Sofia Abreu Colunista TradeMap2

Por Sofia Abreu

Colunista de renda fixa da Agência TradeMap

Graduada em Direito e servidora pública desde 2012, já atuou como bancária do Banco do Brasil e atualmente é servidora do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região. Publica conteúdo financeiro em seu canal do Youtube – Servidor que Investe – e em seu instagram.

Marcação a mercado na renda fixa: que bicho é esse? 

mercado financeiro depositphotos

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No primeiro artigo escrito para o TradeMap, falei sobre o verdadeiro conceito de renda fixa, com riscos e oscilações desconhecidas por uma parte dos  investidores, sobretudo iniciantes, que por vezes ficam confusos quanto à forma de rentabilidade de aplicações como as do Tesouro Direto. 

Retomando o que foi dito, investimentos de renda fixa não são os que rendem de forma fixa, mas, sim, que aqueles que possuem critérios preestabelecidos de rentabilidade.  

Partindo desse entendimento inicial, você vai aprofundar hoje o conhecimento sobre o mecanismo de rentabilidade dos títulos públicos, com compreensão sobre o que é a marcação a mercado e como ela influencia seus investimentos em títulos públicos.   

O que é a marcação a mercado

Quando você investe em aplicações de renda fixa como o Tesouro Direto, em primeiro lugar, precisa entender que está comprando um título de dívida do governo federal que promete pagar, no vencimento, a rentabilidade contratada. Nada além disso. 

 Vejamos o exemplo do Tesouro IPCA 2026, cuja rentabilidade e preço unitário, no dia em que esse artigo foi escrito (15/10/2021), eram os seguintes: 

 

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Fonte: Tesouro Direto, com consulta feita em 15/10/2021.

Se você comprasse um título inteiro do Tesouro IPCA 2026 nesse dia, no valor (preço unitário) de R$ 2.939,99, e permanecesse com o dinheiro aplicado até o vencimento, em 15 de agosto de 2026, receberia a rentabilidade anual contratada de IPCA mais 4,79% ao ano (retorno que se aplica tanto para a compra de um título inteiro quanto com valores fracionados, certo?). 

 É importante, contudo, você saber que essa taxa de rentabilidade, originalmente de 4,79% no momento do investimento, oscila em todos os dias de negociações no mercado do Tesouro Direto. Essas variações são influenciadas por diversos fatores, como o comportamento da nossa taxa básica de juros da economia (a Selic), a inflação, acontecimentos no cenário político doméstico e no mercado internacional. 

 Tendo isso em vista, veja esse gráfico que mostra as oscilações da taxa prefixada do Tesouro IPCA 2026 ao longo de outubro de 2021: 

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Fonte: Tesouro Direto, com consulta feita em 15/10/2021.

Por esse gráfico, podemos ver que, entre os dias 15 de setembro e 15 de outubro, as taxas do Tesouro IPCA 2026 variaram de 4,53% a 4,79% (acrescidas da inflação). 

Nesse sentido, imagine que você adquiriu esse título, como no exemplo dado, a uma rentabilidade de IPCA + 4,79%. Depois disso, a taxa Selic subiu e o mesmo papel passou a ser ofertado com rentabilidades mais elevadas. 

Nesse caso, você consegue compreender que o seu investimento (que paga IPCA +4,79%) vai ficar menos atraente, ter menos demanda dos investidores e, consequentemente, valer menos? 

É justamente numa circunstância como essa, numa subida da rentabilidade paga pelos títulos do Tesouro Direto, que o preço unitário do título (aquele que você pagou e que era de R$ 2.939,99) vai diminuir, ocasionando perdas caso você resgate o título de forma antecipada (antes do vencimento). 

 Por outro lado, se a taxa de retorno contratada no investimento começar a cair, o preço unitário do título, no valor original de R$ 2.939,99 e com rentabilidade de 4,79% mais IPCA, vai se valorizar, gerando ganhos com a marcação a mercado. 

 Para ficar mais fácil de compreender, veja a marcação a mercado na prática por meio desse extrato de um aporte em Tesouro IPCA 2026 feito por mim em 30 de julho de 2021: 

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Fonte: Tesouro Direto

Veja que, no dia em que eu investi, a taxa de rentabilidade desse título do Tesouro era de 3,89% mais a variação da inflação, bem abaixo da taxa de IPCA +4,79%, em 15 de outubro. 

Como após a data de realização do investimento a taxa subiu, o valor do papel foi reduzido com o efeito de marcação a mercado, de forma que, se eu fosse resgatar a aplicação antecipadamente, teria que arcar com prejuízo, o que é mostrado pela linha em azul claro (preço real). 

 Repare que eu investi o valor de R$ 4.948,89 e o valor bruto total para resgate antecipado é de R$ 4.912,00 (menos do que eu investi). Isso é a marcação a mercado na prática!  

Portanto, você já pode ter percebido que, pelo extrato mostrado, não seria um bom momento para resgatar títulos públicos com essa queda de preços. Nesses casos, o ideal é segurar o investimento até o vencimento, pois, dessa forma, não haverá o efeito da oscilação de preços e taxas e você terá a garantia de receber a rentabilidade contratada.  

Outra saída para evitar um resgate antecipado com prejuízo é esperar que as taxas desses títulos voltem a cair, para que as perdas ocasionadas pela marcação a mercado sejam recuperadas e, aí sim, fazer um resgate antecipado sem tais perdas. 

Tendo em vista essa dinâmica, é importante você saber que as oscilações das taxas do Tesouro Direto sofrem influência direta dos juros futuros. 

Juros futuros representam uma estimativa do mercado para o valor dos juros praticados no país futuramente.  

Dessa forma, quando os juros futuros sobem, as taxas dos títulos públicos também sofrem elevação. Quando os juros futuros caem, as taxas dos títulos públicos têm redução.

Crises institucionais no governo, instabilidade política e práticas governamentais que geram aumento da dívida pública implicam elevação dos juros futuros, uma vez que tais acontecimentos aumentam a percepção de risco dos investidores.  

Por fim, é importante ressaltar que a marcação a mercado é vista com maior intensidade nos títulos do tipo Tesouro IPCA e Tesouro Prefixado, com muito pouca influência sobre os papéis Tesouro Selic. Além disso, quanto mais distante for o prazo de vencimento, mais intensa será a oscilação provocada. 

*As opiniões, informações e eventuais recomendações que constem dos artigos publicados pela Agência TradeMap são de inteira responsabilidade de cada um dos articulistas. Os textos não refletem necessariamente as posições do TradeMap ou de seus controladores.

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