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Por Giácomo Diniz

Colunista de ações da Agência TradeMap

Graduado em Economia pela FEA-USP e com MBA pela FIA, trabalha e investe no mercado há mais de 20 anos. Atua como professor de finanças e investimentos em instituições como B3 Educação, FIA, Apimec, Saint Paul e Ibmec e como consultor para gestão de grandes fortunas e fundos de pensão. Publica conteúdo financeiro no YouTube  do TradeMap.

Vale a pena especular com commodities?

O chamado mercado futuro não deve ser uma opção para investidores iniciantes, dada a sua complexidade

Commodities

Foto: Shutterstock

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A guerra da Ucrânia, deflagrada há mais de duas semanas, além do drama humano, já trouxe fortes impactos para a economia mundial. As sanções impostas à Rússia e os efeitos do conflito em si atingem em cheio as commodities. Mas por quê?

O gás natural, por exemplo, é utilizado como fonte de energia principalmente para aquecer os lares europeus no inverno. Cerca de 40% do produto usado na União Europeia é fornecido pela Rússia. O risco de redução da oferta, com a paralisação de fornecimento russo, levou o preço do gás para patamares recordes.

Outro produto que sofre pressão é o petróleo, que chegou a bater os US$ 138 o barril. Nesta segunda-feira (14), com a expectativa de avanço nas negociações para o fm da guerra, o valor da commodity caiu para menos de US$ 105.

De forma geral, vários países têm sido afetados dada a dependência que possuem da Rússia ou da Ucrânia para o consumo de commodities. Não à toa, muitos dos investidores em todo o mundo estão fazendo ou perdendo fortunas, especulando, no mercado de commodities, em cima dos efeitos da invasão russa.

É possível ganhar dinheiro com a oscilação desses mercados?

Podemos dizer que a especulação com o preço de commodities vem de tempos atrás. A busca por um novo caminho para as Índias, por exemplo, tinha esse objetivo: lucrar em cima do valor das especiarias. Uma viagem bem-sucedida deixava todos os investidores ricos.

Pessoalmente descobri a viabilidade de realizar um investimento em commodities quando reencontrei um colega de escola. Eu já sabia que a família dele atuava no ramo de cultivo de café há mais de três gerações. E, por coincidência, o encontrei em um evento sobre o mercado de commodities agrícolas.

Então, a surpresa não veio quando ele comentou comigo que ainda trabalhava com café, mas, contraditoriamente, ao falar que havia vendido todas as fazendas!

Foi nesse momento que percebi que ele havia se tornado especialista em mercados futuros, ou seja, negociava commodities sem produzir ou possuir mercadoria fisicamente.

O que são os mercados futuros?

Se você já ouviu falar de minidólar ou mini-índice tem uma noção do que estou dizendo.

Mercado futuro se trata de um ambiente eletrônico regulado onde são negociados contratos padronizados de compra e venda futura. Um contrato futuro é um compromisso de compra e venda para a entrega em uma data à frente a um preço combinado no ato da negociação.

Para que um negócio ocorra no mercado futuro, o comprador se compromete a adquirir uma certa quantidade de produto, por um preço determinado hoje para a entrega em uma data futura. O vendedor, assume o compromisso oposto.

O fato é que o preço futuro de um produto está diretamente vinculado ao valor do ativo à vista. Por isso o mercado futuro é classificado como um tipo de derivativo, ou seja, que deriva de um ativo existente.

Os derivativos podem ser padronizados ou não padronizados. Aqui vamos focar nos padronizados negociados na B3. Isso significa que, quando negociamos um contrato nesse pregão, estamos concordando com as regras da Bolsa para esse tipo de transação.

Exemplo de contrato padronizado

Trago aqui um exemplo de contrato futuro de café da B3. O objeto de negociação ou ativo objeto, neste caso, é café cru em grãos, conforme especificações de tabela disponível no site da Bolsa.

Para cada contrato negociado, as duas pontas assumem compromissos. A ponta compradora, de pagar e retirar o café, enquanto a ponta vendedora, como vimos, o oposto. Para esse contrato, o compromisso é de entrega ou retirada de cem sacas de 60 quilos de café conforme especificado.

Um ponto importante a ressaltar é que o preço desse contrato é em dólar. Logo, os preços futuros do café são muito sensíveis à variação da moeda americana.

O lote padrão é de um contrato, ou seja, você pode ficar comprado ou vendido em quantidades múltiplas de cem sacas de 60 quilos.

Essa é a parte bacana do processo. Se o meu amigo produzia seis mil sacas de café arábica antes de vender a fazenda, agora ele pode fazer a mesma aposta nesse mercado sem ter um hectare de terra. Basta, se achar que o preço vai subir, comprar 60 contratos futuros de café arábica e, assim, consegue especular o preço da commodity sem ter que se preocupar com a fazenda.

Ele me disse que o dia a dia da produção consumia tanto tempo que tinha dificuldade de ganhar dinheiro com o seu conhecimento sobre o mercado de café.

E por que existe o mercado futuro?

Os derivativos, de forma geral, foram criados com o intuito de propiciar uma ferramenta de hedge, ou seja, de proteção. Mas o que é isso?

