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67% das empresas da Bolsa já recuperaram a receita pré-pandemia; confira as “mais rápidas”

As empresas de commodities, que se beneficiaram da alta dos preços e do dólar, estão entre os principais destaques, segundo levantamento feito pelo TradeMap

Desde que a pandemia chegou ao Brasil, há quase dois anos, um das principais dúvidas dos investidores gira em torno da capacidade das empresas de se recuperarem dos estragos causados pela crise, que manteve as pessoas em casa e reduziu bruscamente o consumo nas ruas, as viagens e uma série de outras atividades econômicas.

De lá para cá, uma parte das empresas conseguiu se adaptar. Companhias do varejo físico, por exemplo, apostaram no e-commerce e restaurantes recorreram ao delivery, como um esforço para compensar perdas de faturamento. Além disso, o pior momento da pandemia já passou, a vacinação avançou e as pessoas estão de volta às ruas.

A temporada de balanços das empresas — que começou há duas semanas e será concluída em março — tem apresentado, aos poucos, os resultados das companhias para o quarto trimestre. Mas já é possível ter uma ideia de quantas já “deram a volta por cima” por meio dos balanços do terceiro trimestre, divulgados no fim do ano passado.

Segundo levantamento feito pela Agência TradeMap com 238 companhias listadas na Bolsa, 67% delas já tinham, no terceiro trimestre de 2021, um faturamento igual ou superior ao que tinham em igual período de 2019, o último ano antes do início da pandemia, em uma comparação que já retira os efeitos da inflação. Além disso, 10% ou dobraram ou triplicaram suas receitas no comparativo.

A empresa com maior crescimento no comparativo entre os trimestres dos dois anos foi a Pomi Frutas (FRTA3), uma small cap gaúcha do agronegócio, que viu seu faturamento crescer 1048% nos períodos, passando de R$ 302 mil em 2019 para R$ 3,91 milhões em 2021.

Dentre as empresas que fazem parte do índice Ibovespa, a Americanas (AMER3) foi a que apresentou o melhor resultado. A companhia administrada pela B2W cresceu em 228% seu faturamento entre os dois anos, passando de R$ 1,68 bilhão no período de 2019 para R$ 6,27 bilhões no de 2021.

Fonte: TradeMap

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

Setores de destaque

Dentre os destaques, empresas que estão ligadas à exportações conseguiram uma boa performance no comparativo. A Petrobras (PETR4) por exemplo, apresentou o maior faturamento do terceiro trimestre de 2021 dentre todas as empresas do levantamento, chegando a R$ 121 bilhões, 58% maior que no mesmo período de 2019.

A Vale (VALE3), empresa que mais negocia ações na B3, também apresentou avanço. A mineradora aumentou seu faturamento em 63%, para R$ 66 bilhões no terceiro trimestre de 2021.

Para analistas, essas empresas se beneficiaram da alta do dólar no período, além do preço mais elevado das próprias commodities. A taxa de câmbio encerrou o ano de 2021 a R$ 5,58 por dólar. Em 2019, fechou em R$ 4,01.

“As empresas que atuam com produtos dolarizados, ou seja, que exportam, se beneficiaram durante esse processo. E isso corresponde a boa parte das empresas do índice Ibovespa”, afirma o especialista em investimentos da Inversa Publicações, João Abdouni.

Quem ainda não se recuperou

O levantamento constata que as empresas que atuam de alguma forma com aglomerações — como empresas de aviação, setor de entretenimento, varejo de rua e shoppings — foram as que ainda não se recuperaram dos patamares de 2019.

A Time For Fun (SHOW3), empresa do ramo de eventos, foi de um faturamento de R$ 62 milhões no terceiro trimestre de 2019 para R$ 5,5 milhões no mesmo período em 2021, uma queda de 91%. Além dela, Saraiva (SLED4), que está em recuperação judicial desde 2018, caiu de R$ 173 milhões para R$ 22 milhões no mesmo comparativo.

Para os shoppings, porem, o cenário é mais animador. O analista da Inversa acredita que o processo reabertura, que foi iniciado em 2021 já está na reta final, o que beneficia as empresas do segmento. “Pelo que temos acompanhado, a Ômicron não freia a reabertura, e talvez ela seja quase um ‘imunizante final’, que, apesar da alta nos casos, não prejudica nenhum setor”, afirma Abdouni.

