Apesar de a atual conjuntura se mostrar mais favorável ao desenvolvimento das atividades econômicas, é necessário apontar um alerta para médio e longo prazos, sobretudo para o ano que vem: o efeito do aumento dos juros. As consequências do patamar elevado da taxa básica brasileira, a Selic – que passou de 2%, em março de 2021, para 13,75% ao ano, em agosto – serão sentidas ao longo de 2023.
Importante ressaltar que a tendência de alta de juros não é exclusiva no Brasil. Outros países estão na corrida da subida das taxas para conter a inflação.
Diante desse movimento, espera-se um quadro mais desafiador para o ano que vem, com reduções dos investimentos e do consumo das famílias, ao contrário do que vem ocorrendo ao longo de 2022 – o que afetará negativamente, sobretudo, os segmentos de bens duráveis.
O que virá mais à frente?
Ao olhar o “copo meio cheio”, porém, as análises apontam para um pouso mais suave das economias, e não mais uma brusca “puxada de freio de mão”. Dessa forma, os mercados globais ficam menos estressados, o que ajuda o país a não sofrer uma desvalorização do real.
Dada a redução da demanda global, os preços das commodities tendem a arrefecer, e não há indicativos de baixa da moeda. Isso trará a inflação a um patamar mais modesto do que o visto nos últimos dois anos, o que pode contribuir para a redução do patamar de juros.
Mas, enquanto essa conjuntura não se estabelece, a Selic elevada será a grande vilã da economia brasileira, limitando o seu avanço e postergando investimentos para quando houver uma nova indicação de um ciclo de expansão monetária.
Expansão
De toda a forma, os números da economia brasileira mostram uma importante expansão das atividades neste pós-pandemia de Covid-19. O PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre avançou 1,2%, na comparação com o período imediatamente anterior. O resultado ficou um pouco acima do 1,1% registrado entre janeiro e maço deste ano, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No acumulado de quatro trimestres, desde o terceiro de 2021, o crescimento é de 2,6%.
Mais importante que o dado agregado são as informações específicas, pois mostra o crescimento disseminado. Pela produção, por exemplo, todos os três grupos cresceram: indústria (2,2%), serviços (1,3%) e agropecuária (0,5%).
Sob a ótica da demanda, o consumo das famílias subiu 2,6%, enquanto os investimentos (FBKF) avançaram 4,8%.
Os setores de comércio e serviços, que apontaram alta, no geral, de 1,3%, participam com 70% do PIB.
E, pelo lado do comércio e do consumo, é necessário destacar que o mercado de trabalho tem crescido constantemente, contribuindo para o aumento médio do poder de compra. Tanto que a taxa de desemprego, medida pelo IBGE, ficou em 9,3% no segundo trimestre, o menor nível desde 2015.
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Embora a inflação tenha corroído parte dos ganhos dos trabalhadores, a melhora no emprego, as injeções do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e a antecipação do 13º salário a aposentados e pensionistas deram um gás para as vendas no comércio e nos serviços.
Quanto a serviços em geral, o crescimento foi observado em quase todos os grupos, com destaque para transportes e correios (3%), informação e comunicação (2,9%) e atividades financeiras (1,4%).
Além do aumento da demanda por parte das famílias, esses desempenhos têm, em grande parte, influência das relações entre as empresas, o que indica uma perspectiva mais otimista para a realização de negócios, sobretudo com a reabertura da economia no pós-pandemia.
A indústria também conseguiu avançar devido à relativa normalização das entregas dos insumos produtivos. Nesse caso, os investimentos foram puxados pelo setor da construção civil.
Para o segundo semestre do ano, não deve haver grandes mudanças. A expectativa é de crescimento da economia é de 3% até dezembro, também influenciado pelo consumo das famílias, dada a injeção do Auxílio Brasil e de um volume maior de empregados formais em relação ao ano passado.
O impacto só não será mais positivo pelo fato de os lares brasileiros apontarem um alto nível de inadimplência, com contas em atraso. Seria necessário, portanto, o equilíbrio das contas para, depois, a volta de dispêndios mais substanciosos nas atividades econômicas.