levante, afirma que, atualmente, o que mais o mercado tem olhado para a americana é o crescimento operacional de veículos. A substituição de frotas de carros com combustível fóssil por elétricos no futuro é um assunto quente.

Por outro lado, Martin acredita que, por conta dessa aposta do mercado, a tendência é que a Tesla ganhe mais concorrentes nos próximos anos – o que deve atrapalhar o desempenho comercial da companhia no mercado automotivo chinês (o maior do mundo), já que o país tende a priorizar empresas locais.

Segundo o InsideEVs, site americano especializado em mobilidade elétrica, no ranking dos dez carros elétricos mais vendidos na China em setembro, dois modelos da Tesla aparecem na lista: Model Y e Model 3, no segundo e terceiro lugar, respectivamente. A General Motors conquistou a primeira posição com a minivan Wuling Hongguang.

Mesmo com os números da Tesla apontando crescimento ano a ano, tanto a Levante quanto a XP não têm os ativos da empresa entre as recomendações atuais.

“O salto na Bolsa é associado à aposta futura da empresa no mercado de veículos elétricos, não como a empresa é hoje”, diz Araujo. O analista complementa que sua equipe já discutiu o case da Tesla, mas optou por não recomendar a companhia, por ser uma ação muito volátil, com risco acentuado à carteira.

O futuro chegou… será?

Hoje, a Tesla tem a capacidade produtiva de 800 mil veículos elétricos por ano. E o analista da XP ressalta que a montadora é vista como um player dominante no segmento de veículos elétricos (EVs) no futuro.

Araujo diz acreditar que montadoras tradicionais como Ford, General Motors e Volkswagen não devem conseguir acompanhar o ritmo tecnológico da companhia de Musk.

Atualmente, existem apenas 3% de veículos elétricos no mundo, mas a previsão é que os EVs ocupem de 30% a 40% do total de carros em circulação no planeta até 2030, segundo estudo feito pela Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) – ponto também levantado por Tovar em relação ao investimento na Tesla pela AXA.

Tesla
Foto: Tesla/Divulgação

Em paralelo, a montadora se sobressai na área de veículos autônomos. Dessa forma, além de produzir EVs, a companhia aposta no mercado de software, que tem maior valor agregado do que veículos tradicionais. “O investidor tende a pagar mais caro [pelas ações] justamente por essa parte tecnológica que expande o múltiplo da empresa”, destaca Araujo.

A expectativa do mercado sobre a empresa fez com que a Tesla atingisse recentemente a marca de US$ 1 trilhão em valor de mercado, principalmente depois que a companhia fechou negócio com a locadora Hertz para a fabricação de 100 mil veículos elétricos para uma nova frota de aluguel.

O analista internacional Rafael Nobre, também da XP, acredita que os pontos mais fortes da montadora são catalizadores de curto prazo, como crescimento de receita e expansão de capacidade.

“É uma empresa que avança tecnologicamente muito rápido. A Tesla já tem uma perspectiva de trocar o tipo de bateria dos carros, o que vai trazer uma redução de custos e uma expansão de margem à empresa”, comenta.

Polêmica ajuda ou atrapalha?

Elon Musk, que também é um dos fundadores da Space X e do PayPal, possui o título atual de homem mais rico do planeta, de acordo com ranking feito pela Bloomberg. No entanto, o CEO da Tesla não é reconhecido só pela fortuna, mas pelas variadas polêmicas na internet.

Em agosto de 2018, Musk publicou no Twitter que tinha a intenção de fechar o capital da empresa por meio de um financiamento já garantido, a um preço de US$ 420 por ação. Na época, os papéis saltaram mais de 13% e a Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM dos EUA) processou o executivo por violar a lei de mercado aberto.

“O fato de ser uma pessoa que se manifesta nas redes sociais adiciona risco e volatilidade à ação de certa forma. Querendo ou não, ele é o CEO da empresa e, toda vez que vem ao mercado, se expõe a diversos riscos, como por reguladores de mercado. Por outro lado, em uma perspectiva de longo prazo e descontado esse ‘barulho’, Musk tem se mostrado uma pessoa com capacidade de execução muito boa, comparável a outros grandes CEOs, como Bill Gates (Microsoft) e Steve Jobs (Apple)”, observa Araujo.

Para Nobre, também da XP, investidores da Tesla se espelham na confiança de Musk, que, apesar de agir como um “adolescente rebelde” às vezes, pode ser considerado um gênio por toda trajetória como fundador de empresas de sucesso e de explorar novos mercados e desenvolver novas tecnologias.

Acompanhe a cotação em tempo real dos stocks e BDRs da Tesla pelo TradeMap

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