Apesar de bom humor nos EUA e empurrão de varejistas, Ibovespa cai 0,27% e perde os 112 mil pontos

Após passar a maior parte do dia no campo positivo, o Ibovespa inverteu e fechou em queda o primeiro pregão da semana, ignorando o bom humor das Bolsas globais, a alta do petróleo e das varejistas.

O principal índice da B3 caiu 0,27%, aos 112.737 pontos e R$ 18,89 bilhões em volume negociado, segundo dados disponíveis na plataforma TradeMap. O desempenho faz o Ibovespa acumular alta de 1,82% desde o início do ano.

O pregão também marcou o primeiro dia sem as negociações de Americanas (AMER3) na Bolsa brasileira. Apesar da eliminação do Ibovespa, as ações da companhia fecharam em alta de 12,68%, a R$ 0,80.

Com resquício de Americanas, a ponta negativa teve predominância dos papéis de bancos, um dos setores mais expostos à dívida de R$ 43 milhões declara pela varejista no pedido de recuperação judicial, no fim da semana passada.

Lula na Argentina

Em sua primeira viagem internacional como presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi à Buenos Aires se encontrar com Alberto Fernández.

O presidente viajou acompanhado dos ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Fernando Haddad (Fazenda). Entre as pautas, estava a negociação para a criação de uma moeda digital única que seria usada pelos dois países em transações.

O assunto, que já havia sido discutido no passado, voltou a trazer temor entre os investidores. O sentimento foi reforçado após o jornal britânico Financial Times afirmar neste domingo (22) que um grupo de estudos já havia sido formado.

Ao chegar à capital Argentina, na noite de ontem, Haddad buscou amenizar os ânimos ao afirmar que a nova moeda não implica no fim do real ou do peso.

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Varejistas lideram alta

O grupo de alta do dia foi liderado pelas varejistas, movimento visto por analistas como a realocação dos ativos do setor após o colapso da Americanas.

Os papéis da Via Varejo (VIIA3) subiram 8,37,%, enquanto Magazine Luiza (MGLU3) e Carrefour (CRFB3) valorizaram 5,76% e 5,64%, nesta ordem.

O desempenho também foi puxado pelas empresas ligadas a commodities, que subiram no mercado global com a expectativa de manutenção da reabertura da economia da China ao longo de 2023.

“Ibovespa segue com setor de commodities metálicas liderando, assim como já vinha sendo nas últimas semanas, com a reabertura da China e possível aumento de demanda”, diz Marcelo Oliveira, sócio-fundador da Quantzed.

Os papéis ligados ao minério de ferro subiram mesmo sem a referência do preço da commodity na China, já que o mercado local ficará fechado esta semana devido ao feriado de Ano Novo Lunar.

Na semana passada, o minério de ferro negociado em Dalian encerrou o pregão em alta de 1,76%, cotado a US$ 127,61 por tonelada.

A Vale (VALE3), ação com maior peso no Ibovespa, subiu 0,33%, e a CSN Mineração (CMIN3) teve aumento de 3,81%.

O barril de petróleo tipo Brent, usado como referência na maior parte do globo, valorizou 0,53%, a US$ 88,10, conforme dados da ICE (Internacional Exchange).

O preço da commodity está em alta consolidada nas últimas semanas e atinge o patamar mais elevado para os contratos com vencimento em março desde novembro do ano passado.

Para Craig Erlam, analista sênior de mercado da Oanda, o fluxo deve se manter positivo nos próximos meses, inclusive com a perspectiva do preço do barril tipo Brent superar os três dígitos, patamar visto no ano passado em meio à invasão da Ucrânia por tropas russas.

“Embora a reabertura em si seja sem dúvida complicada, principalmente durante a temporada de férias, as primeiras indicações sugerem que houve um aumento na atividade, o que significa que a economia pode ter um desempenho melhor durante a transição e também na recuperação”, afirmou.

Os papéis preferenciais da Petrobras (PETR4) subiram 1,59%, enquanto os ordinários (PETR3) avançaram 2,31%. Já as ações da Prio (PRIO3) fecharam em alta de 1,12%.

Bancos caem em bloco

Dando sequência aos desdobramentos do colapso da Americanas, o setor financeiro voltou a sofrer no Ibovespa pela grande exposição ao rombo bilionário anunciado pela empresa há duas semanas.

A ponta de baixo do Ibovespa foi puxada pelos papéis do Bradesco (BBDC4), com queda de 4,23%. O grupo ainda contou com Santander (SANB11), que caiu 4,08% e Itaú Unibanco (ITUB4), com desvalorização de 3,07%.

Para Matheus Spiess, analista da Empiricus, a baixa do setor é reflexo da crise envolvendo a Americanas. “Quanto mais exposição ao risco sacado (operação que causou a crise na varejista), pior para esses nomes”.

Ainda na parte de baixo, as ações da Minerva (BEEF3) predominaram, com tombo de 3,55%. Mais cedo, a companhia informou que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) a autorizou a exportar para a Indonésia.

De acordo com o comunicado enviado ao mercado, a empresa possui seis plantas autorizadas a vender para Indonésia. As unidades estão instaladas em Minas Gerais, São Paulo, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e Goiás.

Juntas, essas plantas são responsáveis pelo abate de oito mil cabeças por dia. Na opinião do analista CNPI da Agência TradeMap, Jader Lazarini, a autorização é positiva para a Minerva, já que amplia ainda mais seu horizonte de exportações.

Mercado global e criptos

O mercado global estendeu para esta segunda o clima positivo visto no fim da semana passada em meio à avaliação dos investidores com a possibilidade de juros americanos mais altos e com as atenções voltadas aos balanços corporativos do quarto trimestre de 2022.

Em Wall Street, o Dow Jones subiu 0,76%, enquanto S&P 500 teve alta de 1,19% e a Nasdaq valorizou 2,01%. No Velho Continente, o Euro Stoxx 50 encerrou em alta de 0,75%.

O mercado aguarda pela divulgação na sexta-feira (27) do PCE (Índice de Preços para Despesas com Consumo Pessoal) de dezembro, índice de inflação mais acompanhado pelo Fed (banco central americano).

A autoridade monetária dos EUA promove na próxima semana a primeira reunião de 2023 para discutir as taxas de juros. A maior aposta do mercado é pelo avanço de 0,25 p.p (ponto percentual), elevando o nível para até 4,75%.

No âmbito corporativo, os investidores se preparam para mais uma semana de divulgação de balanços de diversas empresas. Na semana, os destaques são Microsoft, Visa, Mastercard, Tesla e IBM.

Além disso, os mercados na China e na Coreia do Sul estarão fechados por conta das comemorações do Ano Novo Lunar, o que deve diminuir a liquidez e os fluxos em escala global.

Acompanhando a alta das Bolsas americanas, o mercado de cripto teve mais um dia de valorização, ultrapassando os valores vistos antes da quebra da FTX, em novembro.

Por volta das 17h30, o Bitcoin (BTC) subia 0,39% em comparação as últimas 24 horas, negociado a US$ 22.928, de acordo com a plataforma TradeMap. Na mesma hora, o Ethereum perdia 0,90%, a 1.628.

“O sentimento do mercado está alinhado com o sentimento dos investidores em ativos de risco e, dado este fato, podemos esperar a continuação do rali até a divulgação da taxa de juros pelo Fed”, destacaram analistas da corretora Bybit.