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Fotos dos Colunistas Professor Giacomo

Por Giácomo Diniz

Colunista de ações da Agência TradeMap

Graduado em Economia pela FEA-USP e com MBA pela FIA, trabalha e investe no mercado há mais de 20 anos. Atua como professor de finanças e investimentos em instituições como B3 Educação, FIA, Apimec, Saint Paul e Ibmec e como consultor para gestão de grandes fortunas e fundos de pensão. Publica conteúdo financeiro no YouTube  do TradeMap.

Quem ficou na Bolsa nos últimos 12 meses necessariamente perdeu dinheiro?

Gráfico um pouco desfocado com linha de variações de ações

Foto: Shutterstock

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Até o ano passado, a Bolsa de Valores era um dos assuntos preferidos dos investidores. O tema também ganhava cada vez mais relevância nas redes sociais. O pano de fundo para esse humor era a taxa básica de juros situada em níveis historicamente baixos, o que levava a uma busca de ganhos maiores no mercado de renda variável, como é o de ações.

Além disso, a esperada retomada da economia após os lockdowns de 2020 e 2021 – em função da pandemia do coronavírus – criava uma expectativa positiva para o desempenho de empresas e a possibilidade de a taxa básica de juros não passar por muitas altas.

No último trimestre de 2020, analistas acreditavam que as companhias de capital aberto voltariam para a trajetória pré-pandemia em 2021. Na ocasião, muitas ações ainda estavam “supostamente” a preço de banana (quando a fruta era barata…), e os investidores continuaram indo às compras até a Bolsa atingir a sua máxima histórica mesmo após incidências de novas ondas da Covid-19, 130 mil pontos, em junho de 2021.

Aqui cabe lembrar que, no primeiro trimestre de 2020, ainda sem vacina disponível contra o coronavírus, tivemos um colapso das bolsas, refletindo o grande nível de incerteza associada ao futuro da economia. Após o pânico o Ibovespa chegou a se recuperar completamente até dezembro daquele ano.

Para que a Bolsa tivesse essa rápida recuperação, após o pânico, foi necessário a entrada de um grande fluxo de capital. Na época, a renda fixa não estava rentabilizando os investimentos, devido à Selic baixa.

Do ponto de vista econômico a decisão da autoridade monetária fazia sentido. O risco de recessão causado pelas interrupções na atividade econômica ainda assombrava a autoridade monetária.

Inflação entra em jogo

Mas, ao fim de 2012, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulou alta de 4,5% levando a economia Brasileira para um juro real negativo. Veja bem! Em resposta, o Copom (Comitê de Política Monetária), do BC, elevou a taxa de 2% para 9,25% no prazo de 12 meses.

No fim de 2020, portanto, o aumento da inflação e manutenção da Selic em patamares baixos estimulou os investidores a assumir mais risco. Até mesmo porque a rentabilidade do Ibovespa acumulada desse a mínima do ano já era de mais de 80%.

O fato é que a única certeza que temos no mundo dos investimentos é que tudo muda com o tempo. Uma estratégia bem-sucedida em um momento “A” pode ser catastrófica na ocasião “B”. E foi exatamente isso que aconteceu! Entrou em cena um vilão que há muito tempo estava fora do radar. A INFLAÇÃO!

Só que aqui estou falando de uma inflação global e não apenas no Brasil, como estávamos acostumados. Já fazia algum tempo que o movimento de alta de preços estava controlado nas economias desenvolvidas. Esse fato foi o pré-requisito para quedas tão expressivas dos juros nos países mundo afora.

Desde 2021, e se intensificando neste ano, a inflação ao consumidor tem batidos níveis recordes tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. Vários fatores combinados possibilitaram esse quadro.

Do ponto de vista da demanda, a maioria dos governos dos países ricos “imprimiu” dinheiro e distribuiu para a população, que estava em casa, o possibilitou um aquecimento do consumo, principalmente online.

Paralelamente, após o ápice dos lockdowns, foi percebida uma demanda desenfreada por serviços, que acabou afetando os preços.

Já do lado da oferta, os sucessivos lockdowns desorganizaram as cadeias de suprimento, dificultando muito o acesso a componentes eletrônicos, entre outros itens. Problemas de ordem climática e agora geopolítica colaboraram para aceleração do preço das commodities.

Fuga dos investidores da Bolsa

Como foi dito anteriormente, o BC foi proativo e começou o aperto monetário em maio de 2021. Em meados de janeiro de 2022 a Selic já estava em 9,25%, e o Ibovespa já havia caído mais de 20% desde o seu topo histórico.

Essa combinação de fatores levou a uma reversão de mentalidade do investidor pessoa física e foi vista então uma saída de fluxo da Bolsa, principalmente das “ações de crescimento”.

Aqui vale uma reflexão. Juros muito baixos “empurram” investidores para a Bolsa e muitos deles acabam comprando ações “da moda”. Esse é um fenômeno comum em tempos de Bull Markets (mercados de alta). As mesmas ações são jogadas às “traças” e, quando a liquidez vira, esse fluxo de desavisados volta correndo para a renda fixa.

