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‘Ações americanas se tornaram fichas de pôquer’, diz Buffett; veja recomendações

Oráculo de Omaha se reuniu com investidores na tradicional assembleia da Berkshire

Foto: Shutterstock

Volatilidade, bolsas em clima de cassino e, em meio a isso tudo, boas oportunidades de longo prazo. Essa foi a mensagem passada pelo megainvestidor Warren Buffett neste sábado (30) quando, após dois anos sem realizar a tradicional assembleia de acionistas da Berkshire Hathaway (BERK34) presencialmente, voltou a se encontrar com os investidores em Omaha, no estado de Nebraska.

Aos 91 anos, Buffett e seu sócio Charlie Munger, 98, não parecem dispostos a deixar o comando do conglomerado tão cedo, e têm aproveitado a montanha-russa do mercado para olhar novas aquisições, em um momento em que as ações de grandes empresas americanas na bolsa se tornaram “fichas de pôquer”, na avaliação do oráculo de Omaha.

Em uma conversa com uma plateia lotada de investidores, no tradicional evento que o megainvestidor apelidou de “Woodstock Capitalista”, Buffett e seu sócio há mais de 50 anos responderam a perguntas sobre as novas aquisições, que voltaram a acelerar neste ano depois de um período de fracas atividades na pandemia, e sobre sucessão.

Compartilharam ainda ensinamentos sobre a estratégia de value investing, que a companhia vem seguindo desde que foi comprada por Buffett em 1965 –a estratégia visa adquirir papeis de empresas com potencial de crescimento no longo prazo e que estão com preços descontados.

A assembleia da Berkshire não é um simples encontro com acionistas: é praticamente uma exposição, com vários estandes de empresas importantes para o portfólio da companhia, como a tradicional See’s Candies, fabricante de doces cujas caixas de barras de amendoim com chocolate ficam espalhadas na mesa de Buffett e outros executivos durante a assembleia.

A companhia reportou um lucro de US$ 5,5 bilhões no primeiro trimestre, queda de 53% em relação aos US$ 11,7 bilhões registrados no mesmo período do ano passado. O resultado foi afetado pela desvalorização das ações em portfólio, segundo balanço divulgado hoje.

Já o lucro operacional, que exclui os ganhos ou perdas com a posição da companhia em ações, somou US$ 7 bilhões, um aumento de menos de 1% no período.

Sucessão e cultura corporativa

Buffett e Munger se saíram vitoriosos em dois pontos propostos por acionistas da Berkshire: a remoção do megainvestidor da presidência do conselho e a cobrança de posicionamento da companhia em relação a investimentos ESG (que levam em conta questões ambientais, sociais e de governança), com a publicação de um relatório sobre riscos climáticos. Ambos os pontos foram rejeitados na assembleia.

A proposta de remover o megainvestidor do comando do conselho foi feita por acionistas ligados à organização National Legal and Policy Center, que argumentam que uma única pessoa ocupar os dois cargos enfraquece a governança corporativa da companhia.

Munger, que é  o atual vice-presidente e companheiro de negócios de Buffett desde 1965, foi direto em relação a esse ponto: “É a crítica mais ridícula que já ouvi”. Ele comparou a acusação com uma situação hipotética em que o antigo herói grego Odisseu voltasse para casa apenas para ser informado por alguém de que não gostou do jeito que ele estava segurando a lança quando venceu a batalha.

Falando sobre sucessão, Buffett disse que a empresa seria capaz de preservar sua cultura depois de ele sair de cena. “Nós temos a nossa cultura corporativa, e ela vai ser a mesma daqui a muitos anos”, disse. “A Berkshire foi construída para durar para sempre”, completou. “As pessoas confiam em nós”, disse.

Buffett destacou que busca contratar pessoas alinhadas com a cultura da empresa e que isso tem funcionado bem.

Menos recompras, e mais ações novas

Depois de recomprar US$ 51,7 bilhões das próprias ações nos últimos dois anos, a Berkshire reduziu o ritmo de recompras e voltou a olhar a aquisições.

A companhia fez recompras de US$ 3,2 bilhões no primeiro trimestre, queda em relação aos US$ 6,9 bilhões recomprados no quarto trimestre, segundo documento registrado junto à SEC na sexta-feira (29). “Se você fizer isso pelo preço certo, não há nada melhor do que recomprar parte do seu próprio negócio”, disse Buffett.

Na carta de fevereiro, Buffett tinha dito que as baixas taxas de juros tinham inflado o preço dos ativos e reduzido as oportunidades de compras de novos negócios. O megainvestidor, conhecido como “oráculo de Omaha”, disse que recompras “só devem ser feitas a um preço atraente”.

Em compensação, entre compras e vendas a companhia investiu US$ 41,4 bilhões em ações de outras empresas entre janeiro a março.

Entre as aquisições mais relevantes, estão as compras de participação societária na Occidental Petroleum (OXYP34), aumentando a posição na petroleira para 14,6%; o investimento de US$ 4,2 bilhões na fabricante de notebooks e eletrônicos HP (HPQB34), passando a deter 11,5% da empresa, além da aquisição da seguradora Alleghany, por US$ 11,6 bilhões.

A Berkshire ainda fez uma aquisição relevante, de cerca de US$ 21 bilhões, em ações da petroleira Chevron (CHVX34), passando a deter uma posição de US$ 26 bilhões em março, ao mesmo tempo em que aumentou a posição em ações da Apple (AAPL34), que representam a maior posição da sua carteira, 43,9% em março (a companhia passou a deter 5,6% do capital da empresa).