Vamos seguir com o meu exemplo. No tempo que o meu amigo tinha fazenda, sua maior assombração era o preço que o café teria no momento da colheita. Esse produto é conhecido por oscilar muito de preço, principalmente nos períodos de safra.

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Às vezes o valor de venda do café não cobria nem os custos de produção. Para se proteger dessa incerteza foi criado o conceito de hedge. Diz a lenda que os japoneses no século XVI foram precursores desse tipo de hedge quando começaram a negociar o preço para entrega da safra de arroz seguinte.

Ao usar o mercado futuro, o produtor consegue fixar o preço de venda para a safra, evitando assim o risco de prejuízo no final da produção.

Voltando à tabela do contrato de café arábica, quando falamos de vencimento nos referimos à data que o compromisso vence e as partes têm que liquidar o contrato. Por se tratar de um mercado padronizado é a bolsa que define esses vencimentos.

Você pode observar que o contrato de café tem vencimentos de dois em dois meses. Cabe ao produtor escolher o vencimento que melhor lhe atende.

Passando de hedger para especulador…

Na época que meu colega cultivava o café e protegia o seu preço de venda ele era um hedger, ou seja, aquele que faz uso do recurso para se proteger. Quando ele vendeu as terras e deixou de dispor do produto físico para a entrega, passou a ser um especulador.

Agora, ele apenas usa a inteligência para apostar aonde vai o preço da commodity. Se acha que vai subir, fica COMPRADO no mercado futuro – a um preço mais baixo do que ele prevê para o vencimento do contrato. Por outro lado, se acha que vai despencar, fica VENDIDO – a um valor mais alto do que estima ao fim do contrato

Esse tipo de operação é para qualquer um?

Sim e não… Sim, porque a exigência de saldo para operar um contrato futuro não é nada impagável e por isso pode ser acessível para muitos.

Normalmente, como o especulador do mercado de café não tem mais café, ele carrega a posição (comprada ou vendida) até dias antes do vencimento. Daí, zera a operação, vendendo exatamente o mesmo número de contratos que estava comprado ou vice-versa.

Se estava comprado em 60 contratos e vende, na prática, zerou a posição, ganhando ou perdendo a diferença de preço entre a data de abertura e a de fechamento da operação.

Aqui também cabe ressaltar que na B3 esses ajustes são feitos diariamente, por meio dos chamados ajustes diários.

Isso mesmo. A cada dia, a B3 atualiza o preço que você está comprado ou vendido, debitando ou creditando na conta corrente. Ela faz isso para evitar que os especuladores carreguem grandes posições no prejuízo até o vencimento, gerando risco para a própria saúde financeira do sistema.

Se o especulador está comprado em 60 contratos e o preço do contrato sobe US$ 10 em um dia, ele recebe de ajuste diário 60 vezes US$ 10, ou seja, US$ 600. A pessoa que estava vendida quando o preço subiu paga o mesmo valor.

Aqui, na alegria ou na tristeza, o investidor não precisa de nenhum pé de café para operar no mercado. Mas, para isso, o investidor precisa depositar dinheiro ou ativos financeiros, exigidos pela Bo3, para garantir o seu limite operacional.

O limite operacional do cliente é calculado diariamente pela bolsa e considera o ativo objeto do contrato, o tamanho do valor financeiro envolvido e o prazo da data até o vencimento.

Os parâmetros são técnicos e variam de investidor para investidor. No processo do cálculo dessa margem da garantia, a B3 leva em conta a exposição de toda a carteira do cliente.

O objetivo de todas essas precauções é garantir que o cliente sempre tenha recursos para honrar os ajustes diários.

E se mesmo assim o cliente fica inadimplente?

No caso de falência do investidor, a corretora que ele operou assume a responsabilidade de honrar os débitos junto à Bolsa. Assim, além de se tornar devedor na corretora, o investidor fica também negativado na Bolsa e só pode voltar a operar no mercado depois de ter honrado esse débito.

Estamos falando, portanto, de modalidades mais sofisticadas de operação no mercado financeiro, de difícil gestão de expectativas, poderíamos dizer. Dada essa complexidade, os mercados futuros devem estar no final da lista de possibilidades que um investidor deve conhecer. Não se trata de opção para investidor iniciante. E, talvez, nunca seja um modelo para você, caso tenha um perfil conservador.

Mas, afinal, vale a pena especular com commodities?

A resposta é sim! Desde que você domine esses três pontos:

Conheça os contratos escolhidos no detalhe e sua volatilidade no mercado;

Compreenda quais são as variáveis que podem afetar o preço da respectiva commodity.

Domine uma técnica operacional de controle de risco para o contrato escolhido. (Falarei sobre isso no próximo artigo.)

Sendo fanático por controle de risco, posso afirmar que é uma excelente maneira de fazer dinheiro quando você se interessa muito por um determinado mercado. Como falamos anteriormente, possibilita a todos apaixonados por café especularem os preços de sua bebida predileta.

*As opiniões, informações e eventuais recomendações que constem dos artigos publicados pela Agência TradeMap são de inteira responsabilidade de cada um dos articulistas. Os textos não refletem necessariamente as posições do TradeMap ou de seus controladores.

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