É possível encontrar várias evidências recentes no mercado que empiricamente validam essa tese. O Magazine Luiza (MGLU3), por exemplo, é uma empresa considerada xodó dos investidores pessoas físicas e alardeada pela massa de influencers como sucesso garantido, devido ao seu grande potencial de crescimento.

Realmente esse ativo deu muitas alegrias para quem soube especulá-lo, mas da mesma forma que a “piscina encheu, ela esvaziou”.

Após surfar a onda de aumento das vendas on-line em 2020, o Magalu começou sentir, no final de 2021 e início de 2022, uma piora significativa do seu crescimento. A concorrência foi listada pela empresa como um dos principais fatores.

Essa deterioração levou ao abandono do papel por parte de alguns investidores institucionais, e a pressão vendedora foi o estopim para uma “corrida para as montanhas”.

Vamos entender um pouco melhor: muitos compradores puxaram o valor de mercado da empresa para a estratosfera (uma espécie de bolha). Quando os investidores resolveram sair da ação, a porta ficou pequena.

Resumo da ópera: depois de bater R$ 24 reais em julho do ano passado, MGLU3 vale menos de R$ 4,00 por ação hoje. Muitos papéis como esse caíram, evidenciando a mudança de humor do mercado.

Ruim para o Ibovespa

Agora uma evidência mais forte pode ser visualizada pelo comportamento do principal índice da Bolsa brasileira, o Ibovespa. Após atingir o topo histórico em 2021, o indicador tomou o sentido de queda e chegou a “arranhar” os 103 mil pontos no mesmo ano.

Em 2022, o Ibovespa até ensaiou uma recuperação, fruto da entrada de capital estrangeiro, mas caiu da mesma forma que subiu durante a saída deles. Investidores, tanto locais quantos internacionais, seguem apreensivos com a manutenção do quadro inflacionário mundial, que tem exigido uma postura mais conservadora dos bancos centrais.

A guerra instalada na Ucrânia, lockdowns na China, alta dos preços das commodities, entre outros fatores, têm aumentado o risco de a economia global entrar em recessão por conta das políticas de combate à inflação adotadas pelas economias do mundo.

Vale destacar a preocupação com a velocidade de alta dos juros por parte do Fed (Federal Reserve), o banco central americano. O consumo forte das famílias e a pressão no preço dos combustíveis têm elevado o risco de aceleração da alta da taxa básica de juros nos EUA. Isso é ruim tanto para a bolsa de lá quanto a de cá!

Investidores que ficaram na Bolsa perderam dinheiro?

Não necessariamente! Um índice nada mais é do que uma carteira teórica de ações e, normalmente, bem diversificada. Por conta disso, não podemos afirmar de forma categórica, que todos os investidores que permaneceram na Bolsa nesse último ano ficaram no prejuízo.

Vamos ver, por exemplo, o retorno das duas grandes vedetes da Bolsa brasileira. A ação da Petrobras PN saiu de uma cotação de R$ 18,35 em 21 de maior de 2021 para R$ 27,92 em 25 de maio deste ano. Nada mau para um período tão complexo de alta de juros.

São visíveis os vários casos de sucesso, considerando os últimos 12 meses. Logo é factível que existam investidores que tenham sido bem-sucedidos. Mas, como o Ibovespa é um indicador que retrata o comportamento médio da carteira de ações mais líquidas do mercado, podemos afirmar que os investidores perderam recursos no período.

Como ficam os investidores com posições em ações que se desvalorizaram muito nos últimos 12 meses?

Isso vai depender muito de cada caso! Muitas ações de crescimento esperado alto, como o exemplo da Petrobras apresentado aqui, foram negociadas no passado recente a patamares estratosféricos e por conta disso se desvalorizaram tanto.

Acredito que alguns dos exemplos acima vão demorar para recuperar patamares anteriores ou poderão nem retornar aos seus respectivos topos históricos de preço. Por outro lado, empresas que possuem uma boa administração e tenham tido os seus resultados afetados negativamente por questões circunstanciais tendem ainda a trazer alegria.

Essa alegria também poderá ser encontrada nos ativos que estão sendo beneficiados por esse quadro desafiador. Um exemplo observado recentemente foi (de novo) o da Petrobras.

Por isso que é importante salientar que cada investidor deve usar o seu prejuízo recente como uma ferramenta de aprendizado. Principalmente aqueles que investiram por impulso ou seguiram alguma dica de amigos ou da própria internet.

Lembre-se que o que fará a diferença nos investimentos futuros será a capacidade do investidor de estruturar uma tese de investimentos. Trocar ativos sem futuro por teses de investimento sólidas pode favorecer muito a rentabilidade de quem está empacado em uma posição.

Tese de investimento

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*As opiniões, informações e eventuais recomendações que constem dos artigos publicados pela Agência TradeMap são de inteira responsabilidade de cada um dos articulistas. Os textos não refletem necessariamente as posições do TradeMap ou de seus controladores.

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