No último fim de semana de novembro, temos a chamada Black Friday. Nesta época, muitas pessoas vão às compras e encontram preços bem descontados. Compram avidamente, porque sabem que estão fazendo um excelente negócio.
E se eu disser que a bolsa de valores faz Black Friday com certa regularidade? Sim, o mercado abre, de tempos em tempos, uma janela de oportunidades para investidores comprarem ações com bastante desconto, de 30% ou 40%, por exemplo. Mas, por incrível que pareça, quando a bolsa dá descontos incríveis, são poucos os investidores que compram com vontade. É um certo paradoxo, mas é o que historicamente ocorre.
Pode ser que, na última semana de novembro, a Bolsa brasileira nos brinde com um belo desconto e volte a ser negociada nos 100 mil pontos ou mesmo abaixo desse patamar.
O artigo de hoje tem como objetivo mostrar como investidores podem aproveitar a Black Friday que a Bolsa oferece de tempos em tempos. Seguem quatro passos para conferir antes de aproveitar as oportunidades!
1º Passo: Saiba diferenciar o que é preço do que é valor
Preço é o que você paga, e valor é o que você leva. Pense em um Iphone 12 cujo preço normal seja equivalente a R$ 5 mil. Seu valor justo gira em torno de R$ 5 mil, mas e se na última semana de novembro ele for anunciado por R$ 3.500,00? Há 30% de desconto, e quem comprar estará fazendo um excelente negócio.
No mercado de ações, ocorre algo semelhante. É preciso ter uma estimativa clara de qual é o valor justo da ação para saber se o preço negociado em tela representa de fato um desconto.
Como diria Benjamim Graham, o “Sr. Mercado” nos oferece preços de compra e venda diariamente. Ele é muito emotivo; ora está eufórico, ora está extremamente pessimista. Nos momentos de pessimismo, o “Sr. Mercado” tende a oferecer preços de ações extremamente atrativos.
O investidor de sucesso aproveita as oportunidades quando o preço da ação está bem abaixo do seu valor intrínseco.
Há várias técnicas de valuation para se encontrar o valor justo da ação. As mais famosas são o fluxo de caixa descontado e a avaliação relativa por múltiplos.
Foque no valor da ação e não no seu preço. Evite o erro marcado nas palavras de Philip Fisher: “O mercado de ações está repleto de pessoas que sabem o preço de tudo e não sabem o valor de nada”.
Seja o investidor que consegue identificar o valor da ação. Isso trará a você maior segurança, tranquilidade e rentabilidade nos investimentos.
2º Passo: Entenda em qual ciclo de mercado estamos
Embora não tenhamos como prever o futuro da Bolsa no curto prazo, podemos com certo grau de confiança identificar em que ciclo estamos. O mercado está caro ou barato hoje?
Um indicador que ajuda a entendermos o estado atual é o famoso preço sobre lucro do Ibovespa (P/L). O P/L do principal referencial da Bolsa brasileira representa o valor de mercado das ações do índice em relação ao lucro das empresas que compõem o mesmo. Na crise de 2008, o P/L em maio daquele ano era de 16 vezes; em outubro de 2008, era de 6 vezes.
No cenário mais recente, no início da pandemia, em fevereiro de 2020, o P/L do Ibovespa era de 15 vezes; em março do mesmo ano, já havia caído para 8,5 vezes. Em janeiro de 2021, estava em 22,9 vezes; em novembro, em 6,1 vezes.
Historicamente, quem comprou quando o P/L estava mais descontado fez um bom negócio. Eram momentos de Black Friday da bolsa brasileira.
3º Passo: Entenda as razões principais da queda das ações
Uma série de incertezas e crises começaram a pairar sobre a economia brasileira. Algumas das principais dizem respeito à mudança no teto dos gastos, ao aumento dos juros futuros, ao maior risco Brasil e à eleição do próximo presidente.
Para você ter uma ideia, o índice EMBI+ da JP Morgan – que mede o risco-Brasil – estava em 266 pontos-base em 5 de fevereiro deste ano. No último dia 22, havia subido para 339 pontos-base. Quanto mais alto for seu valor, maior a percepção de risco e menor será o preço das ações.
Além disso, os juros futuros e a taxa Selic começaram a subir diante desse cenário de incertezas, com forte pressão da inflação: a Selic saiu de 2% e hoje está em 7,75%. A alta do risco-país e dos juros joga o preço das ações para baixo, quando se realiza um cálculo de valuation. Ao mesmo tempo, as empresas vêm apresentando lucros crescentes.
Essa conjunção de fatores (lucros das empresas aumentando e preço das ações caindo) é que joga os múltiplos das ações, como o P/L, para baixo. São ocasiões que historicamente representam boas oportunidades para acumular papéis de boas empresas.
E quanto mais ações de boas companhias forem acumuladas a preços atrativos, mais rápida será a independência financeira, o tão sonhado objetivo de milhões de brasileiros.
4º Passo: Realize um bom trabalho de stock picking
Não é porque as ações caem que automaticamente devemos comprar. É preciso fazer uma seleção e escolher bons setores e boas empresas. Atualmente, há segmentos interessantes, como de energia elétrica, saneamento, propriedades (shopping centers), construção civil, financeiro e agronegócio.
Recomendações finais
A Black Friday está aí. Neste ano, o tradicional evento coincide com a liquidação na bolsa de valores. Há boas empresas negociadas a preços atrativos. A diferença é que, no mercado, sempre podem cair mais.
Não tente acertar o fundo dos preços. O investidor que fizer um bom trabalho de seleção de ações, acumular compras a bons preços e segurar os papéis por prazos longos será recompensado.