Fichas de pôquer

Buffet ainda disse que a empresa vem aumentando a participação na holding de games Activision Blizzard, apostando que a proposta de aquisição da companhia pela Microsoft (MSFT34), anunciada em janeiro, será fechada.

Amigo de Bill Gates, que estava presente no evento, o megainvestidor garantiu que não sabia da transação quando comprou US$ 1 bilhão em ações da companhia no final do ano passado –a Berkshire agora detém 9,5% da empresa de games, cujas ações ainda são negociadas a US$ 75, abaixo dos US$ 95 por ação propostos pela Microsoft.

Para Buffett, as grandes empresas dos EUA se tornaram “fichas de pôquer”, com pessoas comprando e vendendo opções de compra –os corretores, apontou, ganham mais dinheiro com essas apostas do que com um simples investimento.

Munger reforçou a colocação, ao dizer que o mercado de ações se tornou um “cassino”. “Temos pessoas que não sabem nada sobre ações sendo aconselhadas por corretores da bolsa que sabem menos ainda”, disse ele, que também fez críticas ao modelo de remuneração da corretora Robinhood, que não cobra corretagem.

Buffett disse ainda que a volatilidade de curto prazo no início deste ano, que para ele foi alimentada pela “mentalidade de apostas”, permitiu que encontrasse boas oportunidades de longo prazo no mercado.

A companhia detinha uma posição recorde de US$ 390,5 bilhões na carteira de ações em março, um aumento de US$ 40 bilhões em relação a dezembro.

Aposta em petróleo

Um dos setores no qual a Berkshire mais aumentou a posição no primeiro trimestre foi em petróleo. Buffett contou que comprou 14% da Occidental Petroleum, um negócio que existe há décadas, em apenas duas semanas. “Lemos o balanço anual e achamos que fazia sentido”, disse sobre a empresa.

“Deveríamos estar muito felizes por podermos produzir nos Estados Unidos 11 milhões de barris por dia, ou algo do tipo, em vez de não poder produzir nenhum e ter que encontrar 11 milhões de barris por dia em algum outro lugar do mundo para manter a indústria americana funcionando.”

Munger disse, a despeito das críticas, ele gosta do investimento no setor e acha que faz sentido os EUA investirem em reservas de petróleo.

Caixa robusto

Apesar do saldo de compras de US$ 41,4 bilhões em ações no primeiro trimestre, a Berkshire ainda manteve um caixa robusto para investimentos, que totalizava US$ 106 bilhões em março. “Sempre temos caixa na mão”, disse Buffett. “Caixa é como oxigênio”.

Buffett disse que a empresa sempre tem caixa para aproveitar as oportunidades no mercado e para tempos de necessidade, lembrando a crise de 2008.

Ironizando os banqueiros, Buffett disse que a Berkshire pode ser uma opção melhor que os bancos, como fonte de linhas de crédito para as empresas em tempos de necessidade.

Bitcoin não é uma boa opção para aposentadoria

Ao dar um conselho para uma jovem investidora, Munger disse para não investir em Bitcoin. “Se você tem sua própria conta de aposentadoria e o seu consultor amigável sugerir que você gaste dinheiro em Bitcoin, apenas diga não”, disse.

Ele ainda reforçou sua posição contra a criptomoeda mais tarde, ao dizer que “Bitcoin é estúpido porque prejudica a integridade do sistema financeiro.

Buffett reforçou a posição, ao dizer que mesmo que os preços caiam ele não investe na criptomoeda, porque ela “não produz nada”.

Munger ainda disse que prefere comprar ações a colocar o dinheiro em títulos do Tesouro americano (Treasuries). O sócio de Buffett também investe na China, apesar de reconhecer que os riscos políticos aumentaram.

Bons negócios, e não timing de mercado

Para Buffett, um dos melhores conselhos é procurar bons negócios, em vez de tentar acertar o timing do mercado. “Não temos a menor ideia do que o mercado de ações vai fazer quando abrir na segunda-feira – nunca temos”, disse Buffett.

“Acho que nunca tomamos uma decisão em que qualquer um de nós tenha dito ou pensado: ‘Devemos comprar ou vender com base no que o mercado fará”, afirmou Buffett. Munger complementou: “Ou, por falar nisso, no que a economia vai fazer”, referindo-se à estratégia da empresa de value investing.

Nesse sentido, Buffett comentou: “Se eu tivesse algum senso de ‘timing’, eu teria comprado ações em março de 2020”, apontou, referindo-se ao momento em que a pandemia de Covid-19 começou a se espalhar.

Por que os comentário de Buffett são importantes?

Ao construir um império de investimentos em empresas ao longo de mais de 50 anos, a Berkshire Hathaway vale hoje US$ 733 bilhões na bolsa americana, mais que a Meta de Mark Zuckerberg, cotada a US$ 559 bilhões em valor de mercado. Ela se tornou a única companhia não ligada a tecnologia na lista das dez empresas de capital aberto mais valiosas dos EUA.

Neste ano, até 29 de abril, a ação da gigante de investimentos acumula alta de 9%, contra queda de 11,73% do S&P 500. De 1965 até agora, a Berkshire teve retorno médio anual de 20,5%, quase dez pontos a mais que o S&P.

Os recibos de ações da Berkshire negociados na B3 (BDRs, como são conhecidos os Brazilian Depositary Receipts) acumulam queda de 2,67% neste ano até 29 de abril, recuo em grande parte gerado pela valorização do real frente ao dólar no ano.

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