Michael Porter, criador do modelo das cinco forças que analisam a competição entre as empresas, defendeu que a sustentabilidade é uma importante vantagem competitiva. Uma das forças é a “rivalidade entre os concorrentes”, e Porter afirma aqui que as companhias devem buscar métodos de operação mais eficientes para trazer o menor impacto possível ao planeta e garantir maior longevidade no mercado em relação aos concorrentes.
Com esse olhar, mais do que obter retornos financeiros, os investidores em geral têm se preocupado em destinar recursos para financiar empresas bem geridas e que exerçam impactos positivos sobre o meio ambiente e a sociedade.
Sabendo disso, companhias estão percebendo a importância de adotar práticas sustentáveis e ampliar sua agenda ESG (Environmental, Social and Corporate Governance). Nesse processo, divulgam iniciativas e criam diretorias com foco no monitoramento e desenvolvimento de soluções relacionados ao tema.
É importante, porém, que o investidor esteja atento ao que chamamos de greenwashing – quando uma empresa se preocupa mais em aparentar ter uma consciência ESG do que, de fato, em criar soluções na área.
Apesar desses aspectos serem mais amplamente discutidos no exterior e ainda termos um longo caminho pela frente aqui, na bolsa brasileira, também temos exemplos de empresas que estão direcionando cada vez mais recursos para se tornarem mais responsáveis em sua governança, social e ambientalmente, sem impactar a rentabilidade.
Um desses exemplos é a Ambev. Além de ter estabelecido metas para a redução de impactos ambientais, a companhia já tem apresentado resultados nesse sentido. Até 2020, a Ambev reduziu o consumo de água em 55% na comparação com 2002 – um período de 18 anos.
O objetivo atual é aumentar a eficiência hídrica até 2025, utilizando dois litros de água para cada litro de cerveja. Hoje a proporção é de 2,5 litros utilizados.
Ademais, a empresa pretende que 100% das embalagens de seus produtos sejam retornáveis, ou feitas majoritariamente de material reciclado. Atualmente, no Brasil, 38% das embalagens da companhia já são retornáveis, mas a iniciativa está mais avançada em outros países onde opera.
Leia também:
Rumo ao mercado: caminhos para ser craque em Bolsa
Ao ampliar a adesão às embalagens retornáveis, a Ambev também obtém vantagens financeiras, uma vez que a rentabilidade gerada por esse tipo de embalagem é bastante superior às tradicionais latinhas de alumínio e garrafas plásticas.
O mercado de revenda está crescendo mundialmente em diversos setores a passos largos. No varejo de moda, esse movimento começa a ganhar tração, com o foco em sustentabilidade. Em 2021, a Lojas Renner adquiriu a Repassa e a Arezzo comprou a Troc – ambas as plataformas são de moda circular (os conhecidos brechós, de roupas usadas).
O movimento contribui para a redução de um dos principais impactos causados por essa indústria: o rápido descarte de produtos e a consequente poluição do meio ambiente. Na Reserva (uma das marcas da Arezzo), por exemplo, os resíduos da produção são reaproveitados para a fabricação de solados.
O setor de locação de transportes também contribui com destaques nessa agenda. A Movida, por exemplo, é um dos destaques na agenda ESG no Brasil. A companhia tem como meta se tornar carbono neutro até 2030, manter 100% das instalações com energia fotovoltaica e garantir 50% de mulheres em cargos de liderança.
⇨ Quer conferir quais são as recomendações de analistas para as empresas da Bolsa? Inscreva-se no TradeMap!
Iniciativas com esse foco permitiram que a empresa se tornasse a segunda companhia listada no Brasil a ingressar no Sistema B, concedido pela americana B Lab para empresas que buscam ser melhor para o mundo e não apenas as melhores do mundo. Essa é uma comunidade global de líderes que usam os seus negócios para a construção de um sistema econômico mais inclusivo.
A Movida também se tornou a primeira integrante do setor a compor a carteira ISEB3, principal índice sobre sustentabilidade do mercado nacional, da B3.
Ganho de relevância
Essas iniciativas estão ganhando espaço nas conversas com investidores e credores. Importante ressaltar que este tema é muito sério e não uma “moda”. Uma vez deixado de lado e tratado sem a seriedade e responsabilidade necessária, pode gerar eventos e resultados até catastróficos. Diversas empresas já sofreram impactos negativos em sua reputação e, consequentemente, produziram prejuízo aos seus investidores.
Temos alguns exemplos recentes. A JBS foi acusada de comprar gado cujo pasto estava associado a áreas de desmatamento na Amazônia. Consultorias independentes conseguiram rastrear e confirmar o fato. Isso pesou na imagem da companhia, levando à queda de suas ações.
A Vale, talvez o exemplo mais emblemático, se viu envolvida em tragédias de rompimento de barragem. O último, em Brumadinho (MG), em janeiro de 2019, deixando 272 mortos e um impacto ambiental incalculável. O ocorrido gerou perplexidade geral, já que essa tragédia não era inédita. Em novembro de 2015, foi a vez da barragem de Mariana, também em Minas Gerais, pertencente à Samarco, controlada da Vale, e à BHP.
No primeiro pregão após o episódio de Brumadinho, as ações da companhia despencaram mais de 20%. Três anos depois da tragédia, parte do desconto dos papéis da Vale na Bolsa ainda se deve ao impacto desses acontecimentos.
Mas as empresas têm se empenhado no aprimoramento da percepção da exigência progressiva dos investidores institucionais de boas práticas de sustentabilidade.
Isso nos permite entender que, em linha com o pensamento de Porter, a atenção ao segmento ESG tem a capacidade de gerar, sobretudo a longo prazo, retornos positivos aos investidores. Como isso, os expõe a menores riscos jurídicos, além de as chances de perpetuação de suas operações crescerem quando atuam de forma sustentável.
*As opiniões, informações e eventuais recomendações que constem dos artigos publicados pela Agência TradeMap são de inteira responsabilidade de cada um dos articulistas. Os textos não refletem necessariamente as posições do TradeMap ou de seus controladores.