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Consumidor apela para rotativo e parcelado do cartão e isso é um mau sinal para a inadimplência

Consumidor está mais endividado do que em 2016, último ciclo de aumento da inadimplência

Foto: Shutterstock

A inadimplência da pessoa física ficou estável em setembro, mas um olhar mais atento aos números do crédito no Brasil mostra uma deterioração na qualidade dos empréstimos: há maior inadimplência no parcelado do cartão e um maior uso das linhas de rotativo.

A inadimplência (atrasos acima de 90 dias) para as pessoas físicas ficou em 3,7% em setembro, uma estabilidade na comparação com agosto e alta de 0,7 ponto percentual em relação a igual mês de 2021.

A estabilidade, no entanto, é uma boa notícia apenas parcialmente.

Que o brasileiro já vinha recorrendo a linhas mais caras de crédito, como cheque especial e parcelado do cartão já se sabia. Mas se no geral a inadimplência se estabilizou em setembro, a má notícia é que nessas linhas a piora continua.

No caso do especial,  a taxa de inadimplência está em 12,6%, com alta de 0,1 ponto no mês e de 1,1 ponto percentual em 12 meses.

Aumento maior teve o parcelado do cartão de crédito, em que a inadimplência estava em 6,9% em setembro, alta de 0,6 ponto na comparação com agosto e de 1,3 ponto em relação a setembro de 2021. Essa é a linha em que o cliente opta por parcelar o valor da fatura.

A inadimplência total do cartão de crédito, o que inclui fatura à vista e rotativo, está em 7,6%, alta de 0,4 ponto no mês e de 3 pontos percentuais em 12 meses.

Pedro Serra, analista da Ativa Investimentos, avalia que mesmo que a inadimplência no geral dê sinais de melhora, as famílias ainda estão com endividamento elevado, o que compromete a qualidade dos pagamentos.

“Essa é a diferença da inadimplência registrada em 2016 com o que ocorre agora. É um problema mais demorado para se resolver”, diz.

Em 2016, a taxa de inadimplência da pessoa física chegou a 6% e endividamento das famílias não ultrapassou os 40%. Atualmente, está em 52,9%, o que significa dizer que 52,9% da renda das famílias está comprometida com dívidas em um período de 12 meses.

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Esse endividamento decorre do cenário macroeconômico, como juros elevados e inflação de alimentos. Para arcar com os compromissos financeiro, o consumidor acabar recorrendo mais ao crédito.

A carteira de crédito do cheque especial subiu 1,6% no mês e 28,6% em 12 meses. O avanço é ainda maior nas modalidades do cartão de crédito. O saldo do parcelo subiu 3,2% e do rotativo, 5,8%. Na comparação de setembro contra setembro de 2021, a alta é ainda mais expressiva, 52,4% e 75,8%, respectivamente.

O problema é que o cartão e o cheque especial são as linhas acionadas facilmente – basta utilizar -, mas também são as mais caras. Quando passam a ser usadas de forma rotineira, o efeito é danoso às contas pessoais devido aos juros elevados – que causam um efeito bola de neve na dívida.

O cheque especial tem uma taxa de 134,6% ao ano (o equivalente a 7,4% ao mês) e o parcelado do cartão, 184,9% (9,1% ao mês).  A taxa básica da economia, a Selic, é de 13,75% ao ano.

Ação dos bancos

Um aumento da inadimplência significa menos resultado para os bancos. No entanto, Serra lembra que o nível de atrasos atinge as instituições financeiras de forma diferente.

Cada uma sente os atrasos, que exigem maiores despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD), de acordo com o perfil da carteira de crédito total.

No contexto atual, se sai pior os bancos com maior presença no crédito ao consumo. Isso já foi visto no Santander (SANB11). A inadimplência do banco ficou em 2,9% no terceiro trimestre, uma alta de 0,1 na comparação com o trimestre anterior. No entanto, a PDD somou R$ 6,2 bilhões, alta de 8,1%.

“Isso nos dá uma sinalização ruim par o Bradesco (BBDC3, BBDC4), que outro banco muito ligado à pessoa física”, complementa.

Já Itaú (ITUB3, ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) tendem a sofrer menos com a deterioração da carteira de crédito por estarem mais concentrados em linhas de menor risco – o BB, por exemplo, tem uma forte presença no agronegócio.

O lado do “copo meio cheio” é que no caso da pessoa física, as operações são de prazo mais curto, o que permite que os bancos “limpem” mais rápido a carteira.

Os bancos adotam ainda medidas para fazer esse controle de forma mais rápida. Entre as ações está dificultar o acesso ao crédito, como exigir maiores entradas ou reduzir os limites.

Para Serra, a inadimplência no sistema deve apresentar sinais de deterioração até o final do quarto.

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