Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Navegue:
Por que a deflação insiste em ficar longe de São Paulo?
Colunista Jefferson Mariano

Jefferson Mariano

Doutor em desenvolvimento econômico pela Unicamp, mestre em econômica política pela PUC-SP, professor de economia na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, e analista socioeconômico do IBGE.

O economista também possui especialização em macroeconomia e estatística. Foi subsecretário de comércio e serviço do Ministério da Economia entre 2019/2020. Sócio Consultor da Scopus Consultoria, Análise e Pesquisa.

Por que a deflação insiste em ficar longe de São Paulo?

Imagem aérea da cidade de São Paulo, com prédios comerciais ao centro e construções ao fundo e redor.

Foto: Shutterstock

Compartilhe:

As notícias recentes trouxeram um alívio ao cenário econômico do país. Depois de meses de taxas elevadas de inflação, julho e agosto apresentaram um quadro deflacionário. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), teve uma variação negativa de 0,67% em julho e de 0,36% no mês passado.

Como já era esperado, a queda vista no início do segundo semestre foi resultado das fortes reduções nos preços dos combustíveis. Houve uma combinação do impacto positivo da desoneração e da limitação da cobrança do ICMS nos estados, além do recuo do preço do petróleo no cenário internacional. Em agosto, novamente o grupo transportes contribuiu sobremaneira para essa deflação.

No entanto, quando se observa os resultados em detalhes, percebe-se que os preços não apresentaram o mesmo comportamento em todas as regiões, especialmente na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), onde houve praticamente uma estabilidade nos preços. O mesmo processo pode ser verificado no Rio de Janeiro.

O que poderia explicar esse comportamento?

De início, precisamos destacar que, para o cálculo do IPCA, além da ponderação considerando os grupos e os itens de consumo, há uma atribuição de pesos segundo regiões do país. Inclusive, os resultados apresentados para algumas regiões são apurados levando-se em conta a respectiva participação no consumo total do país.

A Região Metropolitana de São Paulo contribui com parcela expressiva desse volume. No Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), também calculado pelo IBGE, o peso desta região corresponde a 24,6%. No IPCA, que leva em consideração o consumo de famílias com renda de até 40 salários-mínimos, o peso de São Paulo corresponde a 32,28%. Ou seja, movimentos no comportamento de preços da cidade têm impacto significativo no índice nacional.

Mas por que não houve deflação na Região Metropolitana de São Paulo?

Existem alguns fatores pontuais que ajudam a explicar a diferença entre o comportamento dos preços na capital paulista e o de outras áreas do país. Por exemplo, houve redução nas tarifas de energia elétrica em diversas localidades. Na média, a queda nacional desse item chegou a 5,78% em julho, na comparação com o mês anterior, e a nova queda de 1,27% em agosto.

Em São Paulo, no entanto, ocorreu variação positiva. A determinação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para que ocorresse baixa nos preços prevaleceu em apenas parte do Estado. Na média, houve variação positiva de 0,37% em julho e 0,17% em agosto.

Assim, a grande diferença entre as variações nos preços deste item contribuiu para a distância entre os índices da RMSP e do Brasil.

Há outros fatores que, em menor medida, também contribuíram para essa diferença. Em São Paulo, os grupos que têm o maior peso na composição do índice (alimentação e bebidas, habitação e transportes) apresentaram aumentos mais expressivos ou quedas menos intensas (no caso dos transportes).

Inclusive, se a RMSP fosse excluída do cálculo ou se tivesse um peso diferente do atual, a queda no índice nacional seria mais acentuada.

Observando as divulgações ao longo dos últimos 12 meses, em seis deles o índice nacional ficou superior ao da RMSP e em abril de 2022 foram idênticos. Em 2021, nos meses de agosto e outubro e, em 2022, em junho, julho e agosto, os índices de São Paulo ficaram mais elevados do que o indicador do Brasil.

Um traço comum nesse comportamento foi o aumento mais maior dos grupos que têm impacto mais intenso no índice. O mais significativo foi o visto no grupo alimentação e bebidas. Em todos esses meses, foi observado um comportamento de alta mais expressivas em São Paulo.

Em decorrência da grande concentração no consumo, as elevações de preços acabam ocorrendo de modo mais intenso nesta região.

Ainda se tratando de alimentação, vale destacar o subgrupo alimentação fora do domicílio. Em razão de ser uma região dinâmica, com uma ampla rede de serviços, há maior concentração de consumo nesta categoria. Desse modo, é possível observar diferenças maiores nesse grupo de despesa.

Desconsiderando os meses de deflação, qual o cenário?

As informações organizadas no gráfico abaixo mostram que, excluindo os meses de julho e agosto de 2022, as variações nos preços do Brasil seguem muito próximas das observadas em São Paulo. Porém, o grupo alimentação fora do domicílio tem sempre um comportamento mais elevado na capital paulista do que nas demais regiões do país.

Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo

Gráfico em barras sobre variação do IPCA
Fonte: IBGE

Podemos concluir, portanto, que os resultados de julho e de agosto foram pontos fora da curva. Não é comum ocorrer grandes variações entre os totais observados em São Paulo e o resultado do país.

Por outro lado, grupos que têm seu consumo mais expressivo na região apresentam variações mais elevadas, como é o caso da alimentação fora do domicílio.

Por fim, ainda fica a expectativa do que ocorrerá nos próximos meses em relação ao comportamento da inflação. Se os preços do combustível continuarem com a tendência de queda observada nas últimas semanas e os repasses no mercado interno forem realizados é possível que se perceba uma reversão no desempenho do indicador de preços.

Assim, podemos concluir que a taxa anual poderá ficar em níveis inferiores aos que o mercado vinha sinalizando anteriormente. O Boletim Focus, pesquisa semanal do Banco Central, divulgado na segunda-feira (5), apontou o patamar de 6,61% para a inflação deste ano. No início de junho, os analistas consultados estimavam que o IPCA alcançaria 8,89% em 2022.

Cadastre-se para receceber nossa Newsletter
Marketing por

 

*As opiniões, informações e eventuais recomendações que constem dos artigos publicados pela Agência TradeMap são de inteira responsabilidade de cada um dos articulistas. Os textos não refletem necessariamente as posições do TradeMap ou de seus controladores.

Compartilhe:

Compartilhe:

Assine a nossa Newsletter!