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Mercado subestima risco elevado de inflação superar 10% em 2022
Colunista Jefferson Mariano

Jefferson Mariano

Doutor em desenvolvimento econômico pela Unicamp, mestre em econômica política pela PUC-SP, professor de economia na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, e analista socioeconômico do IBGE.

O economista também possui especialização em macroeconomia e estatística. Foi subsecretário de comércio e serviço do Ministério da Economia entre 2019/2020. Sócio Consultor da Scopus Consultoria, Análise e Pesquisa.

Mercado subestima risco elevado de inflação superar 10% em 2022

Gráfico de alta com fundo desfocado de supermerado

Foto: Shutterstock

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A inflação voltou definitivamente ao centro do debate de política econômica. O fenômeno, como já destacado por vários veículos de imprensa, não é uma exclusividade do mercado brasileiro. Desde a década de 1970 a economia mundial e particularmente os Estados Unidos não enfrentavam um cenário de taxas de inflação tão elevadas.

No Brasil, entre 2019 e 2020 os índices ficaram próximos das metas de inflação estabelecidas pelo governo, especialmente em decorrência do quadro de baixo nível de crescimento e o início da pandemia. Porém, em 2021 se percebeu o recrudescimento da inflação e a sua continuidade no início de 2022. Neste ponto, é importante destacar a fragilidade de alguns prognósticos realizados pelo mercado em torno da inflação futura.

No final de 2021 e início de 2022 muitos analistas projetavam a inflação para algo em torno de 5%. Naquele momento, em conversas com jornalistas, nas quais discutia os resultados do IPCA, ao ser questionado se esse seria realmente o comportamento da inflação para 2022, devolvi a pergunta: qual seria a base existente para sinalizar tal projeção.

O que se observava naquele momento era a baixa probabilidade de que este resultado fosse alcançado. E o cenário sinalizado não poderia ser materializado exatamente pelo fato de que os fatores que contribuíram para a inflação elevada em 2021 continuavam presentes. Assim, não era crível situar as taxas de inflação nesse patamar (oscilando próximo dos 5%).

De modo bem simplificado, podemos destacar que cada consultoria econômica, ao tentar calcular suas expectativas para a inflação e construir seus modelos, considera algumas variáveis como: consumo; adversidades climáticas sazonalidade, juros nominais; preços externos. Além disso, são observados os padrões de resposta do governo por meio das políticas fiscal e monetária.

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E, no caso da economia brasileira é sempre importante destacar o papel das crises políticas, especialmente em períodos de eleições.

Lembrando que realizar previsões macroeconômicas é um exercício bastante complexo na medida em que é necessário conhecer bem o comportamento das variáveis analisadas. Outro dilema, que está implícito, especialmente em algumas “leis” econômicas, refere-se à crença de que o futuro deve se comportar como o presente. Ressalte-se que não é uma exclusividade da economia. Trata-se de um pressuposto do método indutivo.

Mas, então, o que está ocorrendo em 2022?

Inicialmente, devemos destacar que os fatores climáticos adversos observados em 2021 se repetiram em 2022, afetando importantes culturas. A volatilidade das taxas de câmbio também contribuiu sobremaneira para aumentos em inúmeras cadeias produtivas.

No caso das influências dos fatores externos, devemos destacar que, em 2021, a gasolina teve um reajuste de 47,5%, resultado do aumento do petróleo no mercado internacional.

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Por fim, e não menos importante, o cenário político instável e a crise sobre as instituições também foram elementos presentes no ano passado e que persistiram em 2022.

A inflação acumulada em 12 meses já bate os dois dígitos. É verdade que o Brasil não está descolado do que ocorre no mundo. Porém, além das adversidades que já se colocavam para a economia brasileira no início do ano, o conflito Rússia-Ucrânia contribuiu para a radicalização deste cenário.

O resultado já conhecido foi a grande pressão sobre a produção de diversos itens que são dependentes dos insumos importados. Paralelamente, o aumento de commodities como milho e soja se traduz no aumento de preços da produção de ração animal.

Assim, quando observamos os índices de preços, especialmente o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) e INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), percebemos uma elevada taxa de difusão, o que sinaliza que a inflação começa a fugir do controle.

No curto prazo

Mas, voltando as observações iniciais, se é de fato um difícil exercício projetar inflação para período mais longo, em função do pouco domínio das variáveis independentes, pelo menos no curto prazo é possível sinalizar esse comportamento. E, sendo assim, os agentes econômicos podem se posicionar e antecipar algumas decisões.

No caso do governo, a resposta seria a antecipação do processo e tomadas de decisões que pudessem reverter ao quadro. Por exemplo, além do comportamento dos preços e do cenário político internacional, é possível observar atentamente a evolução dos preços no atacado.

No curtíssimo prazo, o IBGE já disponibiliza a prévia da inflação (IPCA -15) próximo ao término de cada mês e, nesse sentido pode contribuir para sinalizar qual deverá ser a taxa de inflação divulgada, sempre na segunda semana do mês.

Para um período um pouco mais elástico, informações disponíveis possibilitam que sejam observados movimentos em algumas cadeias produtivas, como o comportamento dos preços no atacado.

Desde 2009, o IBGE divulga o Índice de Preços ao Produtor (IPP), e a FGV desde 2010, o Índice de preços ao Produtor Amplo (IPA). É claro que há muitas limitações em torno destes indicadores.

No caso do IPP, observa-se a agregação excessiva, pois os itens seguem a Classificação Nacional de Atividades Econômica (CNAE), integrando basicamente a indústria extrativa e de transformação. Assim, em certa medida, o comportamento dos preços no atacado provoca ressonância nas demais etapas produtivas e nos preços ao consumidor. Ou seja, não há nenhuma surpresa na inflação de curto prazo.

Assim, o que foi possível perceber, especialmente no início de 2022, é que muitos formadores de opinião acabaram reproduzindo essa percepção de que ocorreria declínio da inflação ao longo do ano. Certamente muitos vão apontar que o cenário de conflito Rússia-Ucrânia não estava no contexto.

Por fim, há um grande impasse, especialmente no tocante aos dois grupos que mais têm pressionado o índice de preços ainda. O grau de incerteza em torno do comportamento dos preços dos combustíveis no mercado interno ainda é extremamente elevado.

No caso do grupo alimentação, medida recente adotada pelo governo foi a redução do imposto de importação de alguns itens como feijão, massas, arroz e carnes. É importante destacar que em março a mesma medida ocorreu para itens como café, margarina, óleo de soja e macarrão.

A título de exemplo, o café teve uma variação de 2,5% em abril e, no acumulado do ano já registra um aumento de 13,2%. Existem fatores que que podem explicar o comportamento.

Em algumas cadeias produtivas, a redução dos tributos não chega aos consumidores. Além disso, devemos lembrar da crise nos preços do arroz em 2020. O governo zerou tributo sobre a importação do produto, no entanto, os preços só declinaram com a entrada da nova safra.

Por fim, ainda temos o aumento da temperatura no processo eleitoral. Ou seja, novamente se o passado recente for a referência, a probabilidade de fecharmos 2022 com inflação de dois dígitos é muito elevada.

*As opiniões, informações e eventuais recomendações que constem dos artigos publicados pela Agência TradeMap são de inteira responsabilidade de cada um dos articulistas. Os textos não refletem necessariamente as posições do TradeMap ou de seus controladores.

*As opiniões, informações e eventuais recomendações que constem dos artigos publicados pela Agência TradeMap são de inteira responsabilidade de cada um dos articulistas. Os textos não refletem necessariamente as posições do TradeMap ou de seus controladores.

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