Dentre as empresas da bolsa de valores que administram shoppings centers, apenas a Aliansce (ALSO3) performou melhor no comparativo entre os terceiros trimestres de 2021 e 2019. Já brMalls (BRML3) e Multiplan (MULT3) apresentaram uma leve queda no comparativo:

Empresa Ticker Faturamento no terceiro trimestre de 2019 Faturamento no terceiro trimestre de 2021 Variação
Aliansce Sonae ALSO3 R$ 200 milhões R$ 239 milhões +19%
brMalls BRML3 R$ 314 milhões R$ 291 milhões -7%
Multiplan MULT3 R$ 323 milhões R$ 317 milhões -2%

Alexsandro Nishimura, economista, head de conteúdo e sócio da BRA, acredita que as administradoras de shoppings devem trazer resultados positivos nos próximos balanços, reflexo da maior circulação das pessoas advindas da vacinação em massa e a maior flexibilização das restrições. 

Porém, enquanto a reabertura avança e alivia a vida do varejo, outro movimento mexe de forma negativa com as empresas do consumo doméstico: a alta nas taxas de juros.

Em março de 2021, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) voltou a aumentar a taxa básica de juros, a Selic, de 2% para 2,75%, a primeira alta em seis anos. De lá pra cá, a taxa subiu em todas as reuniões do comitê e já atinge o nível de 10,75%.

“Apesar da reabertura, essas taxas de juros mais altas afetam bastante o varejo. Com isso, espero um cenário futuro de deteriorização, principalmente no e-commerce. Essa alta acaba tirando o poder de compra, o que pode impactar ações”, diz Abdouni, da Inversa.

Empresas de saúde

Quando se fala em pandemia, as atenções também se voltam para as empresas de saúde, uma vez que grande parte da população passou a utilizar seus serviços em razão da Covid-19.

Por mais que a demanda pelos serviços médicos tenha aumentado, as empresas de saúde acabaram sendo prejudicadas, pois a pandemia gera uma postergação de procedimentos mais complexos, como cirurgias, que resultam em mais receita, enquanto as internações de Covid-19 rendem menos.

Ainda assim, as empresas atingiram resultados positivos no comparativo entre 2019 e 2021. A HapVida (HAPV3), por exemplo, apresentou um aumento de 71% no faturamento entre o terceiro trimestre de 2019 e o mesmo período de 2021, passando de R$ 1,49 bilhão para R$ 2,55 bilhões.

Além disso, viu suas ações crescerem no período, atingindo a máxima histórica de R$ 18,46 por papel em janeiro de 2021. Depois, chegou a cair, valendo atualmente R$ 12,6, mas ainda em alta de 34% em relação ao início da pandemia.

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

O caso da Rede D’Or (RDOR3) é parecido. O faturamento passou de R$ 3,92 bilhões para R$ 5,30 bilhões no comparativo, um aumento de 35%.

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

João Abdouni, da Inversa, vê as empresas de saúde com um bom valuation e bem precificadas na bolsa. “A sensação que eu tenho é que os ganhos dessas empresas com a Covid já é marginal. Acredito que elas já capturaram tudo que havia para capturar, e aos poucos vamos voltando para a normalidade. Nossa expectativa é que, para essas empresas precificadas, os resultados daqui para frente não devem agradar tanto o mercado”, afirma.

Já no caso das empresas de farmácia,”as perspectivas do mercado também apontam que as farmácias podem demonstrar sólidos resultados, se beneficiando da demanda mais forte por medicamentos e testes, reflexo do espalhamento da Ômicron e Influenza (H3N2)”, afirma Alexsandro Nishimura, da BRA.

Nishimura acredita também que para os resultados que estão por vir nos balanços do quarto trimestre de 2021 e no primeiro de 2022, a onda da variante Ômicron deve se refletir sobre as empresas mais dependentes da circulação das pessoas, com destaque para turismo e aéreas que ainda não recuperaram os níveis pré-pandemia, mas vinham em gradativa restauração do fluxo. 

¹Sobre o levantamento

O levantamento foi realizado pela equipe de tecnologia do TradeMap, e considerou todas as empresas da Bolsa de valores que apresentaram resultados relativos aos terceiros trimestres de 2019, 2020 e 2021. O comparativo já retira os efeitos da inflação no período. Foram excluídos os bancos e instituições que ainda não estavam na bolsa, ou não informaram seus resultados em algum dos períodos. No total, a tabela contou com 238 empresas.

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