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Volta às origens: O que será dos jogos online baseados em criptos após crise do mercado

Criptos em queda, derretimento de tokens e economia de pirâmide afugentaram usuários dos chamados jogos play-to-earn

Foto: Shutterstock

A disparada das criptos em 2021 gerou um frenesi pelo potencial de transformação nos mais diversos campos de investimentos com o emprego de blockchain, desde o mercado de artes, com os NFTs (tokens não fungíveis), até a construção de mundos paralelos por meio do chamado metaverso.

Nos jogos não foi diferente. Se antes as pessoas se sentavam em frente de uma tela para se divertir ou competir com os amigos, o adendo da nova tecnologia passou a permitir ganhar dinheiro enquanto se joga- desde que se pague para ter acesso à plataforma. O preço não segue um padrão e varia conforme a demanda de investidores, mas em alguns casos pode chegar até US$ 5 mil.

De forma resumida, este é o conceito dos jogos play-to-earn (jogar para ganhar), também conhecidos pela sigla P2E ou como GameFi.

Os usuários precisam comprar um NFT ou uma criptomoeda criada pela própria plataforma para entrar no jogo e cumprir missões e/ou interagir com os outros usuários. Essas tarefas geram recompensas, também em ativos digitais, que podem ser convertidas em “dinheiro de verdade” nas plataformas de negociação de criptoativos. 

A crise no mercado cripto no primeiro semestre do ano, porém, mudou esse cenário e mostrou que o sistema econômico por trás das plataformas P2E são insustentáveis, segundo analistas do mercado cripto ouvidos pela Agência TradeMap.

Os especialistas afirmam que, a partir de agora, as plataformas devem se reestruturar para oferecer novos incentivos, como jogos mais divertidos e sem o foco na geração de dinheiro, aos usuários.

Os números do Axie Infinity, um jogo de cartas que se assemelha à temática do clássico Pokémon e principal nome do P2E, evidenciam bem a problemática. A cripto SLP, usada para recompensas no jogo, teve o seu valor zerado após bater pico de US$ 0,36 em maio do ano passado.

O exemplo se repete em outras plataformas. A JEWEL, token usada no jogo DeFi Kingdoms, perdeu mais de 99% do seu valor desde a máxima de US$ 21,26, alcançada em janeiro.

A desvalorização dos ativos anda em paralelo com a debandada de usuários da plataforma. Em janeiro, o número de usuários mensais do Axie Infinity era de 2,78 milhões, ante 766 mil em julho –  o mais baixo desde janeiro de 2021 -, segundo dados da ActivePlayer, plataforma que reúne dados sobre a indústria de jogos.

Esquema de pirâmide

Para analistas do mercado cripto, a queda do sistema é reflexo de falhas nas estruturas de recompensa. No caso do Axie Infinity, a emissão do SLP era infinita, ou seja, não havia um caráter de escassez para sustentar o preço dos ativos.

A soma da entrada massiva de jogadores e o excesso de tokens distribuídos resultou no colapso da economia do jogo, criando uma forma de pirâmide financeira digital para se sustentar.

Se antes o investimento era recuperado com alguns dias ou semanas cumprindo missões, com o passar do tempo o valor de entrada parou de compensar, já que o montante não era mais recuperado com as recompensas, culminando com a perda de interesse de novos usuários.

“A grande questão é que o ganho não vinha da valorização do jogo, mas de jogadores que vendiam os tokens para quem está entrando, e uma hora esse modelo se esgota”, afirma Felipe Medeiros, analista de criptomoedas e sócio da Quantzed Criptos.

A visão é embasada por Justin Kan, fundador da plataforma de streaming de jogos Twitch, vendida para a Amazon por quase de US$ 1 bilhão. Em entrevista à TechCrunch no início deste mês, Kan disse que o modelo não tem base para manter a atração aos usuários.

Play-to-earn foi associado a pessoas que estão fazendo esse tipo de trabalho rotineiro e servil em países do terceiro mundo ou países em desenvolvimento. Particularmente não acredito que o modelo seja sustentável, então penso que esse interesse diminuirá”, diz.

Erros de iniciante

Também apontando a economia de pirâmide e inflacionária das plataformas como o grande fator que derrubou o mercado ao longo do primeiro semestre, Lucas Passarini, especialista de criptoativos do Mercado Bitcoin, ressalta que o ecossistema do P2E ainda é incipiente, e que falhas deste tipo são esperadas.

O movimento foi reforçado pela queda generalizada do mercado no primeiro semestre, período chamado de “inverno cripto”, com o Bitcoin (BTC) perdendo mais da metade do seu valor. Com as desvalorizações, investidores fugiram de ativos mais arriscados dentro do universo já bastante volátil.

“Quando a indústria sofre com liquidez, é natural que esses ambientes mais novos e sem histórico sofram muito mais”, ressalta Passarini.

Confiante de que os jogos vão retomar o protagonismo no próximo ciclo de alta do mercado cripto, esperado para 2024, o especialista ressalta que a problemática deve ser consertada nos projetos que ainda estão em desenvolvimento.

“O conceito do P2E deu certo, o que não se sustentou foram os preços. Mas nem sempre essa questão reflete o sucesso de uma plataforma”, afirma. “O desafio é criar uma utilidade para esses tokens, como usar para a compra de mais NFTs ou liberar acesso a novos níveis dos jogos.”

Jogos mais divertidos

Além do desenvolvimento de novas políticas para incentivar a volta dos jogadores com tokens estabilizados, os especialistas do mercado cripto ressaltam a necessidade de as plataformas apresentarem melhores condições de jogabilidade.

A proposta é criar modelos que incentivem os jogadores a permanecerem nas plataformas, além da possibilidade de lucrarem cumprindo missões ou interagindo com os outros usuários. Em resumo, o modelo P2E deve voltar às origens da indústria de jogos: oferecer uma plataforma para diversão.

“O modelo play-to-earn tende a mudar. Vão precisar criar jogos divertidos, e dentro desse ambiente o usuário ter a propriedade do item, mas sem a emissão muito grande de recompensas a ponto de valer a pena para jogar e apenas ganhar dinheiro”, explica Medeiros.

Apesar de destacar que os novos projetos estão mais com promessas do que entregas, Passarini se mostra confiante de que os erros cometidos neste início da indústria vão servir de base para transformações positivas dos próximos jogos.

“É notória a atração para o público que os jogos geraram. Vai acontecer uma união, mas é preciso resolver a questão da jogabilidade, que é fazer um jogo legal, e não apenas algo para investimentos”, afirma.

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